'Brain rot' é eleita palavra do ano do dicionário de Oxford; o que é isso?
Colaboração para o UOL*
02/12/2024 14h29Atualizada em 02/12/2024 14h29
O termo "brain rot" foi escolhido como a palavra do ano de 2024 pelos estudiosos por trás do Dicionário Oxford de Inglês, anunciou a Oxford University Press nesta segunda (2).
O que significa?
"Brain rot" foi definida como a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa. Ainda segundo o dicionário, este desgaste é visto como resultado do consumo exagerado de conteúdo (especialmente online) que é considerado banal ou pouco desafiador. A expressão pode ainda ser usada em qualquer situação que leve a um desgaste mental semelhante, mesmo em ambiente offline.
Escolha foi popular. Os especialistas que contribuem com o dicionário notaram que o termo ganhava proeminência nas redes sociais — houve um aumento no uso da expressão de 230% entre 2023 e 2024. Então ela foi parar na lista de finalistas e venceu após uma eleição de 37 mil votos, ultrapassando as outras candidatas:
- "Demure": pessoa reservada ou contida em aparência ou comportamento. Em relação a roupas, pode indicar um traje que não é chamativo, pomposo ou revelador. Termo viralizou no TikTok em agosto em contraste com a ousadia de estrelas pop do momento, como Charli XCX.
- "Lore": conjunto de fatos, informações contextuais ou anedotas que se refere a alguém ou algo, tido como um conhecimento exigido para o entendimento completo ou uma discussão consciente do tema em questão. Termo é muito utilizado para se referir a uma série de informações antigas/contextuais sobre celebridades, filmes, séries ou livros.
- "Romantasy": gênero de ficção que combina elementos de fantasia e romance, tipicamente incluindo temas de magia, sobrenaturalidade ou aventura com uma trama central romântica.
- "Slop": arte, texto ou outro tipo de conteúdo criado usando inteligência artificial, compartilhado ou distribuído online de forma indiscriminada, ou inoportuna. É caracterizado como de baixa qualidade, pouco preciso ou falso.
- "Dynamic pricing": o preço dinâmico é a prática de variar o custo de um serviço ou produto de acordo com as condições do mercado, como fazem aplicativos de viagem. Ele é muito utilizado quando a demanda cresce e o valor aumenta.
Origem de brain rot
Expressão foi usada pela primeira vez em 1854. Foi o escritor Henry David Thoreau que registrou o primeiro uso escrito de "brain rot" em seu clássico "Walden". Na obra, ele utiliza o termo para criticar a tendência da sociedade de desvalorizar ideias complexas que podem ser interpretadas de diversas formas, e preferir outras mais simples — o que indicaria um declínio geral mental e de esforço intelectual.
Enquanto a Inglaterra tenta curar a praga das batatas, não haverá nenhum esforço para curar a "podridão mental" — que prevalece tão mais ampla e fatalmente?
Henry David Thoreau, em "Walden".
A podridão mental a que Thoreay se refere é o sentido original do termo "brain rot", adaptado hoje ao consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade.
Palavra do ano é favorita das gerações Z e alfa, dizem especialistas. Segundo o time do Oxford, foi observada uma adoção maior ao "brain rot" especialmente entre os mais jovens (das crianças até 29 anos), o que foi considerado preocupante.
Acho fascinante que o termo 'brain rot' tenha sido adotado pelas gerações Z e alfa, estas comunidades que são largamente responsáveis pelo uso e criação de conteúdo digital a que a expressão se refere. Estes grupos amplificaram a expressão através das redes sociais, o exato local que dizem causar 'brain rot'. Demonstra uma consciência de si um pouco provocadora que as novas gerações têm do impacto danoso das redes que herdaram.
Casper Grathwohl, presidente da Oxford Languages, em comunicado à imprensa.
Cérebro está 'apodrecendo' online?
A palavra voltou à moda em 2007, após estudos sobre riscos do uso excessivo de redes sociais. A oficialização de um distúrbio chamado de "Uso problemático das mídias interativas", definido pelo Hospital Pediátrico de Boston, nos Estados Unidos, fez com que o termo se tornasse popular.
Especialistas se dedicam a estudar o fenômeno. O pediatra Michael Rich, responsável pelo Laboratório do Bem-Estar Digital no hospital, conta que o termo "descreve o que acontece quando você passa tanto tempo online, transferindo sua consciência para esse ambiente, e não mais para a vida real", causando uma obsessão pelo que foi postado ou pelo que pode ser postado.
"Brain rot" pode ser consequência de outras doenças. Em muitos casos, a "podridão cerebral" causada pelo uso sem controle da internet é resultado de outros distúrbios presentes e até mesmo escondidos. Esses usuários se sentem entorpecidos ao rolar feeds sem esforço ou em longas sessões de jogos online. A dependência das telas é um problema que pode afetar vários campos, como relacionamentos e trabalho.
Utilização excessiva de jargões da internet e memes pode ser sinal de super conexão com conteúdos online. E há usuários que brincam sofrer com a condição, muitas vezes fazendo paródias e piadas. Algumas contas nas redes sociais são dedicadas à criação de conteúdo "brain rot", como o usuário no TikTok "Fort History", que recria cenas de filmes e programas de TV com a linguagem mais recente da internet.
Buscar tratamento é necessário. O instituto norte-americano Newport, que cuida da saúde mental de jovens, passou a recrutar pacientes que sofrem de "brain rot", estimulando que pais cujos filhos têm dependência de telas e vício digital considerem tratamento.
*Com informações de matéria publicada em 27/06/2024.