Topo

Nesse ritmo, Brasil precisará de 25 anos para alcançar média da OCDE

Cristiane Capuchinho

Do UOL, em São Paulo

04/12/2013 05h00

Se mantiver o mesmo ritmo de progresso em educação, o Brasil levará, ao menos, 25 anos para alcançar o desempenho médio dos alunos de países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). É isso que mostra o relatório do Pisa 2012 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgado nessa terça-feira (3).

O país está entre aqueles que têm evoluído em seus índices educacionais, no entanto, em passo lento. De acordo com o documento da OCDE, na última década os estudantes brasileiros melhoraram seu desempenho em matemática a uma taxa de 4,1 pontos por ano. Se o ritmo se mantiver, o país precisará de outros 25 anos para superar os 103 pontos que o separam do desempenho médio dos países da OCDE. 

A situação é pior em leitura. Com um ritmo de evolução de 1,2 ponto por ano no desempenho dos alunos no exame de leitura, o Brasil demoraria mais de 71 anos para alcançar os 496 pontos da média da OCDE --hoje a média brasileira é de 410 pontos.

Para vencer a diferença de 96 pontos entre a média brasileira (405) e o desempenho dos países da OCDE em ciências (501), o Brasil precisaria manter por mais 41 anos a evolução de 2,3 ponto por ano no exame.

Salto qualitativo

"Mais preocupante do que a colocação do país em um ranking é a distância entre o desempenho dos alunos brasileiros e dos de países desenvolvidos. Esse resultado indica que o país como um todo vai ter de dar um salto qualitativo e não simplesmente fazer ações pontuais", enfatiza José Carlos Rothen, professor do departamento de educação da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). 

Para esse salto qualitativo, o país precisa superar problemas como a formação dos professores, a qualidade das escolas, o estabelecimento de currículos adequados para cada fase escolar e a criação de uma carreira docente atrativa.

O relatório aponta como desafio para o país reduzir a alta taxa de evasão de alunos que deixam as escolas por considerarem o currículo pouco atrativo, por terem de trabalhar ou pelo excesso de repetência. Em 2012, 36% dos brasileiros que fizeram o Pisa afirmaram ter repetido ao menos um ano em sua vida escolar. 

"Temos que atuar principalmente com aqueles que têm maior vulnerabilidade social. Há uma necessidade de criar planos para atingir essas escolas e levar a elas bons professores, bem formados", pontua Rothen. 

Inclusão de alunos

O relatório da OCDE aponta o progresso do Brasil na inclusão de jovens na escola como uma possível explicação para o baixo desempenho dos estudantes. 

Segundo o documento, em 2003, 65% dos jovens de 15 anos estavam na escola, a taxa passou para 78% em 2012. Parte desses novos estudantes são de comunidades rurais ou de grupos sociais vulneráveis, o que muda consideravelmente o grupo de alunos que fizeram o exame em 2003 e em 2012.

"A questão da inclusão e da qualidade nem sempre andam juntas. Ainda estamos trabalhando com essa dívida histórica de colocar as crianças nas escolas e isso reflete nos resultados", explica Eduardo Deschamps, secretário de Educação de Santa Catarina e vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

"O país começa agora a dar atenção para a alfabetização com qualidade. Isso ainda vai ter reflexo [negativo] por muitos anos no desempenho dos alunos", considera Deschamps.

O que é o Pisa

O Pisa busca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos de idade tanto de países membro da OCDE como de países parceiros. O exame foi aplicado em 510 mil alunos em 2012.

Figuram entre os países membros da OCDE Alemanha, Grécia, Chile, Coreia do Sul, México, Holanda e Polônia. Países como Argentina, Brasil, China, Peru, Qatar e Sérvia aparecem como parceiros e também fazem parte da avaliação.

A avaliação já foi aplicada nos anos de 2000, 2003, 2006 e 2009. Os dados divulgados hoje foram baseados em avaliações feitas em 2012.

RANKING DE LEITURA PISA 2012

EconomiasMédia
1º - Xangai-China570
2º - Hong Kong-China545
3º - Cingapura542
4º - Japão538
5º - Coreia do Sul536
6º - Finlândia524
7º - Irlanda523
8º - Taiwan (Taipei-China)523
9º - Canadá523
10º - Polônia518
Média da OCDE496
53º - Montenegro422
54º - Uruguai411
55º - Brasil410
56º - Tunísia404
57º - Colômbia403
65º - Peru384
  • Fonte: OCDE

RANKING DE MATEMÁTICA DO PISA 2012

EconomiasMédia
1º - Xangai-China613
2º - Cingapura573
3º - Hong Kong-China561
4º - Taiwan (Taipei-China)560
5º - Coreia do Sul554
6º - Macau-China538
7º - Japão536
8º - Principado de Liechtenstein535
9º - Suíça531
10º - Holanda523
Média da OCDE494
56º - Costa Rica407
57º - Albânia394
58º - Brasil391
59º - Argentina388
59º - Tunísia388
65º - Peru368

RANKING DE CIÊNCIAS DO PISA 2012

EconomiasMédia
1º - Xangai-China580
2º - Hong Kong-China555
3º - Cingapura551
4º - Japão547
5º - Finlândia545
6º - Estônia541
7º - Coreia do Sul538
8º - Vietnã528
9º - Polônia526
10º - Canadá525
Média OCDE501
57º - Jordânia409
58º - Argentina406
59º - Brasil405
60º - Colômbia399
61º - Tunísia398
65º - Peru373