Mulheres nas exatas: Yes, we can!
Priscila Cruz
Priscila Cruz
https://educacao.uol.com.br/colunas/priscila-cruz/Fundadora e presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação. Graduada em administração (FGV) e direito (USP), mestre em administração pública (Harvard Kennedy School), foi coordenadora do ano do voluntariado no Brasil e do Instituto Faça Parte, que ajudou a fundar.
07/03/2018 04h00
Desde que nascemos, vivemos cercados por narrativas sobre nosso lugar no mundo - o que podemos ou não fazer. Nos últimos anos, felizmente, estamos contestando essas histórias e substituindo as afirmações pela pergunta: mas será que eu não posso mesmo?
O fenômeno é especialmente importante para as mulheres que têm se permitido experimentar novos ramos de atuação sem as amarras dos estereótipos. Mulheres que não se limitam a pertencer às atividades que lhes impuseram e que hoje se destacam nas ciências e nas exatas.
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Essa ocupação de espaços e funções historicamente masculinos ainda é lenta, mas relevante o suficiente para obrigar o universo do entretenimento e do consumo a reajustar seus roteiros. Os papéis femininos passaram de assistentes, com roupas minúsculas, a cientistas que mudaram o rumo da história, como no filme Estrelas Além do Tempo (Theodore Melfi, 2h07), longa-metragem indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2017, que conta a trajetória de três matemáticas negras pioneiras na Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço).
A representatividade mostra às meninas que elas podem transitar entre saberes, que ciência também é para elas. No entanto, isso é apenas parte da batalha. Se quisermos que tais oportunidades se espalhem pelo Brasil, não podemos mais adiar uma Educação de qualidade e igualitária.
Ainda que tenhamos avançado no número de estudantes mulheres que perseguem carreira nas ciências e exatas (hoje, elas são 47% dos bolsistas do CNPq em ciências e tecnologia), precisamos impulsionar o interesse delas nesses campos desde cedo, o que significa envolver toda a sociedade, família e escola desde a Primeira Infância. Recalibrar a maneira como socializamos nossos meninos e meninas desde pequenos faz parte dessa força tarefa; o modo e sobre o que os elogiamos, por exemplo, já são indícios das expectativas que depositamos em nossas crianças.
E engana-se quem pensa que esse é um assunto só das mulheres. Diante dos avanços tecnológicos, o mundo está cada vez mais interconectado e interdisciplinar, exigindo um grande número de pessoas capazes de criar soluções para problemas complexos. Muitas são as mulheres que captaram essa mensagem e têm descoberto como melhorar a vida de todos nós. É o caso de Fernanda Werneck, ganhadora do prêmio “Para Mulheres na Ciência” 2017, da L’Oréal e da Unesco, com uma pesquisa sobre o impacto do aquecimento global na vida animal. Outra história inspiradora é a de Joana D’Arc Felix de Souza, Doutora em Química pela Universidade de Harvard, que deixou para trás uma história de privações para hoje acumular 56 prêmios. A Organização Think Olga reuniu em uma lista as mulheres mais inspiradoras de 2017 na área. Confira.
Não existem quaisquer estudos que comprovem diferença na capacidade de aprender entre meninos e meninas; por outro lado, dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontam que elas têm menor interesse em ciências e estudos técnicos devido a estereótipos e sexismos que permeiam a escola e a família. Para mudar esse quadro, iniciativas ainda na Educação Básica são o empurrão que muitas delas precisam, projetos como os impulsionados pelo programa Elas nas Exatas, uma parceria entre o Fundo Elas, o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas.
Quanto mais estimularmos nossas meninas a se imaginarem como grandes cientistas, mais tecnologia e ciências aplicadas teremos. Fernandas e Joanas deixarão de ser exceções.