Leituras à brasileira
Quantos livros você leu este ano? É certo que 2016 ainda não terminou e temos mais dois meses para fechar a conta. Mas, pelo lido até agora, já dá para se ter uma noção.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil revelou que o número de leitores aumentou. No levantamento anterior, leitores eram 50% da população. Em 2015, leitores correspondiam a 56% dos brasileiros. A média de leitura por brasileiro também subiu. Ficou em quase cinco livros por ano (4,96 livros, dos quais 0,94 são indicados pela escola e 2,88 são lidos espontaneamente).
Os números fracionados confundem um pouco. Mas, são importantes para registrar que entre a pesquisa anterior e essa colocamos quase que um livro a mais na estante. Em 2011, a média era de quatro livros por leitor.
Essa pesquisa, realizada pelo Ibope para instituições que respondem pelo mercado editorial no Brasil (Instituto Pró-Livro, Câmara Brasileira do Livro e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares), foi amplamente divulgada em maio deste ano.
O crescimento do índice de leitura é para ser comemorado. Cada vez mais crianças e jovens se interessam por livros no Brasil, embora, no todo, o leitor brasileiro ainda esteja muito aquém das expectativas. Do indicador de quase cinco livros lidos ao ano, a pesquisa do Ibope também apurou que apenas 2,43 deles foram lidos na íntegra, enquanto 2,53 foram lidos em partes.
Conteúdo diversificado
Fui às indicações de jornais e revistas para aprender um pouco sobre as preferências nacionais. Em 2013, entre os livros mais procurados estavam “50 tons de cinza” (E. L. James), “Nada a perder” (Edir Macedo) e “Morte Súbita” (J. K. Rowling). Compramos por curiosidade, fé ou desejo de aventura?
Em 2014, “Nada a perder” se manteve disparado na frente. Por sinal, não se trata de um título, mas de uma série lançada pelo pastor. Outros livros bastante procurados foram “A culpa é das estrelas” (John Green), que virou filme, e “Ansiedade – Como enfrentar o mal do século” (Augusto Cury). Os dois autores aparecem com destaque na pesquisa do Ibope, quando os leitores foram perguntados sobre escritores preferidos.
Em 2015, os livros de colorir para adultos foram os campeões de vendagem. Entre os três primeiros eleitos do ano estavam “Jardim secreto” e “Floresta encantada”, ambos de Johanna Basford, e “Philia”, do padre Marcelo Rossi.
Até julho de 2016, as opções dos leitores recaíram sobre “Ruah” e “Philia”, do padre Marcelo Rossi e “Como eu era antes de você” e “Depois de você”, de Jojo Moyes.
É claro que nas listas de mais vendidos, que sempre contemplam 10 ou mais títulos por categoria – ficção, não ficção, autoajuda, negócios, infantis, infantojuvenil e assim por diante – há títulos e autores que revelam muito sobre o gosto de leitura dos brasileiros, que resumo em duas palavras: diversificado e contemporâneo.
Residual
De volta à pesquisa do Ibope, quando perguntados sobre os seus escritores preferidos, os entrevistados indicaram Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Maurício de Souza, Augusto Cury, Zibia Gasparetto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Chico Xavier, John Green, Ada Pellegrini, Vinícius de Moraes, José de Alencar e padre Marcelo Rossi.
É curioso notar que entre os nomes relacionados surgem expoentes da literatura brasileira em meio aos contemporâneos. Três poetas são destacados e, no entanto, livro de poesia deve ser coisa rara em termos de vendas no país.
De qualquer modo, é sempre um alento saber do residual deixado pela poesia, pela boa literatura.
Para encerrar, lembro que o primeiro livro editado no Brasil foi um poema: “Marília de Dirceu”, do português Tomás Antonio Gonzaga. Lembro também que no 29 de outubro festejamos mais um Dia Nacional do Livro, em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, em 1810. Dom João VI anteviu que mais dia, menos dia nós gostaríamos de ler.
* Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna.
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