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Para lembrar Gandhi

Grafite do líder político e espiritual indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) feito pelo brasileiro Eduardo Kobra no projeto "Olhar a Paz", em Los Angeles, EUA - Divulgação
Grafite do líder político e espiritual indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) feito pelo brasileiro Eduardo Kobra no projeto "Olhar a Paz", em Los Angeles, EUA Imagem: Divulgação
Lucila Cano

29/01/2016 06h00

Mahatma Gandhi, o indiano mundialmente celebrado por sua filosofia em defesa da não-violência, morreu em 30 de janeiro de 1948, seis meses depois de a Índia tornar-se independente da colonização britânica.

A independência pela qual ele tanto trabalhou e muito almejou custou à Índia a cessão de território para a constituição de um novo Estado, o Paquistão. A divisão territorial que previa o aparte de disputas religiosas e políticas, acolhendo a maioria hindu na Índia e a maioria de muçulmanos no Paquistão, provocou fortes reações.

A Gandhi, o sonho da independência custou a vida. Um hindu radical o assassinou a tiros em Nova Deli, responsabilizando-o pelo enfraquecimento do governo que então se formava no país.

O pacifista, como ficou conhecido, foi vítima da violência. O episódio, por sua vez, serviu para ampliar ainda mais a atenção de todos os países do mundo para a militância da paz. Distante das depredações, das armas e das agressões físicas, foi com palavras, marchas, jejuns e silêncios que Gandhi formou discípulos, conquistou adeptos e festejou vitórias em favor do seu povo e dos direitos humanos.

Um símbolo

A trajetória de Gandhi em defesa da não-violência iniciou-se na África do Sul, onde ele trabalhou como advogado após completar estudos na Inglaterra e onde testemunhou o preconceito e maus tratos impostos aos indianos que ali viviam.

Foi nesse país que, ao longo de 20 anos, Gandhi exerceu resistência pacífica, pregou a união, a irmandade e a harmonia entre todos os seres humanos, independentemente de religião, raça e casta.

Seu objetivo primeiro era a independência política da Índia, mas a extensão de sua tolerância atingia os que buscavam a paz em qualquer parte do mundo. Muitas vezes preso e agredido, inclusive depois que se estabeleceu na Índia, em 1914, o pacifista sedimentou sua filosofia em torno de dois conceitos, o da não-violência (Ahimsa) e o da força da verdade (Satyagraha).

Gandhi deixou um legado de mensagens de amor, de edificação moral, mas também de resistência à opressão e de desobediência civil. Cultivava a força intelectual e a grandeza espiritual que fizeram dele um símbolo. Passou a ser reverenciado cada vez que se professa a importância da cultura de paz para todos os povos. Tanto que, para resgatar sua contribuição à humanidade, a ONU escolheu a data de aniversário de sua morte para instituir o Dia Internacional da Não-Violência.

Mensagens

Em seus vários livros e em discursos e apresentações públicas, o pacifista deixou aforismos que se repetem em diferentes idiomas e releituras pelo mundo.

Se ele assim as escreveu, eu não sei. Mas, com prazer, partilho com o leitor algumas mensagens atribuídas a Mahatma Gandhi. Elas me parecem atemporais, mas bastante apropriadas para refletirmos sobre o tempo presente e, entre outras coisas, nos lembrarmos do autor:

“As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo?”

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”

“O amor é a força mais sutil do mundo.”

“Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível.”

“Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para a sua ambição.”

“Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar os outros.”

“O que destrói a humanidade: A política, sem princípios; o prazer, sem compromisso; a riqueza, sem trabalho; a sabedoria, sem caráter; os negócios, sem moral; a ciência, sem humanidade; a oração, sem caridade.” 

* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.