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"Cabe tranquilo", diz motorista de pau de arara que conduz 40 alunos em AL

Carlos Madeiro

Do UOL, em União dos Palmares (AL)

19/11/2014 15h12Atualizada em 24/11/2014 17h13

Os estudantes que moram em comunidades distantes da zona rural de União dos Palmares (80 km de Maceió) usam o transporte escolar misto, com ônibus novos e o tradicional pau de arara. Alguns deles chegam a fazer trajetos de 9 km na caçamba de um caminhão em estradas esburacadas e, muitas vezes, cheias de lama.

Nesta terça-feira (18), o UOL visitou a cidade e encontrou um mini-caminhão, modelo F-4000, fazendo o transporte de cerca de 30 crianças e adolescentes. Os alunos são transportados na caçamba do veículo, sentados em tábuas de madeira e sem cinto de segurança.

Segundo a motorista do veículo, Lucélia Almeida, o pau de arara faz um percurso de 18 km todos os dias (ida e volta). Lucélia conta que chega a transportar 40 alunos na caçamba do mini-caminhão por viagem. “Cabe tranquilo. Aí atrás tem sete bancos”, contou.

A motorista explicou ainda que o transporte é feito pelo pau de arara porque há estradas muito esburacadas e com lama, onde os ônibus não conseguiriam passar. “Tem de ser no caminhão mesmo, ônibus não chega. Não é opção, é necessidade”, disse.

Os estudantes são pegos em várias comunidades da região no entorno da Serra da Barriga. O pau de arara os leva até uma localidade chamada sítio Recanto, a 4 km da área urbana, onde os alunos tomam um ônibus escolar em excelentes condições, que os levam até o destino final.

Ônibus novos circulam

No município de União dos Palmares há ônibus escolares novos circulando. A reportagem encontrou um deles em estradas vicinais do município. O motorista --que não revelou o nome-- confirmou que o trajeto só é feito até uma pequena parte após a zona urbana.

“Tem pista que é muito estreita, não dá para chegar ônibus. E quando chove, fica ruim demais, nem consigo chegar ao sítio Recanto, tenho de deixar os alunos antes”, explicou.

A estudante do 6º ano da escola Mario Gomes de Barros, Julia, 11, confirmou a versão do motorista e explicou que, em dias de chuva, ela e os colegas precisam subir a serra por cerca de 2 km. “Ontem mesmo [segunda, 17] tivemos que subir a pé porque choveu muito, e o motorista não subiu até aqui, onde pegamos o pau de arara”, relatou.

A estudante do 2º ano da escola Monsenhor Clóvis de Barros, Laudiceia de Souza da Silva, 18, conta que --com exceção do balanço causado pelos buracos--  não se incomoda em fazer parte do trajeto até a aula no pau de arara. Mas confessou que nem sempre foi assim. “Tinha outro motorista que andava muito rápido, não tinha cuidado e chegava a machucar a gente nos buracos. Reclamamos e colocaram ela [Lucélia], que é bem melhor”, disse.

O colega de Laudiceia, João Paulo, 15, aluno do 1º ano, conta que o mini-caminhão já apresentou problemas no trajeto com eles, que os fizeram caminhar muito, mas nunca os colocaram em risco. “Uma vez estourou o pneu e outra o motor pifou. Mas não aconteceu nada com a gente”, disse.

Prefeitura alega necessidade

Ao UOL, a Prefeitura de União dos Palmares informou que, assim como em outras cidade do interior do Nordeste, existem paus de arara circulando porque existem ainda estradas vicinais por onde os ônibus não conseguem passar.

“É uma realidade porque não tem outra opção para transportar. Temos ônibus, mas eles não chegam a todos os lugares, infelizmente”, disse o secretário de Comunicação de União dos Palmares, Kléber Marques.