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Água, energia e fé

19.mar.2014 - O reservatório da Barragem de Jaguari em Joanópolis, que abastece o sistema Cantareira, está quase vazio - Michel Filho/Agência O Globo
19.mar.2014 - O reservatório da Barragem de Jaguari em Joanópolis, que abastece o sistema Cantareira, está quase vazio Imagem: Michel Filho/Agência O Globo
Lucila Cano

21/03/2014 11h30

“Água e energia” foi o tema proposto pela ONU para o Dia Mundial da Água em 22 de março deste ano. Nada mais oportuno para o Brasil, que enfrenta dificuldades com a falta de água e os colapsos de energia em muitas regiões. 

A essas questões, somam-se outras que têm tudo a ver com água e energia: as cheias dos rios da Amazônia; as construções de novas hidrelétricas; o aumento da conta de energia; a escassez de água na Região Sudeste.

As cheias dos rios da Amazônia invadem as áreas urbanas destituídas de saneamento e acarretam prejuízos: a perda de bens materiais e a alta incidência de doenças graves, decorrentes do contato das pessoas com esgotos a céu aberto. Isso, sem falar na imobilidade dos transportes, na suspensão de atividades produtivas, na inviabilidade dos serviços básicos, como educação e saúde.

As construções de novas hidrelétricas na Amazônia são alvo de protestos e de liminares contra e a favor. Entre avanços e retrocessos, o tempo passa, os custos são recalculados e as quedas no fornecimento de energia tornam-se frequentes. As usinas térmicas são ligadas e, então, surgem outros problemas: danos ambientais e aumento na fatura de energia.

O aumento na conta de energia elétrica está previsto para depois das eleições e, a respeito desta decisão do governo, não há o que comentar. 

A escassez de água na Região Sudeste preocupa. Em São Paulo, principalmente, assusta, e o racionamento parece inevitável.  Altas temperaturas e ausência de chuvas resultaram em mais consumo de água e na constatação de que os reservatórios do Estado são insuficientes para atender a população.

A história se repete

Muda o cenário, mudam os atores, mas a história se repete. Desta vez, parece que com mais intensidade, porque já nos esquecemos do que ocorreu nesta época em anos anteriores. Basta recorrermos ao imenso banco de dados da internet para refrescar a memória com relação a 2013. O Nordeste era a região mais prejudicada, mas populações de outras regiões e de bairros da periferia de São Paulo também sofriam com a escassez de água.

Sabemos hoje que esses problemas não se limitam ao mau uso da população, que continua desperdiçando água para lavar carros e calçadas nas zonas urbanas. Segundo notícia publicada no site Ambiente Brasil em 11 de março, “... em média, 38,8% da água são perdidos entre a saída da estação de tratamento e a entrada nas casas.”

A notícia esclarece que os números do desperdício das operadoras do serviço de fornecimento de água são de 2011. Os do ano passado devem ser divulgados em abril, com uma expectativa de queda para 37%. Ótimo, mas vamos e venhamos, percentualmente, a redução do desperdício em dois anos é mínima.

Debates e soluções

Na cidade de São Paulo, dois encontros debateram propostas para solucionar, ou ao menos amenizar, os graves problemas decorrentes do mau uso e da escassez de água.

A Fiesp e a ONG SOS Mata Atlântica realizaram o 9º. Seminário “Água, Saúde, Enchente e Escassez”, que teve a participação de especialistas no assunto e foi aberto ao público, na terça-feira, 18.

O CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), nascido no Rio de Janeiro, promoveu na quarta-feira, 19, o fórum “Água: gestão estratégica no setor empresarial”.

Contou com a parceria de grandes empresas, entre elas algumas que utilizam bastante água nos seus produtos, como a Ambev e a Coca-Cola; da ANA (Agência Nacional de Águas) e da ONG WWF. Os debates reuniram especialistas de empresas, da academia e do poder público.

Espero que haja mais debates, inclusive em outras localidades, mesmo que depois de 22 de março. É preciso encontrar soluções para problemas que estão se tornando crônicos e, infelizmente, a cada ano mais graves.

P.S.: Esta coluna foi escrita antes desses eventos. Tenho fé que, ao voltar ao tema, falte espaço para relatar boas ideias e soluções.

 * Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.