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René Descartes - O método cartesiano e a revolução na história da filosofia

René Descartes - wikimedia commons
René Descartes Imagem: wikimedia commons

Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

(Atualizado em 10/02/2014, às 16h48)

Certamente você já ouviu a célebre expressão "Penso, logo existo", não ouviu? A origem dessa expressão está na obra do filósofo francês René Descartes (1596-1650). Por essa expressão, no entanto, é difícil avaliar a revolução iniciada por Descartes na história da filosofia. René Descartes foi o maior expoente do chamado racionalismo clássico - movimento que deu ao mundo filósofos tão brilhantes como Francis Bacon, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, John Locke e Isaac Newton.

O século 17 assistiu a grandes inovações no campo da ciência e do pensamento. Marcado pelo absolutismo monárquico (concentração de todos os poderes nas mãos do rei) e pela Contra-Reforma (reafirmação da doutrina católica em oposição ao crescimento do protestantismo), essa época viu nascer o método experimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do universo, que deu origem a todas as ciências modernas.

Discurso do Método

O "Discurso do Método" foi a obra em que Descartes lançou as bases do pensamento que viria modificar toda a história da filosofia. Alguns anos depois suas ideias foram retomadas nas "Meditações". O filósofo estava disposto a encontrar uma base sólida para servir de alicerce a todo conhecimento. Na época, a filosofia não se distinguia das outras ciências e o livro deveria ser uma introdução para três escritos científicos, voltados para a meteorologia, a geometria, e o estudo do corpo humano.

Ao buscar um alicerce novo para a filosofia, Descartes rompeu com a tradição aristotélica e com o pensamento escolástico, que dominou a filosofia no período medieval. A separação entre sujeito e objeto do conhecimento tornou-se fundamental para toda a filosofia moderna.

No "Discurso do método", publicado em 1637, Descartes elaborou uma espécie de autobiografia intelectual, em que conta em primeira pessoa os fatos e as reflexões que o fizeram buscar um princípio seguro para edificar as ciências. Descreve também os passos que o levaram à fundação de seu método - o percurso que vai da dúvida sistemática à certeza da existência de um sujeito pensante.

Dúvida metódica

Para fundamentar o conhecimento, o filósofo deve rejeitar como falso tudo aquilo que possa ser posto em dúvida. A dúvida é, portanto, um momento necessário para a descoberta da substância pensante, da realidade do sujeito que pensa. Através da dúvida metódica, o filósofo chega à descoberta de sua própria existência enquanto substância pensante. A palavra cogito (penso) deriva da expressão latina cogito ergo sum (penso logo existo) e remete à auto-evidência do sujeito pensante . O cogito é a certeza que o sujeito pensante tem da sua existência enquanto tal.

No fragmento abaixo, podemos observar como o filósofo explica o percurso que o levou à descoberta do cogito (a certeza que o sujeito pensante tem de sua própria existência) - base todo seu pensamento filosófico.

“A partir do momento em que desejava dedicar-me exclusivamente à pesquisa da verdade, pensei que deveria rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida, com a intenção de verificar se, depois disso, não restaria algo em minha educação que fosse inteiramente indubitável.
Desse modo, considerando que nossos sentidos às vezes nos enganam, quis supor que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar. Por haver homens que se enganam ao raciocinar, mesmo no que se refere às mais simples noções de geometria (...), rejeitei como falsas, julgando que estava sujeito a me enganar como qualquer outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações. (...)
Logo em seguida, porém, percebi que, enquanto eu queria pensar assim que tudo era falso, convinha necessariamente que eu, que pensava, fosse alguma coisa. Ao notar que esta verdade penso, logo existo, era tão sólida e tão correta (...), julguei que podia acatá-la sem escrúpulo como o primeiro princípio da filosofia que eu procurava.”

René Descartes, “Discurso do Método”