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Aluna de medicina aprovada em oito instituições públicas ficou ''perdida'' no 1º semestre na USP

Suellen Smosinski

Do UOL, em São Paulo

24/09/2012 06h00

Após ser aprovada para o curso de medicina em oito instituições públicas no início deste ano, a mineira Mariana Silva Vilas Boas, 20, escolheu a USP (Universidade de São Paulo) e mudou-se para a capital paulista. A troca de Estado e o início das aulas foram, segundo ela, complicados.

"Eu fiquei perdida nas aulas. No meio do semestre eu falei 'agora chega, preciso parar, analisar e fazer as coisas do jeito certo', mas aí não dava mais. Eu já tinha perdido o fio da meada. Eu não sabia o que o professor falava, eu ia para aula e ficava viajando", contou.

A estudante saiu de Pouso Alegre (a cerca de 400 quilômetros de Belo Horizonte), cidade com pouco mais de 130 mil habitantes, segundo dados do Censo de 2010, e veio para São Paulo, com seus mais de 11 milhões de habitantes. "Eu não tenho nenhum parente em São Paulo, eu não conhecia São Paulo. Não visitava, não vinha sempre para cá. Ou seja, eu vim na loucura, às cegas", afirmou.

Mesmo com a dificuldade inicial, Mariana conseguiu passar em todas as disciplinas sem recuperação: "Juro que não sei como consegui passar em tudo. Para falar a verdade eu não fiquei muito satisfeita comigo, não. Isso foi bastante difícil também, eu estava me adaptando, não dá pra fazer tudo de uma vez", afirmou.

Desnorteada

A primeira dificuldade foi encontrar lugar para morar. Sem saber por onde começar, Mariana procurou estudantes para dividir apartamento pela internet. Ela contou que, antes das meninas com quem mora a aceitarem, ela quase morou em uma pensão mista, "bem fuleira".

"Eu não estava com grana para achar coisa rápida e fácil. Foi muito difícil mesmo. Fui morar perto da Cidade Universitária, mas longe da Faculdade de Medicina. Tive que aprender a pegar ônibus e metrô."

As aulas do curso de medicina na USP são divididas entre o campus Butantã, conhecido como Cidade Universitária, e a Faculdade de Medicina, em Pinheiros. Entre os dois lugares há cerca de oito quilômetros. 

A estudante contou que demorou pelo menos um mês para parar de "fazer besteiras" pela cidade. "Eu pegava ônibus errado, passava o ponto e tinha que andar sozinha, às vezes de noite. Cheguei muitas vezes atrasada na faculdade por isso, perdi aula já. Também já me perdi na Cidade Universitária", afirmou Mariana.

Para se manter em São Paulo, Mariana conta com a ajuda da mãe e com bolsas da USP - auxílio-moradia, alimentação e bolsa de tutoria científica. "São bolsas que a USP fornece, é só o aluno procurar", explica. Ela divide o apartamento com mais três meninas e gasta cerca de R$ 500 com aluguel. No total, a estudante acredita que gasta aproximadamente R$ 1.200 por mês.

Adaptação

Com o tempo, ela diz que foi se acostumando com a nova vida e hoje se considera adaptada: "Eu sei ir aos lugares que eu preciso ir. Vou e volto, faço tudo praticamente sozinha, de ônibus e de metrô. Não é tão fácil como poderia ser, mas não tem do que reclamar, podia ser pior".

Sobre a cidade, a estudante diz que sua vida se concentra na faculdade. "São Paulo para mim é isso aqui [faculdade]. Eu não tive tempo de conhecer os lugares gostosos de São Paulo ainda. Festas, baladas, teatros, parques, compras, lojas... Não aproveitei quase nada", contou.

No segundo semestre do curso de medicina, Mariana assiste a maioria das aulas na Cidade Universitária. Uma vez por semana, as aulas são na Faculdade de Medicina. Há aulas também em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) na Vila Dalva, perto de Osasco.

Mas nem tudo é estudo. Da sua vida universitária, também fazem parte os treinos de vôlei no clube da atlética da faculdade, que acontecem todas as semanas.