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O tráfico de pessoas

Lucila Cano

31/07/2015 06h00

O Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, lembrado em 30 de julho, motivou a criação da Semana Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, iniciada na segunda (27).

Antes disso, o assunto já movimentava o noticiário e não por pouca coisa: armas, drogas e pessoas são as três modalidades de tráfico que respondem pelas fortunas do crime organizado em todo o mundo.

Há uma urgência pela conscientização e mobilização de todos. O tráfico de pessoas ocorre em todos os lugares, atinge principalmente mulheres, crianças e adolescentes e se ramifica em exploração sexual, trabalho escravo e comercialização de órgãos humanos.

O medo da truculência dos criminosos cala as vítimas e pessoas próximas a elas. Com a falta de denúncias, os números são sempre estimados. A estimativa mais recente, divulgada pela ONG 27 Million, indica que cerca de 35,8 milhões de pessoas se encontram em situação de tráfico no mundo, de acordo com o relatório Global Slavery Index 2014, produzido pela Walk Free Foundation.

Campanhas

Em dezembro de 2014, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) apresentou em Brasília o Relatório Global sobre o Tráfico de Pessoas. Entre outras informações, o documento revelou que a cada três vítimas, uma era criança e que meninas eram duas de cada três crianças vitimadas. Em conjunto com as mulheres, elas representavam, então, 70% das vítimas do tráfico total no mundo inteiro.

A cantora Ivete Sangalo, Embaixadora da Boa Vontade da UNODC e a Campanha Coração Azul contra o Tráfico de Pessoas integram os esforços de comunicação da ONU, governos e organizações não governamentais para esclarecer e alertar a população sobre a importância do tema.

A campanha Coração Azul é de abrangência internacional, está nas redes sociais e incentivou a iluminação azulada na fachada de muitos edifícios em diferentes localidades do Brasil e do mundo durante a Semana do Enfrentamento.

A ONG 27 Million, que no Brasil representa a Organização Stop The Traffik, coordena por aqui o Movimento GIFTBox. Na segunda-feira (27), ela colocou uma grande caixa de presente na frente do Theatro Municipal de São Paulo. Usou a parte externa da caixa para despertar a curiosidade dos transeuntes com frases tais como “viaje pelo mundo e ganhe bom dinheiro” e “dê à sua família um futuro melhor”. Mas, ao adentrarem a caixa, as pessoas encontram relatos de vítimas que foram traficadas e escravizadas.

A ação prevista para atrair o público de São Paulo durante toda a Semana do Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas também presenteou a cidade de Goiânia com outra GIFTBox.

Os alvos

Como a exploração sexual de mulheres traficadas do Brasil para o exterior é a prática criminosa que mais mereceu atenção dos meios de comunicação, inclusive da dramaturgia televisiva, outras violações dos direitos humanos não são lembradas de imediato. Uma delas é o trabalho escravo que, além de atingir crianças, também se volta para os grupos de refugiados que buscam abrigo e oportunidades de emprego fora dos seus países de origem.

As regiões de fronteira entre países e as portas de entrada e saída, como aeroportos e portos, bem como os “eldorados” que atraem migrantes de um lado para outro dentro de um mesmo país, são terrenos férteis para a ação do tráfico de pessoas.

As vítimas iludidas por promessas de uma vida melhor têm características em comum como a pobreza, a desigualdade social e a fuga da perseguição étnica ou religiosa.

A vulnerabilidade desses seres humanos faz com que sejam presas fáceis do tráfico. Por isso, a urgência deste assunto em tempo integral a partir de um esforço conjunto de governos, empresas e sociedade civil.

Um problema desta ordem depende de cooperação internacional, revisão de leis, aperfeiçoamento de técnicas e sistemas de prevenção do crime e muita coisa mais. Eis aí um desafio do qual nenhum país pode escapar.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.