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Cinema para refletir sobre aborto

Lucila Cano

08/11/2013 06h00

Você sairia de casa para assistir a um documentário no cinema? “Tiros em Columbine”, de Michael Moore, atraiu muitas plateias. O ativista Moore baseou-se na história de dois estudantes que mataram 14 colegas e um professor do colégio Columbine, no Colorado (EUA), em 1999, para questionar a atração dos americanos por armas de fogo e a força do lobby da indústria armamentista.

Outros trabalhos críticos deram sequência à filmografia de Moore, como “S.O.S. Saúde” (2007) e “Capitalismo: uma história de amor” (2010), levando mais gente a discutir temas polêmicos contemporâneos.

Esta é a proposta do produtor Luís Eduardo Girão, diretor da Estação Luz Filmes, ao adquirir os direitos de exibição no Brasil do documentário americano “Blood Money – Aborto Legalizado”, produção independente escrita e dirigida por David Kyle. 

O documentário exibido pela Europa Filmes, parceira da Estação Luz nesta empreitada, entrará em cartaz no próximo dia 15 de novembro. Antes disso, segue em sessões de avant-première em nove capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília, Belém, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza. 

Pauta de eleições

Uma avant-première em São Paulo, na terça-feira, 5 de novembro, contou com a presença do roteirista e diretor de “Blood Money”. David Kyle revelou que pensou em fazer o documentário em 2004, por ocasião das eleições nos Estados Unidos, quando George Walker Bush foi escolhido presidente. Isso porque, segundo o cineasta, o tema do aborto só é discutido em época de eleições e com fins eleitoreiros. 

Embora legalizado nos Estados Unidos há 40 anos, o aborto ainda gera polêmica, pois a sua prática mexe não só com questões relativas à saúde e segurança física da mulher, mas também com valores morais e religiosos. No caso de “Blood Money”, David Kyle acrescenta mais alguns componentes, como o aspecto financeiro (expresso no título do filme), o preconceito racial, o controle da natalidade e as pressões sociais.

O documentário só foi concluído em 2010. Em 2008, Kyle iniciou viagem pelos Estados Unidos para entrevistar médicos, profissionais da saúde, pacientes, cientistas e a ativista política Alveda C. King, sobrinha do pacifista Martin Luther King. A convivência resultou em convite para ela narrar o documentário. 

As circunstâncias em que o aborto ocorre nos Estados Unidos são bem diferentes das brasileiras. Talvez por isso, os registros documentados em “Blood Money” sejam interessantes para suscitar o debate por aqui.

Não perder a educação de vista

Alguém já disse que nos equivocamos ao colocar nas “costas” da Educação a salvação para todos os nossos males. Concordo, mas há casos em que ela é essencial.

Cresce em todo o mundo o número de adolescentes que engravidam antes dos 18 anos de idade. As mais pobres, de pouca ou nenhuma escolaridade e sem acesso a um mínimo de assistência social e atendimento de saúde são as mais vulneráveis a essa situação. Elas são vítimas fáceis do aborto, pois sofrem todo tipo de preconceito e pressão, seja dos familiares, seja dos próprios parceiros, tão desestruturados quanto elas para lidar com a gravidez.

A escola pode abrir portas para que as jovens se valorizem, deixem de ser objeto sexual e descubram as suas potencialidades como seres humanos capazes e dignos de respeito.

Por isso, a discussão sobre o aborto deveria ser acompanhada de outra sobre o papel da educação na preparação dos jovens para a vida, incluindo meninos e meninas. Muitas ONGs já fazem isso, mas em pequena escala. O respeito à vida precisa ser ampliado e entendido por seus principais protagonistas.

De volta a “Blood Money”, depois de sua temporada no cinema, o documentário deve seguir o mesmo caminho de outras realizações da Estação Luz Filmes, que vem se firmando com produções como Bezerra de Menezes, Chico Xavier, As Mães de Chico Xavier, O Filme dos Espíritos. Até o final do ano, a produtora deve lançar o filme em DVD, além de negociar a sua exibição na TV.

 * Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna