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O desconhecido

Lucila Cano

01/03/2013 06h00

 

O futebol é o assunto da vez. Cresce e salta das páginas do noticiário esportivo, não só pelo que rola em campo. Ao registro dos gols dos campeonatos locais e internacionais, somam-se notícias das obras dos novos (ou renovados) estádios e tudo o mais que diz respeito a elas: verbas, prazo de entrega, infraestrutura do entorno, emprego, negócios e por aí afora.

A proximidade dos eventos esportivos internacionais sediados pelo Brasil naturalmente nos levará a falar cada vez mais de futebol, e por motivos bem variados.

Tais eventos nos darão inúmeras oportunidades para exercitarmos boas práticas de cidadania em relação a temas que inexistem para muitos, ou que ainda estão no plano da teoria para outros.

Habilidades e princípios

O governo federal criou o programa Brasil Voluntário e vem orientando os candidatos a voluntário por meio de palestras e cartilhas. Há quem fale em 100 mil voluntários. Outros, mais modestos, calculam entre 18 mil e 22 mil pessoas exercendo as mais diferentes funções durante a Copa do Mundo.

Para a Copa das Confederações, considerada o grande ensaio para a Copa, já em junho deste ano, estima-se o recrutamento de sete mil voluntários. O número exato não importa, uma vez que, qualquer que seja o evento, nenhuma das tarefas voluntárias prescindirá de asseio, boa apresentação, bons modos, cordialidade, conhecimento e entendimento do que fazer.

Esses predicados também valem para outros segmentos. A indústria de serviços vem fazendo a sua parte, na esteira da organização oficial. Contrata e treina pessoas para trabalhar nas atividades de turismo, entretenimento, segurança. Há ainda de se preparar aqueles que trabalham na área de transporte, público e particular. Também é recomendável não se descuidar da área de saúde.

Mas, as habilidades operacionais são insuficientes frente aos desafios que devem vir por aí. Pessoas comprometidas com a realização e o sucesso de qualquer tipo de evento têm a obrigação de levar consigo princípios de responsabilidade social e ética que, por sinal, deveriam guiar todas as relações.

Mobilização social

Já há algum tempo, governo federal, organizações não governamentais e empresas ligadas ao setor de turismo, além das associações que as representam, estão desenvolvendo programas com foco no combate ao trabalho infantil e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Diante da perspectiva de recebermos turistas de todos os cantos do mundo, esses temas não são os únicos com os quais deveríamos nos preocupar. No entanto, dada a vulnerabilidade física e psicológica de crianças e adolescentes, são, sem dúvida, prioritários.

A Fundação Abrinq/Save the Children, organização social que desde 1990 trabalha para que os direitos das crianças e adolescentes sejam respeitados, lançou no final de janeiro a cartilha “Copa 2014 e Olimpíadas 2016 – Juntos na proteção das crianças e adolescentes”.

A publicação tem o objetivo de mostrar como empresas, municípios, organizações sociais e a sociedade podem prevenir situações de violação de direitos de crianças e adolescentes antes e durante os megaeventos esportivos no Brasil.

De linguagem acessível e clara em 20 páginas ilustradas, a cartilha merece leitura atenta. Pode ser acessada clicando aqui.

Outras organizações devem seguir o exemplo da Fundabrinq/Save the Children. O momento é oportuno para também informar e orientar o cidadão comum a respeito de questões comportamentais e práticas de boa conduta social.

De agora em diante, é grande a probabilidade de, ao dobrar qualquer esquina, nos depararmos com pessoas, costumes e atitudes diferentes. Mesmo que não estejamos na linha de frente dos grandes acontecimentos esportivos, precisamos saber como lidar com o desconhecido. Até porque, às vezes, ele mora ao lado.

 

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.