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Bactérias (2) - Estrutura, modo de vida e classificação

Maria Graciete Carramate Lopes

Os seres vivos procarióticos, que fazem parte do Reino Monera, são aqueles cujas células não apresentam carioteca, membrana que, nas células da maioria dos seres vivos, separa o material genético do restante do citoplasma.

Entre os procarióticos, encontramos as bactérias, bastante conhecidas por nos causarem doenças, mas que apresentam também muitas utilidades para o ser humano.

As bactérias são organismos unicelulares que, em geral, medem de 0,2 a 1,5 µm e podem viver isoladamente ou formando agrupamentos, habitando os mais diversos ambientes - da água do mar ao lodo de lagos, do solo ao interior dos seres vivos.

A célula bacteriana é composta por membrana celular e citoplasma, onde, além do cromossomo bacteriano, são encontrados ribossomos e alguns plasmídios, fragmentos de cromossomos com genes que podem determinar maior resistência a fatores externos como antibióticos, por exemplo.

O cromossomo bacteriano, circular, encontra-se numa região da célula à qual se dá o nome de nucleóide. A membrana celular, por sua vez, pode ser revestida pela parede celular, uma estrutura rígida que, em geral, é composta por peptidioglicanos e que confere à bactéria proteção contra fatores externos e determina sua forma.

A parede celular pode, ainda, estar revestida por uma cápsula gelatinosa, constituída de polissacarídeos e/ou proteínas; e algumas bactérias apresentam filamentos protéicos longos (flagelos) ou curtos (cerdas ou fímbrias):

 

  • Estrutura e diferentes formas de células bacterianas isoladas ou agrupadas.

Reprodução

As bactérias apresentam reprodução assexuada por bipartição. No entanto, é possível encontrarmos formas de recombinação genética entre as bactérias.

Uma dessas formas é a conjugação, em que uma bactéria doadora de DNA transfere, através de uma estrutura chamada pili, um plasmídio para a bactéria receptora, que pode incorporá-lo ao seu cromossomo, o que produz uma mistura genética.

Num outro processo, chamado transformação, as bactérias absorvem, diretamente do meio em que se encontram, fragmentos de DNA provenientes, por exemplo, de bactérias mortas e decompostas.

Por fim, os vírus bacteriófagos, ao se formarem no interior de bactérias infectadas, podem incorporar DNA bacteriano, transferindo-o ao infectar outra bactéria, num processo chamado de transdução.

Alimento

Se considerarmos a forma de obtenção de alimento, podemos classificar as bactérias em autotróficas e heterotróficas. Entre as autotróficas, existem as fotossintetizantes (ou fotoautotróficas) e as quimiossintetizantes (ou quimiautotróficas).

As primeiras são aquelas que utilizam a luz como fonte de energia para a síntese de compostos orgânicos. Algumas dessas bactérias, como as proclorófitas e as cianobactérias, realizam fotossíntese semelhante à das plantas e algas. Já as sulfobactérias realizam um tipo de fotossíntese em que o gás carbônico reage com o gás sulfídrico ao invés da água, produzindo enxofre elementar e não gás oxigênio.

Já para as bactérias quimiossintetizantes, a fonte de energia para a produção de seu alimento não é a luz solar. Elas utilizam a energia liberada em reações de oxidação de compostos inorgânicos. As bactérias dos gêneros Nitrosomonas e Nitrobacter, que vivem no solo e são bastante conhecidas por sua participação no ciclo do nitrogênio, por exemplo, obtêm energia pela oxidação de amônia e de nitrito respectivamente.

Entre as bactérias heterotróficas, encontram-se as saprofágicas e as parasitas. As primeiras obtêm alimento a partir de cadáveres e restos de seres vivos, enquanto as parasitas encontram esse alimento em tecidos de seres vivos, muitas vezes causando-lhes doenças.

Degradação de moléculas

Segundo a forma como degradam as moléculas orgânicas para a liberação de energia, as bactérias podem ser respiradoras ou fermentadoras.

Entre as bactérias respiradoras há as que realizam a respiração celular aeróbica, onde o gás oxigênio é o aceptor final de íons hidrogênio, e as que realizam a respiração celular anaeróbica, onde o gás oxigênio é substituído por outras moléculas, que funcionam como aceptores finais de hidrogênio, tais como nitratos ou sulfatos.

Na ausência de oxigênio, no entanto, outras bactérias, como Lactobacillus, Streptococcus, Escherichia, etc., realizam processos de fermentação láctica ou alcoólica.

Formas de classificar as bactérias

Podemos classificar as bactérias em três grandes grupos: as Gram-positivas, as Gram-negativas e os Micoplasmas. Essa classificação tem como critério a diferença na coloração das bactérias, obtida a partir do método de Gram, desenvolvido por Hans Christian Joachin Gram (microbiologista dinamarquês), em 1884.

Esse método utiliza dois corantes, um violeta e um rosa. Bactérias cuja parede celular é espessa retêm ambos os corantes e, ao microscópio, apresentam a coloração violeta, sendo chamadas de Gram-positivas, como, por exemplo, os Lactobacilos, as Baciláceas, os Actinomicetos, etc.

Já as bactérias que apresentam uma parede celular mais fina retêm apenas o corante rosa e apresentam essa coloração ao microscópio. São as Gram-negativas, como as Pseudomonadáceas, as Enterobactérias, etc.

Os micoplasmas são bactérias que não apresentam parede celular e são muito pequenas (entre 0,1 e 0,25 µm). Há espécies de vida livre, mas muitas são parasitas causadoras de doenças, como o Mycoplasma pneumoniae e o Mycoplasma genitalium, que causam, em seres humanos, uma forma de pneumonia e uretrite, respectivamente.

Este tipo de classificação apresenta vantagens do ponto de vista médico, já que bactérias Gram-positivas são mais sensíveis à ação da penicilina, enquanto as Gram-negativas, além de serem resistentes à penicilina, possuem componentes em sua parede celular que são tóxicos ao nosso organismo.

No entanto, as classificações mais modernas levam em consideração critérios evolutivos, estabelecendo relações de parentesco a partir da similaridade entre as sequências de DNA das diferentes espécies.

Até recentemente, considerava-se a divisão dos seres procarióticos em dois grupos: as arqueobactérias e as eubactérias. Entretanto, muitos cientistas têm argumentado que as diferenças genéticas entre as arqueobactérias e as eubactérias são muito grandes, e passaram a propor a divisão do Reino Monera em dois sub-reinos: as Arqueas e as Bactérias.

As arqueas diferem das bactérias por não possuírem peptidioglicanos na parede celular e são geneticamente mais próximas dos eucarióticos, os organismos que apresentam carioteca em suas células.

Nesse sub-reino encontram-se as halófitas, que habitam águas com alta concentração de sal, as termoacidófilas, que suportam altas temperaturas e grande acidez, vivendo, por exemplo, em fendas vulcânicas ou fontes termais ácidas, e as metanogênicas, que produzem metano e podem ser encontradas em pântanos e no tubo digestório de cupins e de animais herbívoros.