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Um drible nos obstáculos

Lucila Cano

26/04/2013 06h00

O leitor sabe o que faz um atleta paraolímpico quando não está em competição? Ele segue lutando pelo reconhecimento e pelo apoio daqueles que o esquecem depois que um grande evento termina.

O reconhecimento é importante. O apoio financeiro também. Ninguém se torna atleta da noite para o dia e, para chegar ao pódio, todo atleta precisa de condições para viver e treinar. Imagine o atleta paraolímpico que ainda enfrenta os desafios impostos por um mundo hostil.

Mas, como o esporte tem a capacidade de materializar sonhos e transformar pessoas, nossos atletas paraolímpicos não se deixam abater. Mais do que treinar para futuras competições, como as Olimpíadas que ocorrerão no Brasil em 2016, eles também se preocupam em formar novos campeões.

É exatamente isso o que fazem os atletas paraolímpicos que em 2005 criaram a Urece Esporte e Cultura para cegos.

Time de empreendedores

Com o sugestivo slogan “Não enxergamos obstáculos”, a Urece se apresenta como um meio de profissionalizar as relações que entremeiam o paraesporte, de modo que atletas e treinadores possam ter voz ativa em assuntos relativos à preparação, competições e patrocínios.

Presidida por Anderson Dias, campeão mundial em 2000 e campeão de futebol de 5 nas Paraolimpíadas de Atenas em 2004, a instituição reúne um time de vencedores: Marcos Lima, vice-presidente, tornou-se o primeiro atleta cego brasileiro a esquiar na neve; Fábio Dias, treinador da equipe masculina de goalball, recebeu medalha de bronze nas Paraolimpíadas de Londres, em 2012; Gabriel Mayr, coordenador de projetos, treinou a primeira equipe de mulheres cegas do Brasil; Fausto Penello, diretor administrativo, é treinador da equipe masculina de futebol de 5.

No dia a dia, a Urece ministra aulas de futebol para cegos, goalball e natação. Sediada no Rio de Janeiro, não se limita às fronteiras locais. Desenvolve treinamentos esportivos, oficinas e projetos especiais para outras instituições dedicadas aos cegos no país. Realiza palestras para empresas sobre a inclusão de deficientes no mercado de trabalho. Participa de eventos e competições em todo o mundo e mantém intercâmbio com instituições de outros países.

O espírito empreendedor de seus idealizadores transparece, ainda, em algumas realizações, como a criação de uma equipe de futebol para mulheres cegas. Atenta à ausência de um time de jogadoras cegas, enquanto a seleção brasileira masculina de futebol de cinco é campeã paraolímpica desde 2004, a Urece foi a primeira associação do país a formar uma equipe feminina. O resultado veio em 2009, com a conquista do campeonato mundial na Alemanha.

Em parceria com a empresa Cambuci-Penalty, a Urece contribui com sua experiência para o desenvolvimento de bolas e chuteiras adequados à prática do futebol para atletas cegos.

Torcedor de primeira

As parcerias são importantes porque visam a melhoria dos equipamentos, uniformes e tecnologias para que pessoas cegas – não somente os atletas – conquistem mais independência e possam exercer suas atividades com conforto e segurança.

Competência é o que não falta para o time da Urece. Mas, para ampliar o alcance do seu trabalho, a instituição depende de patrocínios e de contribuições. Por isso, criou a campanha permanente “Torcedor de primeira” para arrecadar contribuições mensais de pessoas físicas e jurídicas. Idealizada em uma incubadora de empresas em 2004, a Urece é uma ONG sem fins lucrativos. Reverte seus ganhos para formar futuros campeões paraolímpicos, participar de treinamentos e competições, e investir na inclusão social de pessoas cegas. Atualmente, o contingente de pessoas com deficiência visual ultrapassa 18% da população brasileira.

Para saber mais, vale uma visita ao site da instituição. Nele, o leitor poderá se informar sobre as regras do futebol de cinco e do goalball; conhecer a origem do nome Urece; e entender como funcionam os intercâmbios.


* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.