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Teatro no Renascimento (1) - A comédia como a conhecemos hoje

Valéria Peixoto de Alencar*, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Durante a idade média, na Europa, o teatro tinha um papel muito importante para a igreja católica. A produção e a apresentação de peças religiosas atingiram seu auge no século 14. Mas a situação se transformou no século 15, com a decadência do teatro ligado à religião, devido ao impacto do renascimento. O homem, e não Deus, passa a protagonizar a cena!

Não foi por acaso que a figura do bobo da corte se tornou popular durante o renascimento, embora o personagem tivesse nascido na antigüidade. Depois de ter passado sem destaque durante a idade média, o bobo ganhou espaço no teatro renascentista, articulando as dúvidas e incertezas de um momento de grande transformação ideológica.



A "Commedia dell'Arte"

Surgiu na Itália, ainda durante a idade média. Eram espetáculos teatrais populares, apresentados nas ruas, sem texto fixo. Caracterizavam-se também pela utilização de máscaras e pela presença de personagens como Arlequim, Pierrot, Colombina, Polichinelo, Pantaleão, Briguela.





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"Pierrot, Arlequim e Colombina", por Di Cavalcanti (1922).


Provavelmente você já ouviu falar de alguns desses personagens, que fazem parte inclusive do carnaval brasileiro.

O sucesso dessa comédia popular instigou a curiosidade dos príncipes e intelectuais. O apelo a todos os sentidos, por meio da música, dança e mímica explica a aceitação que o gênero ganhou entre o público. Das ruas, a comédia passou aos palácios, onde se aperfeiçoou e enriqueceu. Com a "Commedia dell'Arte", a Itália viu nascer os primeiros atores profissionais em companhias organizadas.



A base da comédia atual

O tema das peças tinha diversas fontes: comédias antigas, pastorais, contos, peças populares, eruditas etc. Muitas vezes falava de um casal apaixonado que precisava fugir para se casar, pois o pai da mocinha opunha-se ao enlace. Os criados cômicos eram os personagens mais conhecidos. Em geral era uma dupla, um inteligente e ardiloso e o outro, meio idiota.

As peças tinham três atos, precedidos de um prólogo, e muita rixa, acessos de loucura, duelos, aparições, pancadaria, disfarces, raptos, enganos e desenganos. A estrutura, basicamente, sobreviveu e chegou até as comédias dos dias de hoje.



Molière, pai do teatro francêss

O comediógrafo francês mais importante foi Molière, cujo nome real é Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673), considerado o patrono dos atores franceses. Além de escritor, foi encenador e ator. Sua obra tem forte influência da "Commedia dell'Arte".

Durante 12 anos, Jean-Baptiste excursionou como ator pelo interior da França, iniciando também sua carreira de autor. Em 1643, fundou a companhia de teatro (Trupe) e em 1645 adotou o pseudônimo Molière.



Fazer rir é mais difícil

A companhia faliu, e Molière foi parar na prisão, por causa de dívidas. Fundou depois outra companhia com a ajuda do mecenas (patrocinador) Príncipe Conti. Em 1658, em Paris, representou no museu do Louvre, diante da Corte de Luís 14.

Produzindo numa época em que a tragédia era mais respeitada, por ser considerada "a única forma digna de homens sérios", Molière procurou elevar a comédia à mesma categoria.

Segundo suas próprias palavras: "Talvez não se exagerasse considerando a comédia mais difícil que a tragédia. Porque, afinal, acho bem mais fácil apoiar-se nos grandes sentimentos, desafiar em versos a Fortuna, acusar o Destino e injuriar os Deuses do que apreender o ridículo dos homens e tornar divertidos no teatro os defeitos humanos". ("Crítica da Escola de Mulheres")

Também é considerado o primeiro diretor teatral, da forma como concebemos hoje: ensaiando longamente os espetáculos, atento aos menores detalhes. Criou textos que ressaltavam suas qualidades. Para explorar os melhores talentos de sua trupe, adaptava os papéis aos atores.

Suas principais peças foram "As Preciosas Ridículas", "Escola de Maridos", "Escola de Mulheres", "A Crítica da Escola de Mulheres", "Tartufo", "Don Juan", "O Misantropo", "Georges Dandin", "O Avarento" e "O Doente Imaginário".



A comédia francesa

Originalmente, a "Comédie-Française" foi a Sociedade dos Comediantes Franceses. A designação serviu para diferenciá-la da Sociedade dos Comediantes Italianos e da Comédia Italiana.

Foi fundada por Luís 14, em 1680, para juntar duas companhias parisienses, a do Hôtel de Bourgogne e a do Teatro Guénégaud - no caso desta, surgida após a morte de Molière, com atores de sua companhia.

A "Comédie-Française" ou "Théâtre-Française" é o único teatro, atualmente, a ser gerido por uma sociedade ao mesmo tempo artística, comercial e estatal (o governo francês participa com 80% do orçamento) e um dos únicos com uma companhia permanente de atores.

Na Inglaterra, o teatro renascentista também teve muita importância.



 

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