Sinais de abandono
A evasão escolar entre os jovens, alvo da constante preocupação de educadores, foi avaliada em duas iniciativas recentes: pesquisa do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), divulgada em junho, e a 4ª. Semana da Educação de Campinas, realizada pela Fundação FEAC no início de novembro.
A pesquisa “O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola” foi desenvolvida pelo Cebrap, com o apoio da Fundação Victor Civita e de entidades e empresas privadas. Tem como objeto de estudo jovens de 15 a 19 anos, oriundos de áreas de baixa renda de municípios das regiões metropolitanas de Recife e São Paulo que, em algum momento, ingressaram no ensino médio.
A 4ª Semana da Educação de Campinas levou programação intensa para professores, pais e estudantes da cidade entre 4 e 8 de novembro. Integrada ao movimento Compromisso Campinas pela Educação, e em parceria com entidades e empresas da região, pautou-se pelo mote “Aprender Juntos para que a Escola Ensine”.
Um diploma e um trabalho
A maneira como o ensino médio evoluiu no país tem aspectos muito interessantes e a sua parcela de responsabilidade para que o jovem não se sinta atraído pela escola. Mas, como o estudo do Cebrap é bastante amplo e este espaço tem os seus limites, restrinjo-me a alguns sinais.
Português e matemática parecem ser as únicas matérias com alguma utilidade para a maioria dos entrevistados. Outras disciplinas são desmotivadoras e, portanto, uma das causas para que não haja interesse na escola. Conseguir um diploma é o grande objetivo de 20% deles.
Alguns fatores de peso no abandono escolar dos jovens que chegam ao ensino médio são a idade, a repetência, a experiência de trabalho, a gravidez e a escolaridade do pai. Por ingressar tardiamente na escola, ou por repetência, alguns jovens sentem-se deslocados na situação de mais velhos em suas turmas. A grande maioria acha que 17 anos é idade para trabalhar, mas nem todos conseguem trabalho, porque não têm estudo.
Com base na PNAD/2011 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, mais de um milhão de jovens não trabalham nem estudam. São 24% daqueles com 18 anos de idade e 25% dos que atingiram os 20 anos. Há mais meninos do que meninas entre os fora da escola (54,1% contra 45,3%). No entanto, na faixa de renda mais baixa, as meninas predominam (56%). A gravidez responde por 34,4% das jovens que deixaram a escola. Curiosamente, segundo a pesquisa do Cebrap, o número de meninas que abandonaram a escola para casar e constituir família é superior ao daquelas que pararam de estudar por causa de uma gravidez.
Vida de adulto
Em Campinas, um quinto dos jovens entre 18 e 24 anos já é chefe de família. Deles, 60% não estudam, de acordo com os dados apresentados na 4ª Semana de Educação de Campinas por Maria Helena Guimarães de Castro, diretora-executiva da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).
O estudo apontou que 15% da população de Campinas são de jovens entre 15 e 24 anos (mais de 170 mil pessoas). Daqueles entre 15 e 17 anos, 86% ainda moram com os pais ou responsáveis, mas cerca de 4% já são responsáveis por seus domicílios. Na faixa entre 18 e 24 anos, eles são quase 23%.
A situação econômica é crítica: na faixa entre 15 e 17 anos, 20% dos jovens vivem em famílias com até meio salário mínimo per capita e 60% em famílias com renda per capita de meio a dois salários mínimos. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 16% integram famílias com até meio salário mínimo per capita e 53% vivem em famílias com renda per capita entre meio e dois salários mínimos.
Dos 60% dos jovens entre 18 e 24 anos que não estudam apenas a metade concluiu o ensino médio. Mais de 70% daqueles entre 15 e 17 anos trabalham, embora 30% sejam empregados informais, sem carteira de trabalho.
A informalidade é menor entre os mais velhos, de 18 a 24 anos (13%). No entanto, 12,5% deles estão desocupados. Esse percentual é o dobro da taxa geral da população na cidade e no Brasil.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.