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Escolas de Manaus com quase 2.000 alunos matriculados fecham e ficam abandonadas

Banheiro da Escola Municipal Professor Heleno Nogueira dos Santos, localizada na zona leste de Manaus - Paula Litaiff/UOL
Banheiro da Escola Municipal Professor Heleno Nogueira dos Santos, localizada na zona leste de Manaus Imagem: Paula Litaiff/UOL

Paula Litaiff

Do UOL, em Manaus

21/08/2012 16h28Atualizada em 21/08/2012 18h30

Duas escolas públicas que abrigavam quase 2.000 alunos viraram prédios abandonados no Mauzinho, zona leste de Manaus. A área é conhecida pelos altos índices de criminalidade -- 20 assassinatos foram registrados no bairro nos últimos quatro meses. A qualidade da escola também preocupa: a Escola Municipal Professora Ana Maria de Souza Barros ficou com 2,7 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2011, enquanto a Escola Municipal Professor Heleno Nogueira dos Santos ficou com 3,4 nos anos iniciais (1º a 5º anos).

A média do Brasil nos anos iniciais foi 5,0.

“Aqui, infelizmente, muitas crianças ficam fora da escola e vão aprender com os bandidos a ler, escrever e fazer contas. Tudo isso para melhor servirem os traficantes”, afirmou o policial e professor Marcicley dos Santos Brandão, 41 anos

Desativada pela Semed (Secretaria Municipal de Educação) no início deste ano por sérios problemas na infraestrutura, a Escola Professor Heleno Nogueira funcionava em um prédio alugado. Segundo o Censo Escolar, há 965 estudantes matriculados na unidade.

No banheiro dos alunos, vasos sanitários quebrados e cheios de fezes se juntavam ao que restou do acervo da biblioteca da escola quando a reportagem visitou o local na última sexta-feira (17). Em todos os banheiros havia infiltrações e rachaduras nas paredes. Nas salas de aula, encontram-se restos de carteiras e partes que restaram das lousas. No teto da escola, fios descascados à vista mostram a precariedade da situação.

Os alunos, com idade entre 8 e 15 anos, serão transferidos para uma escola em outro bairro, o São José. Segundo os pais dos estudantes, eles gastarão 30 minutos de ônibus para chegar ao novo prédio. “Com toda essa violência, fica perigoso meu filho de dez anos pegar ônibus para estudar em outro bairro. O certo era que reformassem essa escola”, disse o comerciante David Araújo.

Ideb 2011: saiba quais são as melhores escolas públicas do país

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Aulas paradas

Já para os alunos da Escola Ana Maria de Souza Barros, que teve a nota 2,7 no Ideb e tem 1.026 estudantes, foi prometido pela prefeitura que as aulas serão retomadas ainda este ano no mesmo prédio. Atualmente, elas estão suspensas porque o local vai passar por manutenção elétrica. De acordo com a dona de casa Valdete Gomes de Araújo, 40, há mais problemas: caixas de esgotos transbordam dentro do prédio e alunos são obrigados a andar pelo local e respirar o forte odor que exala das fossas.  “Eu reclamei várias vezes sobre esse problema e nada foi feito”, disse.

Apesar dos problemas de infraestrutura e das centenas de alunos fora de sala de aula, não havia ninguém trabalhando na manutenção na escola nos últimos dias. “O local está abandonado. Nem vigilante existe para guardar o prédio”, afirmou a mãe de um dos alunos, a dona de casa Ana Lúcia Carvalho. Em visita ao local, foi possível ver crianças e adolescentes brincando perto das fossas entupidas.

Estímulo negativo

Para o cientista social Nícolas Gonçalves, os problemas de infraestrutura nas escolas da periferia atuam como verdadeiros estimuladores para a evasão escolar e desinteresse pelos estudos. “A vida é difícil em casa com as limitações financeiras e a desestrutura familiar torna o aluno da periferia mais vulnerável à evasão e se a escola não cria ferramentas para atraí-lo e fixá-lo na sala de aula, sempre teremos baixos índices na educação do Brasil”, explicou.

Gonçalves disse ainda que já ficou provado que o aumento da criminalidade entre crianças e adolescentes está ligado diretamente à baixa escolaridade e à falta de oportunidades profissionais. “Sem escola boa, o aluno fica fora de sala de aula e se torna uma presa fácil para traficantes que sempre estão recrutando ‘soldados’ para compor seus grupos”, observou o cientista.

Outro lado

Em nota, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que desistiu do prédio onde funcionava a Escola Professor Heleno Nogueira, em março deste ano, por conta das péssimas condições do local e nessa mesma época retirou todo o material que era patrimônio da escola. De acordo com a secretaria, os alunos dessa escola serão transferidos para outra unidade de ensino, na próxima semana.

Quanto à Escola Municipal Professora Ana Maria de Souza Barros, a Semed declarou que realizou um laudo técnico, em junho deste ano, no prédio e chegou à conclusão que a escola precisava de manutenção no sistema elétrico. A secretaria não informou uma data para o reinício das aulas, mas promete que o retorno acontecerá ainda neste semestre.

Ainda segundo a Semed, das 493 escolas da rede municipal em Manaus, sete estão em reforma. O órgão não detalhou quantos alunos estão sem estudar em cada unidade de ensino.