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Vaquejadas e cavalhadas - Festas de origem medieval usam cavalo

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Peões e vaqueiros são homens do campo. Podem se diferenciar no sotaque e nas roupas, mas seu trabalho basicamente é o mesmo. No Pampa, o peão de estância é domador. Usa chapéu de abas largas, bota, lenço e espora. Não se separa da chaleira, do chimarrão e do laço. Sob o forte sol goiano ou maranhense, é o vaqueiro se prepara para o mesmo serviço, o qual, para ele, também é diversão.

Depois que o sol se põe, de norte a sul do país, a poesia e a música amenizam a solidão de quem cumpriu uma dura jornada. Para viola ou sanfona, são muitas as melodias inspiradas na vida de quem cuida dos rebanhos. É o caso da célebre "Menino da Porteira", de Sérgio Reis (), um clássico da música sertaneja.

Quando se fala nas festas e orações de boiadeiros, porém, não se pode esquecer de seu companheiro de todas as horas: o cavalo. Ele também tem todo o direito de participar delas. São muitas as tradições populares que envolvem o vaqueiro, sua montaria e o gado.

Vaquejadas
As vaquejadas são uma recreação popular tradicional do ciclo do gado nordestino. Têm origem nas viagens de boiadeiros, nas comitivas que levavam o gado e comemoravam o encerramento de alguma etapa de trabalho. Acontecem até os dias atuais, sobretudo no Nordeste: em Pernambuco, na Paraíba; em Alagoas, no Rio Grande do Norte, no Maranhão e no Ceará.

A atividade se desenrola em um circo ou em uma arena fechada, onde peões e vaqueiros mostram sua habilidade com os cavalos e os bois, participando de provas como laçar, apartar e marcar o gado. Mas existem outros atrativos para os espectadores e participantes, como bailes, leilões e exposições de animais.

No mês de setembro. acontece a Grande Vaquejada de Quixeramobim, no Ceará. Vaqueiros de vários estados do Nordeste se reúnem para a grande disputa entre várias duplas de cavaleiros, cujo objetivo é derrubar o boi pela cauda no menor espaço de tempo. A animação fica a cargo de bandas de forró.

Em Pernambuco, as cidades de Caruaru e Surubim apresentam os maiores festejos, com grande participação de repentistas, violeiros e bandas de pífaros. Paralelamente à vaquejada propriamente dita, armam-se parque de diversões e barracas com bebidas e comidas típicas.

Missa do vaqueiro
No município de Serrita, no mesmo Estado, situa-se o Parque Nacional do Vaqueiro (Sitio das Lajes), onde se realiza em julho a Missa do Vaqueiro - uma manifestação de fé católica iniciada pelos companheiros de Raimundo Jacó, vaqueiro nordestino morto em 1954. Trata-se de uma missa ao ar livre, que os fiéis assistem montados em seus cavalos

Durante a celebração, os vaqueiros ofertam pequenos pertences e peças do vestuário típico, feito de couro cru. Depois, comungam os alimentos cotidianos: carne-de-sol, rapadura e farinha de mandioca. Na sexta-feira que antecede a missa, acontecem vaquejadas, desafios e forrós.

Cavalhadas
As cavalhadas são grandes encenações que lembram as lendárias batalhas medievais de Carlos Magno e os Doze Pares da França contra os mouros. A representação acontece em campo aberto, em uma espécie de torneio onde 12 cavaleiros vestidos de vermelho representando os mouros, e 12 cavaleiros de azul representando os cristãos, se enfrentam.

O enredo tem várias fases. Começa com a apresentação dos combatentes; a luta com manejos de espadas, lanças e tiros de festim; troca de embaixadas, desafios, pedidos de trégua e, por fim, a conversão e batismo dos mouros. A simulação do combate pode ser feita por os hábeis cavaleiros que fazem evoluções com seus animais ou com cavalos-de-pau enfeitados.

As cavalhadas acontecem de Norte a Sul do país, por vezes integrada a outras festas folclóricas, como Corpus Christi. Uma das mais famosas é a de Pirenópolis, em Goiás, que ocorre simultaneamente à festa do Divino (sete semanas depois de Pentecostes) e reúne cerca de 30 mil pessoas. Fazem parte da festa congadas, pastorinhas, dança de fitas, bandas e cavaleiros mascarados com cabeças de bois. Paralelamente, acontecem missas, procissões, há barraquinhas de comes e bebes, queima de fogos e shows musicais.

Existe ainda uma outra modalidade de Cavalhada, com trechos do mesmo enredo. Ela termina, porém, com o jogo das argolas - uma brincadeira genuinamente medieval. No centro do campo coloca-se um suporte de madeira, em que pende uma argola de metal presa por um cordão. Os cavaleiros devem passar galopando e tirar a argola do suporte com a ponta de uma lança.

Rodeios
Em algumas cidades, os rodeios substituíram as cavalhadas. Atualmente, porém, seguem o estilo norte-americano. Nos últimos anos, tornaram-se cada vez mais populares, em especial no interior paulista. São a principal atração das festas de peão de boiadeiro. Em São Paulo, a mais famosa acontece em Barretos, no mês de agosto.

Começa com a "queima do alho", numa referência às paradas para refeição das tropas, e segue com apresentações de grupos folclóricos e provas equestres. A Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos nasceu em 1955 e foi realizada no ano seguinte embaixo de uma de lona de circo. Houve desfile de carros de bois, disputas no pau de sebo e conjuntos de violeiros. Em 1989, inaugurou-se o Estádio de Rodeios, projetado por Oscar Niemeyer, com capacidade para 35 mil espectadores sentados.

Cavalgadas
Cavaleiros também se reúnem ou marcham com finalidade religiosa ou por lazer. Por todo o Brasil, numerosas romarias a cavalo ocorrem regularmente rumo aos tradicionais centros de peregrinação das diversas regiões. Algumas chegam a reunir mais de 1500 participantes.

As cavalgadas apresentam um nível de organização hierarquizado, conservando traços de origem medieval. Seus integrantes, cavaleiros e amazonas de todas as faixas etárias e classes sociais, participam com devoção das festas em homenagem aos santos (São Benedito, São Jorge, Nossa Senhora Aparecida, etc), programadas durante o ano.