Legado olímpico
Legado é a palavra da vez neste momento olímpico. Ela já havia se destacado nas declarações de todos os que participaram da fase preparatória do evento. Está ainda mais presente no vocabulário dos que agora se desdobram para que tudo funcione a contento durante a Olimpíada Rio-2016. Foi definitivamente incorporada ao discurso daqueles que aproveitam a oportunidade para lançar programas sociais, esportivos e culturais.
A cidade do Rio de Janeiro transformou-se na principal beneficiária de muitos legados, embora alguns deles sejam extensivos ao país indiretamente, uma vez que algumas competições foram programadas para outras capitais.
Além desses legados, que se traduzem em edifícios, quadras e ginásios esportivos, meios de transporte, revitalização urbana e muitas coisas mais, há outro, muito falado, mas aparentemente imperceptível. O espírito olímpico é legado para se refletir e praticar, inclusive fora das arenas de competição.
O exemplo como herança
A história dos jogos olímpicos e as histórias dos atletas que participam da Olimpíada, em especial aquelas de brasileiros que enfrentaram inúmeras dificuldades para chegar ao nível em que se encontram, são bons exemplos para a formação de crianças e jovens.
Pais e educadores têm nesta oportunidade elementos de sobra para despertar o interesse de filhos e alunos para os esportes. A descoberta de modalidades pouco conhecidas entre nós, e associadas a questões comportamentais, são da maior importância na atualidade: o respeito à diversidade; a superação de desafios; o equilíbrio emocional; o exercício físico e a alimentação balanceada.
A saúde vem sendo abalada pela obesidade, uma doença que só aumenta entre crianças e jovens década após década em todo o mundo. Muitos fatores contribuem para essa situação alarmante e podem ser agrupados sob a expressão “estilo de vida”. Nosso estilo de vida leva ao consumo de alimentos calóricos, ricos em gorduras e açúcares, e ao sedentarismo. A maioria dos adultos confunde conforto e qualidade de vida com ociosidade e excesso, seja de bebidas, seja de alimentos. Crianças e adolescentes seguem o padrão doméstico e ficam cada vez mais parados diante das telas do computador, do vídeo-game, do celular.
Como se não bastasse o fato em si, pesquisas têm demonstrado que crianças e jovens obesos têm mais riscos de se tornarem adultos propensos a doenças crônicas, tais como as cardiovasculares, o diabetes, os muitos tipos de câncer. Por isso, hábitos alimentares saudáveis e exercícios físicos são imperiosos para todos desde cedo.
É claro que há uma prática esportiva mais adequada para cada faixa etária, e saber mais sobre todas as modalidades existentes já é um dos legados que a Olimpíada pode nos proporcionar. Os outros legados virão com a participação de pais e educadores, em casa e na escola. Adultos também precisam se mexer -- e com urgência.
O que dizem os números
Mundialmente, cerca de 41 milhões de crianças com até cinco anos de idade estão acima do peso, segundo números divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em janeiro deste ano. Na América Latina, a taxa de obesidade entre as crianças chega a 8% e é superior à média mundial (em torno de 6%). Com relação aos adultos, em algumas regiões, principalmente Sul e Sudeste do país, mas também em algumas cidades do Nordeste, como Fortaleza e Maceió, mais da metade da população já pode ser considerada obesa.
Temos na Olimpíada a oportunidade de conhecer melhor 42 modalidades de 33 esportes. A Paraolimpíada que se segue a ela apresentará mais provas em 23 modalidades. Fica o convite para que os exemplos dos atletas e as características inerentes a cada esporte sejam motivadores para que crianças, jovens e adultos adotem um novo estilo de vida, mais saudável e sujeito a premiações. Por que não?
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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