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Escola em Florianópolis transforma lixo em renda para comunidade

Cepagro
Imagem: Cepagro

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

09/09/2015 20h18Atualizada em 10/09/2015 13h30

A epidemia de roedores no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, preocupou o médico do posto de saúde Renato Figueiredo, que convocou uma reunião com líderes da ONG Cepagro (Centro de Estudos e Promoção de Agricultura de Grupo). Ficou decido que não adiantava matar os ratos. A solução era deixá-los sem comida. Os voluntários sugeriram a criação de compostagem, duas mulheres da comunidade se prontificaram a recolher baldes com alimentos de casa em casa e a direção da escola América Dutra Machado disponibilizou espaço para que o projeto virasse realidade. Nasceu a Revolução dos Baldinhos, que transforma restos em renda em uma das comunidades mais pobres da capital.

Em sete anos, o projeto coletou 900 toneladas de resíduos orgânicos em baldes e transformou-os em adubo. Com solo fertilizado naturalmente, a escola plantou sua horta orgânica, onde são colhidos alimentos e ervas medicinais. O exemplo visto durante as aulas foi levado para casa. As crianças ganham mudas de plantas e adubo para suas próprias hortas caseiras e assim, alimentam suas famílias sem agrotóxicos.

Cerca de 50% do composto final é doado para comunidade. O restante é vendido em feiras orgânicas, como a do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, e em floriculturas. Um saco com 1,5 kg de adubo custa R$ 4,50 e o de 2,5 kg custa R$6,50. Por mês, são recolhidas 13 toneladas de resíduos orgânicos no Monte Cristo, mas eles só viram adubo após seis meses. Tempo necessário para completar o ciclo biológico de mesofílica, termofílica e maturação.

O significado deste ciclo, desconhecido para maioria das pessoas, é ensinado para os alunos da América Dutra. Desde que a Revolução dos Baldinhos foi implantada, os 460 estudantes, aprendem sobre preservação ambiental na prática, como explica a diretora Karla Parmigiani Pereira. Além de palestras com os voluntários do Cepagro, os professores ensinam química e biologia aos alunos através da compostagem.

“Eles também aprendem sobre a sustentabilidade, sobre a importância de uma relação de cooperação com o mundo, principalmente porque solucionam de forma simples um desafio global, a transformação do lixo”, disse Karla.

E o projeto não para por aí. Os voluntários da Revolução também recolhem nas casas óleo que foi utilizado e na escola ele vira sabonete medicinal. É que a professora Solange Perozin aproveitou a oportunidade para ensinar sua paixão, a fitoterapia. Assim, ao mesmo tempo em que aprendem uma nova técnica, os alunos estudam sobre o poder de cura das plantas. Arruda é anti-inflamatória, camomila é calmante.

Jovens trocam o tráfico pelo trabalho comunitário

Há casas no Monte Cristo marcadas a bala. São memórias da guerra no tráfico. Registros dos confrontos entre facções, das invasões da Polícia Militar, dos corpos sem vida estendidos no chão, das marcas de sangue nas ruas. No entorno, há o vício, usuários de crack perambulando entre becos, viadutos e as margens da Via Expressa, rodovia que liga a área continental de Florianópolis à ilha. Mas na escola América há uma revolução que conquistou meninos antes confiantes só no comércio de drogas.

Maicon Chaves é um deles. Antes trabalhava para tráfico. Hoje é rapper e palestra em outras escolas sobre a Revolução dos Baldinhos. Ele também é autor do hino do projeto.

“O bonde dos baldinhos tá chegando de cantinho, mostrando pra você, qual é o seu destino. Se você ficar jogando lixo na rua, você acabará com o nosso planeta, você alimentará vermes e baratas. Fora o bandido do rato, que rasga as sacolas. Ai não dá, ai não vou aguentar, pegar a doença do rato, nem pensar”, diz a canção.

No dia a dia o trabalho dos bolsistas, que recebem dinheiro da venda de adubos é recolher duas vezes por semana as bombonas espalhadas pela comunidade e levá-las à escola. Nos outros dias, eles lutam por maior adesão da comunidade. A revolução começou com a participação de cinco famílias e atualmente conta com 250.