Oportunidade de emprego
O momento atual desafia a esperança de milhões de brasileiros. Muitos sequer conseguiram conquistar o primeiro emprego. Outros, desempregados, foram obrigados primeiro a postergar sonhos e, em seguida, tornarem-se inadimplentes das faturas cotidianas: o cartão de crédito, o condomínio, a escola das crianças, o seguro saúde, o seguro do carro, o próprio carro e, agora, até mesmo o fornecimento de água e energia.
Se para o cidadão comum a situação é hostil, o que não dizer para as pessoas com deficiência? As oportunidades de trabalho nunca foram favoráveis a elas, independentemente de quantos cursos e qualificações tenham acumulado em seus currículos.
A despeito da lei 8.213, de julho de 1991, que instituiu a obrigatoriedade de cotas de emprego para pessoas com deficiência em empresas com mais de 100 funcionários, há um descompasso com a realidade.
Coisa séria
Talvez um de nossos problemas mais sérios, no âmbito das políticas públicas, seja o fato de projetos e leis serem aprovados, sem que os legisladores tenham pleno conhecimento de dois pontos básicos: se o que propõem é viável e de que maneira isso afetará a população.
É claro que uma lei que incentive a contratação de pessoas com deficiência deve ser aplaudida. No entanto, ela contempla os fins, sem avaliar os meios. Um dos aspectos mais limitadores para a recepção de deficientes é a estrutura física das empresas. Suas instalações, em edificações muitas vezes alugadas, são inadequadas à mobilidade. A ausência de rampas de acesso, portas e corredores estreitos e banheiros não adaptados são os entraves mais comuns. Reformas poderiam solucionar a questão, mas isso implica gastos não previstos.
Outro aspecto para que pessoas com deficiência continuem à margem do mercado de trabalho tem a ver com o comportamento, de ambas as partes, contratantes e contratados. Ao longo dos últimos 25 anos, várias instituições empenhadas na promoção social e profissional de pessoas com deficiência têm exercido papel relevante. Realizam palestras e cursos nas empresas, para esclarecer dúvidas e preparar equipes para bem receberem colegas deficientes. De outro lado, capacitam pessoas com deficiência, oferecendo-lhes formação técnica, cursos de reciclagem e por aí afora. Neste quesito, as coisas estão um pouco melhores, mas não de todo resolvidas. O preconceito ainda existe e inibe contratações.
Para muitos casos, o trabalho em regime de home office seria uma alternativa. Mesmo assim, alguns empregadores precisariam investir nos equipamentos à disposição de seus contratados. Nem todo deficiente visual, por exemplo, tem condições de adquirir um programa de voz para fazer uso de um computador em casa.
PCD na Construção
A sigla PCD refere-se a pessoas com deficiência e foi escolhida para dar nome a uma iniciativa do Fórum de Ação Social e Cidadania (Fasc) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) com o Sesi Nacional. Trata-se do hotsite “PCD na Construção”, lançado nesta sexta-feira, 13 de maio, no 88º. Encontro Nacional da Indústria da Construção, em Foz do Iguaçu (PR).
O objetivo do hotsite é auxiliar as empresas do setor de Construção com um passo a passo para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A partir de múltiplas funções, permite encontrar profissionais e saber como recrutá-los; avaliar os cuidados para o exame admissional e acompanhamento de um novo colaborador; identificar necessidades de treinamento da equipe que recebe um colega com deficiência, orientar a adaptação do canteiro de obras às exigências de acessibilidade.
O hotsite “PCD na Construção” parece ser bastante completo. Todo o país foi mapeado, no sentido de facilitar o acesso à informação sobre associações voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência e sobre cursos de capacitação. Espero que sirva de exemplo para outros setores igualmente ampliarem a contratação de deficientes.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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