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Abelhas (3) - Desaparecimento de abelhas intriga cientistas dos EUA

Cynthia Santos, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

O distúrbio do colapso das colônias - síndrome conhecida pela sigla CCD, em inglês - foi detectado pela primeira vez na Europa no ano de 2006. Nos Estados Unidos, o problema foi reportado no final do ano passado e se espalhou por cerca de 27 estados americanos, causando a perda de mais de 25% das 2,4 milhões de colmeias do país.

A síndrome foi detectada quando se encontraram colmeias cheias de mel, larvas e a rainha, mas com pouquíssimas abelhas adultas. Estas, ao voarem para coletar néctar e pólen, não voltavam mais às colmeias. O mel das colmeias abandonadas não era roubado pelas abelhas de colônias ativas na mesma área, o que indica que as abelhas saudáveis evitam as colmeias abandonadas.

Muito se especulou a respeito das possíveis causas do desaparecimento das abelhas. As pessoas culpavam os alimentos transgênicos, as mudanças climáticas e até as torres de telefonia celular e as linhas de transmissão de alta-voltagem.

 

Agentes polinizadores

Os cientistas sentiram uma grande urgência em resolver esse mistério. Não somente pelos produtos oriundos da apicultura, como o mel, o própolis, a geleia real e a cera, mas sobretudo pela importância que as abelhas têm como agentes polinizadores.

Elas são os principais polinizadores de mais de 90 plantas cultivadas na agricultura americana, como maçãs, amêndoas, melões e pepinos. Para você ter uma ideia dessa importância, metade das colmeias dos EUA são necessárias para a polinização de amendoeiras.

 

Teorias dos cientistas

Uma das teorias aceitas atualmente pelos pesquisadores é a contaminação por pesticidas. Os cientistas constataram que os inseticidas utilizados para matar os ácaros que parasitam as abelhas estão prejudicando a capacidade reprodutiva das rainhas, diminuindo assim, o número de operárias.

Outro inseticida, banido na França, por haver suspeita de estar relacionado com a destruição de colônias de abelhas, não causava a morte direta dos insetos, mas a sua desorientação: eles permaneciam longe da colmeia e acabavam morrendo por exposição ao frio. Esse inseticida e outras 116 substâncias químicas serão testadas pelo laboratório do Departamento de Agricultura da Carolina do Norte, nos EUA.

Uma das hipóteses levantadas pelos cientistas é que o transporte das colmeias em caminhões, de costa a costa dos EUA, esteja causando um grande estresse nas abelhas, o que enfraquece o sistema imunológico desses animais, tornando-os mais suscetíveis a doenças. Além disso, o transporte das colmeias por grandes distâncias e o ambiente confinado dos caminhões propicia a disseminação de organismos patogênicos.

Uma alimentação inadequada seria outro fator estressante, relacionado à superpopulação de abelhas nos apiários, à polinização de plantas com baixo valor nutritivo ou a um suprimento insuficiente de pólen e/ou néctar.

 

Novas descobertas

Em um estudo liderado pela Dra. Diana Cox-Foster, entomologista da Universidade do Estado da Pensilvânia, e pelo Dr. Jeffrey S. Pettis, entomologista do Departamento de Agricultura dos EUA, foram realizadas esterilizações com raios gama, os quais destroem DNA, em colmeias abandonadas.

Após a esterilização, as colônias puderam ser repovoadas com abelhas saudáveis. Isso indica que um agente infeccioso está envolvido no distúrbio do colapso das colônias. Segundo a Dra. Cox-Foster, "seria difícil explicar a irradiação eliminando uma composto químico." Após essa constatação, o Dr. W. Ian Lipkin, da Universidade de Columbia, foi convencido pela Dra. Cox-Foster a analisar geneticamente os tecidos das abelhas provenientes de colônias abandonadas em busca de agentes infecciosos.

Os primeiros resultados obtidos pela equipe do Dr. Lipkin mostraram que as abelhas das colônias abandonadas apresentavam vários microorganismos. Os cientistas examinaram o DNA de todos os organismos presentes nas abelhas e os compararam com o DNA de bibliotecas genômicas, um catálogo de organismos conhecidos.

 

Paralisia aguda

Foram encontrados, entre outros agentes infecciosos, o vírus israelense de paralisia aguda (IAPV), o vírus KBV e o protozoário Nosema ceranae. Os dois últimos microorganismos foram encontrados em cerca de 80% das colmeias saudáveis. Portanto, a ligação desses agentes patogênicos com o distúrbio do colapso das colmeias foi descartada. Já o vírus israelense de paralisia aguda parece estar fortemente associado às operações de apicultura que sofreram grandes perdas.

No entanto, é importante ressaltar que o Dr. Lipkin e colaboradores não provaram que o vírus causou a morte das abelhas. Segundo o cientista, podem existir outros fatores envolvidos no distúrbio. O próximo passo nas pesquisas será infectar intencionalmente dois grupos diferentes de colônias de abelhas com o vírus israelense - um grupo com e outro sem influências de outros fatores - e comparar os resultados obtidos.

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