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No Brasil, 8,5 milhões de alunos estão atrasados duas séries na escola

Danilo Verpa/Folhapress
Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Marcelle Souza

Do UOL, em São Paulo

19/05/2014 06h00

Mais de 8,5 milhões de alunos brasileiros estão atrasados pelo menos dois anos na escola. Os dados são do Censo da Educação Básica 2013 e mostram que 6,1 milhões de estudantes do ensino fundamental e 2,4 milhões do ensino médio não estão na série ideal.

Nessas duas etapas de ensino o país tinha 37,3 milhões de matrículas em 2013. São crianças e adolescentes que reprovaram, abandonaram a escola ou já foram alfabetizados com atraso.

"Nós temos esse descompasso, que é a falta de correspondência entre e a idade e o ano escolar. A responsabilidade de solucionar esse problema é do governo federal e dos governos estaduais e municipais, junto com a sociedade. Não é só um problema de gestão do setor público, é uma questão das prioridades que a sociedade estabelece", afirma Maria Beatriz Luce, secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação). 

O ideal é que o aluno tenha 6 anos no 1º ano do ensino fundamental e complete 14 anos no 9ª ano. Já as três séries do ensino médio devem ser feitas entre os 15 e os 17 anos. A realidade, porém, é que 21% dos estudantes do fundamental e 29,5% do ensino médio não estão na sala correta. 

Para especialistas, as principais causas desse atraso são a repetência e a evasão escolar, que refletem problemas estruturais e pedagógicos das escolas. “O fluxo escolar melhora quando há acompanhamento mais perto dos alunos, escolas menores e próximas às casas dos alunos, equipe escolar estável e programas de recuperação ao longo do período letivo”, afirma José Marcelino Rezende Pinto, professor da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto.

O pico de defasagem ocorre no 6º ano do ensino fundamental e no 1º ano do ensino médio, fases importantes de transição na vida escolar. No primeiro caso, os alunos deixam salas menores e com apenas um professor para entrar em uma etapa de maior exigência, muitas vezes acompanhada da troca de escola.

“Na primeira fase do ensino fundamental [do 1º ao 5º ano] o aluno tem uma rotina, menos professores, menos disciplinas e está acostumado com um ritmo na escola. No 6º ano pode acontecer de mudar de escola, então há uma adaptação, mais disciplinas e mais professores”, afirma Adriana Aguiar, secretária de Educação do Tocantins e vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).

O gargalo do ensino médio

Outro ponto de atenção é o início do ensino médio, que já recebe com atraso os alunos repetentes do ensino fundamental. Alguns jovens interrompem os estudos para trabalhar ou, no caso das meninas, para se dedicar a uma gravidez precoce. Para agravar o problema, o ensino médio brasileiro apresenta índices considerados insuficientes nas avaliações educacionais.

"Historicamente, nosso ensino médio foi direcionado à elite e voltado à preparação para os exames de seleção do nível superior. Ao contrário dos países com boas escolas no mundo, que preparam para a vida, com formação básica para o trabalho”, afirma Rezende Pinto, especialista em política e gestão escolar. “É uma escola muito ruim do ponto de vista de atrair os meninos para o estudo. Física, química e biologia sem laboratório, por exemplo, são um tédio e nada contribuem para a formação científica”.

Além do currículo que não estimula os alunos, um terço das vagas do ensino médio é noturno e os jovens ficam expostos a outros tipos de problemas. “No 1º ano do ensino médio, o desafio se agrava: o jovem já chega atrasado e fica mais vulnerável aos problemas sociais e à violência”, diz a secretária de Educação Básica.

O MEC defende que uma das soluções é o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, programa de formação de professores que funciona em parceria com as secretarias estaduais. O objetivo, diz Maria Beatriz Luce, é desenvolver um currículo mais interdisciplinar para o ensino médio.