Topo

Notícias cruzadas

Lucila Cano

15/07/2011 07h01

Segundo o noticiário do início deste ano, o setor de serviços foi responsável por quase 65% dos 7,5% do PIB em 2010. Essa expressiva participação no crescimento da economia brasileira vem se repetindo há alguns anos e merece comemoração.

Especialistas em Recursos Humanos sempre foram unânimes ao apontar o setor de serviços como o que mais emprega no país, a despeito de não ser o que melhor remunera o trabalhador.

Esse bom desempenho também sinaliza a responsabilidade do setor em termos futuros, já que o Brasil será o anfitrião de dois importantes eventos esportivos mundiais nos próximos anos. A demanda por trabalhadores para as diversas atividades de serviços será significativa tanto para a Copa do Mundo quanto para os Jogos Olímpicos. Assim também será a formação dessas pessoas, a qual se faz necessária de imediato.

Escola no canteiro de obras

Há poucos dias li uma notícia que dava conta do empenho de empresas de construção civil, telemarketing e petróleo investirem em educação básica para capacitar os seus trabalhadores.  Pelo que entendi, tratava-se de medida emergencial. Só assim, previam essas empresas, seria possível evitar a baixa produtividade e até a eventual paralisação dos trabalhos em decorrência do analfabetismo total ou funcional que afeta a modernização dessas áreas.

Se de um lado essa iniciativa confirma a debilidade da educação básica no país, de outro, ela pode se tornar importante alavanca social para essas empresas. O segredo, segundo os preceitos da educação corporativa, é o investimento contínuo.

Os céticos alegam que a breve permanência do trabalhador no emprego é empecilho para a educação continuada. Mas o chamado “turnover”, principalmente na construção civil, pode ser minimizado pela “fidelização” que a educação proporciona. O trabalhador mais simples, que não teve acesso à escola, ou que se transformou em analfabeto funcional, sem nem entender por qual motivo, se sente gratificado pelo investimento que a empresa faz nele e retribui. De mais a mais, aquele que desperta para a possibilidade da educação leva essa nova cultura para outras empresas em que vá trabalhar.

Para vencer a barreira da ignorância em vários níveis e assim contribuir para que o país cresça e se estabeleça como de fato desenvolvido, tudo indica que é preciso um sentimento de união e, no caso do empresário, certo desprendimento do lucro acima de tudo.

Educação não é despesa. É investimento e relativamente barato em relação a tantos outros por aí. Com a sustentabilidade na ordem do dia para muitos executivos, talvez o melhor começo para se lançar no campo do social seja investir no seu próprio público interno.

Torço para que as empresas que estão levando a educação para o canteiro de obras sirvam de exemplo para muitas outras.

Serviços em alta

Na contramão do entusiasmo pelas oportunidades de trabalho em decorrência dos eventos esportivos futuros, deparo-me com a informação de que a alta de preços no setor de serviços acumulada em 12 meses chegou a 8,75% em junho, dois pontos percentuais acima da inflação média.

De acordo com a notícia, os motivos que alavancam a inflação vão desde o crescimento da demanda versus oferta reduzida até fatores como aumento de aluguéis e de energia e dificuldades para obtenção de crédito. É compreensível que muitos queiram aproveitar o momento para faturar um pouco mais. É inaceitável que façam isso à custa de trabalhadores sem um mínimo de respaldo profissional, o que pode ser traduzido por capacitação, educação.

Sabemos que há um grande contingente de pequenas empresas no setor de serviços. Muitas enfrentam reais dificuldades para sobreviverem em um cenário de excessivos impostos e parcos benefícios. No entanto, esses obstáculos não podem servir de desculpa para o mau atendimento, a falta de gentileza, a ineficiência. 

O trabalhador é o capital da empresa de serviços. Para multiplicar o seu rendimento, a educação pode ser um investimento possível e seguro. Mas tem que ser de longo prazo.

*Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.