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Um retrato do doador brasileiro

Lucila Cano

18/09/2015 06h00

Institutos ligados a grandes grupos empresariais costumam fazer levantamentos periódicos para identificar quais são as organizações que mais contribuem com entidades sociais e de que maneira elas fazem suas escolhas.

Agora, por iniciativa da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), e em uma ação pro bono da empresa Shopper Experience, temos um levantamento recente sobre quem é o doador individual brasileiro.

A pesquisa realizada durante o primeiro semestre de 2015 recebeu o sugestivo nome de “Investidores do Bem”. Os resultados foram obtidos em entrevistas qualitativas em profundidade e expressam as opiniões de mais de 330 pessoas, incluindo homens e mulheres de 18 anos a mais de 55 anos, sendo a idade média de 44 anos.

Esta é a terceira edição da pesquisa da Shopper Experience, a partir da qual podemos ter um retrato de quem são esses doadores e dos motivos que os levam a contribuir financeiramente com causas e instituições filantrópicas.

Por que doar

Stella Kochen Susskind, presidente da Shopper Experience, diz que “Uma das inspirações para a pesquisa foi o World Giving Index – um levantamento da Charities Aid Foundation, que traz uma visão global sobre o ato de doar, sobre a generosidade. A edição de 2014 aponta que mesmo em países que enfrentam turbulências econômicas, a generosidade tem crescido. O Brasil, de acordo com o levantamento internacional, aparece em 90ª posição no ranking que envolve 135 países”.

As pessoas doam por motivos tais como: autocrescimento (43%), que faz com que a vida tenha mais sentido; gratidão (22%), em retribuição a conquistas alcançadas; devoção (14%), para ajudar necessitados; cooperação (11%), para ajudar a comunidade; tradição (6%), por ser uma herança familiar que passa de geração para geração; engajamento (3%), para servir de modelo a outras pessoas; e racionalidade (2%), em decorrência de benefícios fiscais.

Entre os temas que mais mobilizam os doadores, a pesquisa indicou os seguintes percentuais: 67% (combate à violência); 64% (idosos carentes abandonados); e 49% (crianças carentes). Outras causas mencionadas foram: crianças com deficiência (18%); crianças com câncer (14%); combate à fome (34%); crianças precisando estudar/educação infantil (25%); e carentes portadores do vírus HIV (43%).

A quem doar

Em se tratando de doação financeira, as instituições assistenciais são beneficiadas por dois tipos de doadores, os permanentes e os ocasionais. No presente levantamento, a Shopper Experience apurou expressivos percentuais de doadores permanentes, que contribuem com algumas instituições reconhecidas pelo trabalho social que desenvolvem e, principalmente, porque atuam em segmentos relacionados aos temas mais citados pelos entrevistados.

Assim, entre os participantes da pesquisa, as instituições mais beneficiadas por doações mensais foram: 83% doam para a AACD; 76% para a Abrinq; 68% para a ActionAid Brasil; 41% para a Apae; 84% para o Graac; 100% para o Instituto Ayrton Senna e 100% para Médicos sem Fronteiras.

O valor das doações mensais varia em torno de R$ 38,00 a R$ 58,00.

Assim como ocorre com a maioria dos investidores empresariais, os doadores individuais apresentam uma forte tendência de apoio a instituições que atendem crianças, embora a maioria tenha mencionado como principais motivos de mobilização o combate à violência e ajuda a idosos carentes abandonados.

Outro aspecto que também pode influir no comportamento dos doadores são os grandes problemas mundiais, como a epidemia de Ebola que se espalhou pela África e comoveu pessoas de todo o mundo.

Por uma questão de espaço, não me ative a outros pontos da pesquisa da Shopper Experience, como as sugestões dos entrevistados sobre formas de comunicação para atrair doadores. Mas, pelo exposto, acredito que o leitor poderá ter uma visão de como cresce a participação dos cidadãos em benefício das causas sociais.

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.