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Smartphone para alfabetizar adultos

Lucila Cano

25/11/2011 06h00

Em abril de 2011, um projeto-piloto que utiliza o smartphone para a alfabetização de adultos começou a ser implantado em escolas municipais de algumas cidades do interior de São Paulo.

O Programa de Alfabetização na Língua Materna (Palma) foi idealizado pelo matemático José Luis Poli e desenvolvido com a cooperação de doutores em Educação e Tecnologia, seus parceiros na iES2, uma empresa que usa a tecnologia para inovar métodos de educação.

O professor Poli é Mestre em Matemática e foi um dos fundadores da Anhanguera Educacional, instituição de ensino superior da qual se desligou em 2009. Desde então, ele vem se dedicando a combater o analfabetismo que, na faixa dos maiores de 15 anos, ainda assombra mais de 14 milhões de brasileiros.

Atualmente, há mais de 230 milhões de celulares no Brasil e mesmo os adultos analfabetos sabem usar os aparelhos com facilidade. Foi a partir dessa constatação que o professor Poli concebeu o Palma.

Projeto único e inovador

O Palma é o primeiro programa exclusivamente criado para todo o processo de alfabetização através do celular. A versão para smartphone foi desenvolvida em 2010, devido à necessidade de memória e processamento adequados para suportar sons, imagens, símbolos e interatividade.

Para tanto, a iES2 entregou smartphones gratuitamente aos jovens e adultos participantes do projeto-piloto. Hoje, são 160 alunos em diferentes estágios do Palma que acessam o programa diariamente. Eles eram analfabetos plenos quando iniciaram o programa, que tem duração de dois anos. 

As lições sonorizadas contemplam o aprendizado de Português (alfabeto, sílabas simples, sílabas complexas, ampliação do vocabulário, interpretação de texto e gramática básica); Matemática (números e operações, grandezas e medidas, espaços e formas); e Ciências Naturais (meio ambiente, saúde e qualidade de vida), de acordo com o programa oficial de Educação de Jovens e Adultos (EJA) das séries iniciais.

O desempenho é medido individualmente ao final de cada atividade, através de um sistema de monitoramento instantâneo, via mensagem SMS. Após o envio das mensagens, o professor tem o mapa individualizado da aprendizagem do aluno. Os mesmos dados também são acessados pelo diretor da escola e pelo secretário da Educação do município participante do projeto.

O Palma complementa e dá continuidade ao aprendizado fora do ambiente escolar. As lições podem ser acessadas pelo smartphone a qualquer hora e em qualquer lugar. Além da combinação de sons, números e palavras, o aluno ainda dispõe de uma série de exercícios, sob a forma de jogos, que ajudam na fixação da aprendizagem.

Aos professores, a iES2 dá suporte durante todo o programa. Isso inclui treinamento presencial, fundamentação metodológica, utilização do software no celular e utilização do sistema de controle da aprendizagem via web.

Resultados animadores

Ao final do primeiro semestre do projeto-piloto, a redução da taxa de evasão foi de cerca de 80%, em comparação à média nacional de alfabetização de adultos. A média de aproveitamento das atividades diárias na fase em que os alunos aprenderam o alfabeto e as sílabas simples foi de 90,47%.

Na prova final do semestre, realizada em formato de ditado para que os alunos digitassem as respostas no próprio celular, o índice de acertos foi de 70%, comprovando o aprendizado do nível 1 do programa.

Os alunos que tiverem bom desempenho na prova de conclusão do Palma ficarão com os smartphones. Além de uma motivação para que eles continuem a estudar, a entrega dos aparelhos visa a retenção de conteúdo, pois todos terão créditos para praticar através de mensagens SMS.

A iES2 levou o Palma à Unesco que, agora, acompanha o desenvolvimento e as avaliações técnico-pedagógicas do programa. No futuro, a inovação brasileira pode auxiliar outros países em seus processos de alfabetização.

Antes disso, “o Palma tem condições de ampliar a oferta de alfabetização para todas as regiões do País”, afirma o professor Poli.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.