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No Enem, atualidades são pretexto para cobrar análise de conteúdos

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

18/06/2013 13h23

Na preparação para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), é importante que os candidatos estejam antenados nos principais acontecimentos do mundo, como a morte da ex-premiê britânica Margaret Thatcher e os recentes atentados na maratona de Boston, nos Estados Unidos. Contudo, esses eventos não são cobrados de forma enciclopédica, mas sim como pretexto para cobrar os conteúdos.

Essa é a visão de Tania Regina de Luca, professora do departamento de história da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Assis. “Esperamos que caiam questões que não cobrem simplesmente um conteúdo, mas um texto que permita que o aluno pense, mobilize habilidades e faça relações com outros conhecimentos que ele já tem a partir dessa situação nova”, diz.

Mateus Prado, especialista em Enem do cursinho Henfil, concorda. “As atualidades são muito importantes, principalmente para a redação, mas podem cair como pano de fundo das questões”, analisa. “Ninguém vai cobrar quem é o presidente do Egito ou quando começou a primavera árabe. A prova irá pedir cognição para você relacionar com conquistas de direito, democracia, por exemplo”. 

Prado acredita ainda que estar por dentro das atualidades ajuda no processo de formação de opinião. “Elas são fundamentais para que os candidatos consigam defender argumentações e saibam respeitar os direitos humanos, o meio ambiente e a defesa de minorias”. 

A pedido do UOL, Rui Alves Gomes de Sá, diretor pedagógico do Pré-Enem, da Abril Educação, e Tania de Luca, da Unesp, selecionaram temas que importantes que podem cair no Enem 2013; confira: 

  • Médicos estrangeiros no país: em maio, os governos do Brasil e de Cuba, com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde, anunciaram a possível vinda de 6.000 médicos cubanos para trabalharem nas regiões brasileiras mais carentes. O anúncio gerou polêmica;
  • Redução da maioridade penal: Após mortes ocasionadas por menores de idade do país, o debate da redução da maioridade foi amplamente retomado. Uma pesquisa da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) afirma que a ação é defendida por mais de 90% dos brasileiros. Contudo, órgãos e entidades, como a OAB, acreditam que a redução não diminuirá a criminalidade;
  • Comissão da verdade: Com a morte de Jorge Videla, ditador argentino, Tania de Luca acredita que o exame pode abordar como foram diferentes os períodos da ditadura no Brasil e no resto da América Latina e o tipo de acerto de contas que estão sendo feitos;
  • Crise na zona do euro: “Ela está colocando em risco a própria ideia de Europa. Existe um grave problema aqui. A França acabou de se assumir como país em depressão”, analisa Tania;
  • Primavera árabe: “Ela continua na Síria e agora na Turquia, onde há uma situação mais complexa. O estopim foi a possível criação de um shopping na maior área verde de Istambul e está se juntando com o processo de islamizar o país”, conta a professora da Unesp; 
  • Margaret Thatcher: A morte da primeira e, até agora, única mulher a chefiar o governo do Reino Unido pode ser cobrada no Enem para que o candidato faça um balanço sobre a política externa que ela aplicou no país e sua relação com movimentos trabalhistas;
  • Hugo Chávez: Após 14 anos no poder, a morte do venezuelano abre uma nova era para o país sul-americano. O assunto poderia embasar discussões sobre o populismo e questões relacionadas às instituições democráticas;
  • Atentado em Boston: Os dois suspeitos apontados pelo FBI como responsáveis pelas explosões foram identificados como sendo os irmãos Dzhokhar, preso pela polícia, e Tamerlan, morto após tiroteio. Os dois são russos e residentes legais nos Estados Unidos há no mínimo um ano. O assunto pode ser relacionado com questões de extremismo religioso;
  • Tensão entre as Coreias: A Coreia do Norte voltou a ameaçar a vizinha e os Estados Unidos de ataques com armas nucleares. No final de março, declarou "estado de guerra" com o Sul e, em 2 de abril, anunciou que reativará suas instalações nucleares, incluindo a principal, de Yongbyon, fechada em 2007;
  • Vazamento sobre espionagem nos Estados Unidos: “É uma questão superinteressante. Agora não temos apenas o WikiLeaks”, analisa Tania.

Tania acredita ainda que a questão das relações homoafetivas na França seria um tema conveniente de ser abordado no Enem 2013, mas duvida da possibilidade. “Não sei se em um país tão conservador, e ainda mais com a vinda do papa Francisco, o examinador poderia ter essa vontade”, opina. “Mas é muito bom para entender as novas relações sociais”. 

Vale lembrar que esse ano teremos dois centenários: do escritório Rubem Braga e do poeta e compositor Vinicius de Moraes.

Contudo, para ficar por dentro de todos esses assuntos, não há outro jeito: bastante leitura. "O vestibulando deve estar sempre lendo jornais e revistas semanais, e ainda, se possível, ver noticiários na televisão porque só a partir daí ele vai conseguir estar por dentro do que acontece no mundo”, diz Gomes de Sá.