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Uso do cordel ajuda escola de João Pessoa a liderar ranking de educação

Valéria Sinésio

Colaboração para o UOL, em João Pessoa

05/01/2017 05h00

Na sala de aula, as crianças fazem fila para pegar os cordéis, empilhados em uma estante improvisada. A literatura regional, típica do Nordeste, tem sido aliada de professores na Escola Municipal Doutor José Novais, em João Pessoa, para contar a história de autores famosos, como Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna e José Lins do Rego. 

Os versos e rimas também ajudam os alunos na compreensão de uma das obras mais famosas do mundo, "O Pequeno Príncipe", do escritor Antoine de Saint-Exupéry. 

Essa iniciativa convive com o método tradicional --a tabuada, por exemplo, ainda é utilizada em sala de aula -- e tem ajudado a escola a superar a meta do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) desde 2007.

A instituição possui a maior nota entre as escolas municipais e estaduais de João Pessoa. Também supera a média das escolas privadas da capital paraibana. Atingiu 7,3 no Ideb 2015, quando a meta da escola era 6,0. 

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Estudantes fizeram um jardim suspenso inspirados na leitura da obra de Saint-Exupéry
Imagem: Assuero Lima/UOL
O cordel na sala de aula vai além da representação de um elemento regional. É um dos fatores que ajuda a compreender o desempenho da escola nos índices de avaliação, segundo explicou o diretor-geral, Fernando Menezes. "O cordel é trabalhado pelos alunos dentro de uma perspectiva mais ampla, na qual a leitura é explorada de diversas formas. A partir da escolha da obra literária, os professores trabalham de forma interdisciplinar, visando o melhor aproveitamento possível", diz. 

Prova disso é que os ensinamentos de Antoine de Saint-Exupéry estão por toda a escola. Na entrada, por exemplo, os alunos fizeram um jardim que passou a representar simbolicamente a rosa da obra. No pátio, os desenhos nas paredes também mostram que os alunos tiveram uma boa compreensão do livro. Para completar, em sala de aula, eles fizeram os próprios cordéis recontando a história. 

Cantinho da leitura

Há, em cada sala de aula da escola José Novais, um lugar especial: o "cantinho da leitura". Segundo o bibliotecário Wellington de Souza, é uma forma de levar os livros para perto dos alunos, uma vez que a estrutura física da biblioteca não deixa os visitantes confortáveis. 

"Eles gostam demais, e até reclamam se a gente demora a trocar os livros. Os empréstimos são frequentes, e isso nos dá alegria. É uma felicidade sem tamanho ver um aluno levando os livros para ler em casa", destacou. 

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Cordéis ficam à disposição para incentivar a leitura na escola
Imagem: Assuero Lima/UOL
Os projetos de leitura e escrita desenvolvidos na escola já renderam prêmios e reconhecimentos do potencial da escola.

Segundo a vice-diretora Valéria Simoneth, não existe segredo para dar certo. "Há, na verdade, compromisso de todos que fazem a escola. Só para citar um exemplo, aqui, se um professor falta, o aluno não fica sem aula. Logo encontramos outro professor para substituir. Muitas vezes, eu mesma vou para a sala de aula", afirmou. 

Depois do recreio 

As regras disciplinares da escola incluem reunir os alunos após o recreio no pátio para cantar o Hino Nacional, seguido do hino da escola. Para finalizar, fazem a oração do Pai-Nosso e depois retornam para a sala de aula, em fila e em silêncio.

Apesar da boa nota, os diretores dizem que a escola também enfrenta problemas, como qualquer outra escola pública do Brasil. A falta de verba e a violência no entorno da escola são os principais deles.

"Temos ex-alunos que foram mortos, crianças com pais presos, outras que tiveram algum parente assassinado. A escola precisa enxergar essa realidade e buscar, junto à família, ser uma ponta de esperança quando tudo parece desilusão", diz Menezes. 

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Oficina na escola que tem a melhor nota no Ideb da cidade
Imagem: Assuero Lima/UOL

O que é o Ideb?

Criado em 2007, o Ideb é o índice que avalia a qualidade dos ensinos fundamentais e médio em escolas públicas e privadas a partir de dois componentes: a aprendizagem em matemática e em língua portuguesa e a taxa de fluxo (aprovação, reprovação e abandono escolar). 

A "nota" do ensino básico varia numa escala de 0 a 10. Conforme meta do MEC (Ministério da Educação), o Brasil precisa alcançar até 2021 a média 6,0 nos anos iniciais do ensino fundamental.

O indicador é divulgado a cada dois anos e é calculado com base nos dados do Censo Escolar (com informações enviadas pelas escolas e redes), e médias de desempenho nas avaliações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), como a Prova Brasil.