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Participar é o verbo

Lucila Cano

31/05/2013 06h00

Em meados de maio, o UNICEF lançou a publicação Fora da Escola Não Pode! – O Desafio da Exclusão Escolar. O local do lançamento não poderia ser mais apropriado: o 14º. Fórum de Dirigentes Municipais de Educação, realizado pela Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) na Costa do Sauípe (BA).

O livro Fora da Escola Não Pode!, produzido pela Cross Content Comunicação, sob a coordenação da jornalista Andréia Peres, faz uma leitura dos dados da exclusão escolar no Brasil e vai além. Apresenta aos dirigentes municipais de educação e outros gestores da área práticas que já produzem bons resultados em alguns municípios.

Com o apoio do ChildFund Brasil – Fundo para Crianças, do Projeto Quixote e da Opim (Organização dos Professores Indígenas Mura), o UNICEF e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação promoveram oficinas de desenho com crianças e adolescentes de diferentes regiões durante um mês. Para cada desenho, a mesma proposta: “Como é a escola em que você gostaria de estudar?”.

Alguns desses desenhos ilustram a publicação, pois expressam de maneira clara sonhos de futuro e realidades do presente.

Maior evasão a partir dos 15 anos

Com base em dados do Censo 2010 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2011, o estudo do UNICEF revela que a exclusão escolar é maior entre os adolescentes a partir dos 15 anos de idade.

Uma das principais causas do abandono dos jovens é o trabalho precoce para ajudar a família, a despeito da proibição legal no país para os menores de 16 anos. Outra é a dificuldade daqueles que não conseguem acompanhar os estudos. Diz a publicação, em determinado trecho: “De acordo com o Censo 2010, dos 83,3% dos adolescentes de 15 a 17 anos de idade na escola, apenas 47,3% estavam cursando o ensino médio – a etapa adequada para essa faixa etária. Isso significa que mais da metade desses adolescentes apresenta atraso escolar, ou seja, tem idade superior à recomendada para a série que frequenta”.

“Que menino de 16 anos vai querer estudar em uma turma com menino de 12?”, argumentou Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do UNICEF, em sua apresentação no Fórum dos Dirigentes Municipais de Educação.

Esses exemplos de exclusão refletem a desigualdade que afeta negros, índios, pobres, moradores de áreas rurais, aqueles em condição de vulnerabilidade social e sujeitos à violência e ao trabalho forçado e também os deficientes, cujos direitos estão garantidos na teoria, mas não necessariamente na prática.

O que dá resultado

O conteúdo da publicação Fora da Escola não Pode! – O Desafio da Exclusão Escolar sem dúvida chegará aos professores municipais através da rede da Undime. Mas, o leitor merece uma amostra do que tem dado resultado. Selecionei e resumi algumas práticas citadas no livro:

  • Diversificar atividades e espaços pedagógicos para que os alunos conheçam o município em que vivem; participem de eventos culturais – cinema, teatro, museus -; recebam educação ambiental e tenham interação com outras escolas em feiras e exposições e com a comunidade, inclusive de outros municípios.
  • Criar bibliotecas itinerantes com dias dedicados à leitura, além de concursos e saraus literários.
  • Promover educação contextualizada, ou seja, adequar os conteúdos à vivência e ao cotidiano dos alunos, com destaque para a cultura local, sem perder de vista o todo.
  • Valorizar o professor. Investir na formação inicial e na continuada, por meio de parcerias com ONGs, universidades e o próprio MEC. Oferecer plano de carreira e promover encontros com profissionais de outras escolas.
  • Engajar a família na escola para discutir obras, normas e avaliar a gestão. Envolver a comunidade em assembleias escolares.
  • Dar continuidade às políticas públicas que funcionam. A qualidade da educação depende da participação continuada de todos. Implica avaliar e redirecionar programas sempre que necessário, mas não termina ao final de um mandato.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.