Proibição de celulares em escolas de São Paulo entra em discussão na Alesp

A proibição do uso de celulares e outras telas em escolas públicas e privadas do estado de São Paulo deve começar a ser discutida nos próximos dias pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). A medida foi proposta em um projeto de lei protocolado esta semana pela deputada estadual Marina Helou (Rede).

O que aconteceu

Texto proíbe uso de aparelhos com acesso à internet por alunos em escolas. O projeto prevê que os colégios tenham um espaço para armazenar os dispositivos, já que os estudantes não devem ter "a possibilidade de acessá-los durante o período das aulas". Proposta foi protocolada na última segunda (29).

Ideia é que proibição valha para "todo o horário escolar". Isso inclui intervalos entre aulas, período de recreio e eventuais atividades extracurriculares. Em compensação, o texto propõe que "canais acessíveis para a comunicação entre pais, responsáveis e a instituição de ensino" sejam criados pelas escolas.

Projeto de lei prevê duas situações de uso permitido. Segundo a proposta, celulares poderão ser utilizados para suprir "necessidade pedagógica para utilização de conteúdos digitais ou ferramentas educacionais específicas" e para atender "alunos com deficiência que requerem auxílios tecnológicos específicos".

Antes de ser aprovado, texto será submetido a comissões da Alesp. A intenção da deputada estadual Marina Helou é que projeto seja analisado pelas comissões de Constituição e Justiça, de Educação e Cultura e de Finanças, Orçamento e Planejamento para ganhar legitimidade dentro da casa e ampliar o debate sobre o tema até a votação.

Para ser aprovada, a proposta precisa de 48 votos favoráveis - a Alesp possui 94 deputados estaduais. Ainda não há previsão de quando o texto será votado em plenário. Marina acredita que o projeto pode enfrentar resistências, mas conta com a mobilização da opinião pública para aprová-lo.

Não é um projeto contra a tecnologia, mas que leva em conta que o uso exagerado desses aparelhos é elemento de distração e que, principalmente, gera prejuízo ao desenvolvimento individual, desempenho escolar e sociabilização dos alunos -- além de também terem efeitos negativos para a saúde mental dos estudantes
Marina Helou (Rede), deputada estadual

Secretário de educação do estado defende tecnologia nas escolas. Em seus primeiros oito meses de gestão, Renato Feder determinou o uso de sete aplicativos diferentes pelos alunos da rede estadual. Ele também já afirmou que o uso de celular e a realidade das escolas são questões que acontecem em "universos separados".

Restrições impostas

Escolas estaduais paulistas já têm restrições para celular. Desde 2023, os alunos não conseguem acessar redes sociais e apps de streaming por meio das redes sem fio das escolas a que têm acesso. Em fevereiro, a proibição foi ampliada às redes wi-fi das escolas acessadas por professores e demais funcionários.

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Uso de celulares é proibido em escolas públicas da cidade do Rio desde março. O decreto da Secretaria Municipal da Educação carioca estabelece que os dispositivos só poderão ser usados antes da primeira aula e após a última, à exceção de casos especiais. No restante do tempo, devem ficar na mochila.

Proposta cita pesquisas internacionais

Uso de celular em sala de aula pode prejudicar a aprendizagem, diz Unesco. Um estudo liderado pelo órgão com alunos de 14 países indicou que só a presença de aparelho por perto já é fator de distração para estudantes, que levam cerca de 20 minutos para recuperar o foco após consultarem o dispositivo.

Banimento de smartphones em escolas teve efeito positivo na Bélgica, Espanha e Reino Unido, aponta estudo. O levantamento da Unesco destaca que a melhora foi especialmente relevante para alunos que não iam tão bem quanto seus colegas nas atividades escolares.

Livro aponta que usar celular em sala de aula interfere no desenvolvimento social e neurológico de mais de 10 formas diferentes. Citado por Marina na justificativa do projeto, a obra "The Anxious Generation", do psicólogo Jonathan Haidt, indica ainda que o dano é maior para meninas do que para meninos.

Impactos vão de privação de sono à redução da capacidade de concentração. Dependência eletrônica, solidão e perfeccionismo são outros efeitos colaterais apontados por Haidt em seu estudo.

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Estudo apontou que oito em cada 10 alunos brasileiros de 15 anos se distraem com celulares durante aulas de matemática. Principal avaliação de educação mundial, o Pisa 2023 indicou que o uso de celular durante a aula prejudicou o desempenho dos estudantes e que a proibição do uso nem sempre é eficaz.

Mais da metade do jovens brasileiros com idade entre 10 e 13 anos têm celular. De acordo com levantamento do IBGE, grupo representava 54,8% do total em 2022 e cresceu em relação a 2021 (51,4%) e 2016 (39,3%). Segundo a pesquisa, 160,4 milhões de brasileiros tinham celular à época — 86,5% da população do país.

Brasileiros gastaram, em média, 3,5 horas por dia com uso de celular em 2023. Dado consta em relatório Análise Mobile 2024, da startup Rocket Lab.

A revolução digital tem potencial incomensurável. Mas, à medida que alertas têm sido dados sobre como ela deve ser regulada em nossa sociedade, atenção similar deve ser dispensada à forma como ela é impacta a educação.
Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, em relatório sobre o tema

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