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Após notificação de vereador, escola de SP faz debate para discutir gênero

Marcelle Souza

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/11/2016 06h00

A Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Desembargador Amorim Lima, na zona oeste de São Paulo, realiza no próximo sábado (26) às 14h30 um ato-debate em defesa da discussão sobre gênero nas escolas. O evento será uma resposta da comunidade escolar, com o apoio de parceiros da unidade, à notificação do vereador Ricardo Nunes (PMDB) enviada no mês passado pedindo a suspensão das atividades da Semana de Gênero, realizada à época com os alunos.

Nesse novo debate, a escola estará aberta à comunidade externa e vai contar com a presença de organizações da sociedade civil, vereadores e representantes de outras unidades de ensino. “O objetivo do evento de sábado é mostrar que discutir gênero na escola é muito importante, e que isso precisa acontecer não só na Amorim, mas em todas as escolas”, diz a diretora da unidade, Ana Elisa Siqueira.

No início deste mês, a escola mandou uma carta ao vereador, em que assina ao lado de mais de mais de 80 grupos, coletivos e instituições, dizendo que não concorda com a intervenção nas atividades da escola. “É preciso ficar claro que discutir gênero, para nós, significa trabalhar ativamente para a redução da violência provocada pelo machismo –evento este profundamente enraizado em nossa sociedade –, além de lutar cotidianamente pelo fim da intolerância e do preconceito, bem como na busca incessante de uma prática real de convivência harmônica entre todos os diferentes”, diz um trecho da carta.

Pedido de suspensão

No dia 25 de outubro, a escola recebeu um ofício em que Nunes questionou os objetivos pedagógicos da Semana de Gênero, bem como se o Conselho Escolar havia autorizado o evento, se as famílias haviam sido informadas e quais "leituras, filmes e músicas" seriam trabalhados.

O ofício foi recebido com indignação pela escola, que adota um projeto pedagógico inspirado na Escola da Ponte, do educador português José Pacheco. “A gente levou um susto quando recebeu a notificação. O vereador nunca se comunicou com a gente, nunca entrou em contato com a escola”, afirma a diretora. A escola afirma que a semana foi uma demanda dos alunos, discutida com a comunidade, e que não havia irregularidades no debate.

No documento, o vereador dizia: "Encarecemos a máxima urgência sobre os quesitos formulados e preventivamente a suspensão de referidas atividades, sob pena de providências imediatas e contundentes junto aos órgãos de fiscalização e controle, com a responsabilização daqueles diretamente envolvidos."

No último dia 31, a Secretaria Municipal de Educação enviou um ofício ao vereador destacando que a Amorim Lima tem projeto pedagógico premiado por diferentes instituições e que a Semana de Gênero tinha função educacional e estava em conformidade com as diretrizes municipais.

Em nota, a pasta também manifesta “estranheza e desacordo com os termos da nota dirigida aos servidores públicos responsáveis pela unidade escolar e pela Diretoria Regional de Educação” por conta do pedido de suspensão das atividades pelo vereador. “Podendo ser compreendida como ingerência e tentativa de constrangimento, incompatíveis com as relações já firmadas, de respeito e pronto atendimento institucional, entre a Secretaria Municipal de Educação e a Câmara dos Vereadores, extensiva a todos os seus representantes”, diz o ofício da SME.

Vereador diz que não foi ameaça

A assessoria do vereador Ricardo Nunes informou que a notificação foi enviada à escola porque o gabinete do parlamentar teria recebido várias denúncias em relação à Semana de Gênero, que envolvia alunos do ensino fundamental. Ela disse ainda que o objetivo do ofício não era ameaçar a escola nem realizar qualquer forma de constrangimento, mas pedir esclarecimentos sobre o evento. Assim que recebeu a nota da Secretaria Municipal de Educação, o vereador disse que encaminhou as respostas aos cidadãos e às instituições que haviam questionado o evento da escola.