Com 3 mil videoaulas, Khan não vê material virtual como substituto do professor
Com mais de 3.000 videoaulas disponibilizadas gratuitamente em seu site e 6 milhões de visitas mensais, Salman Khan não pretende substituir a educação formal pela virtual. Para o engenheiro que virou pop-star da educação, o material virtual deve servir para fortalecer os laços entre professor e aluno na sala de aula.
As aulas com auxílio de computadores liberam precioso tempo, que de outra forma seria gasto em exposições -- modelo em que os alunos ficam sentados com expressão neutra
"O aluno tem que ver seu professor como alguém que está ali para ajudá-lo a vencer desafios, a melhorar", afirma o fundador da Khan Academy.
Salman Khan, 34, chamou a atenção de todo o mundo com vídeos de cerca de dez minutos em que explica conteúdos variados de, sobretudo, matemática, física, química e biologia.
A experiência, que começou em 2004 com aulas produzidas como reforço escolar para seus primos, hoje tem cerca de 40 profissionais, responsáveis por aulas e exercícios disponibilizados em dez línguas e acessados por usuários de 216 países.
Em sua primeira visita ao Brasil, Salman Khan encontrou a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Educação Aloizio Mercadante. O governo brasileiro pretende disponibilizar as aulas da Khan Academy traduzidas aos professores da rede pública.
No seu ritmo
A partir da experiência com seus primos, Khan percebeu a importância de que os estudantes, a seu ritmo, sejam proficientes em conteúdos básicos antes de serem apresentados a temas mais complexos. No modelo de ensino atual, passar de ano não garante o aprendizado do conteúdo esperado.
"Os estudantes têm falhas em seu aprendizado, em multiplicação, por exemplo, e ainda assim são mandados para o próximo ano, onde terão de enfrentar trigonometria", afirma. Assim, os estudantes acumulam fracassos ao longo dos anos e têm cada vez mais dificuldades.
Os assuntos evoluem de um para outro, o auge de um assunto é o ponto de partida para o seguinte. Uma lacuna ou concepção errada num tema anterior torna-se um ponto fraco para o assunto subsequente
Excerto de "Um Mundo, Uma Escola: a Educação Reinventada", de Salman KhanPara dar uma resposta a esse problema, além de produzir material didático, a Khan Academy tem um software que permite aos professores mudarem radicalmente o formato das aulas.
Em lugar de aulas expositivas sobre determinado assunto a todos os alunos ao mesmo tempo, os professores deixam que os alunos assistam às vídeo-aulas conforme seu nível de conhecimento no assunto e fazem exercícios no sistema. O software aponta para o professor qual o nível de cada aluno em cada conteúdo de sua disciplina, e assim o professor pode auxiliar o estudante com o diagnóstico.
"Os professores se sentem mais comprometidos e mais valorizados por este modelo", afirma Salman Khan. A ideia é que eles tenham mais tempo para dedicar aos alunos, a suas dúvidas, e não a aulas repetitivas.
Com os vídeos, os alunos podem pausar as explicações, repeti-las, sem se sentirem constrangidos por ter de rever o assunto.
Outra possibilidade é que o professor aproveite alunos proficientes para ajudar colegas com dificuldades em determinada matéria. "Muitas vezes os melhores alunos de matemática precisam desenvolver habilidades emocionais. O relacionamento deles como tutores dos colegas pode ajudá-los a desenvolver essas habilidades", aponta.
Rede pública
Não basta botar um punhado de computadores e tablets dentro das salas de aula. A ideia é integrar a tecnologia à forma como ensinamos e aprendemos
Excerto de "Um Mundo, Uma Escola: a Educação Reinventada", de Salman KhanO MEC (Ministério da Educação) deve colocar o material traduzido nos tablets que serão distribuídos aos professores, no canal do professor - uma página na internet com conteúdo docente - e também na TV Escola.
Atualmente, a Fundação Lemann disponibiliza mais de 400 aulas traduzidas em sua página. Uma versão do software da Khan Academy é usado em um projeto com escolas da rede pública paulista. Em 2012, dez salas de aula experimentaram o programa. Em 2013, o projeto deve ser aplicado em 200 salas e atingir 6.000 crianças.
As aulas traduzidas são usadas também na rede municipal do Rio de Janeiro como material de apoio para alunos e professores do 6° ao 9° ano do ensino fundamental desde 2010.
“Eu tenho esperança de que o MEC alavanque nosso programa nos próximos anos”, afirmou Jorge Paulo Lemann, criador da fundação.
Para Khan, o material pode servir tanto para que os professores vejam técnicas possíveis de explicação de determinados conteúdos como suporte para as aulas. O importante é que os professores tenham autonomia para descobrir a melhor maneira de aplicar o material virtual em suas salas.
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