África - Geografia humana - População, organização social, economia, indústria e transportes
Ronaldo Decicino
(Atualizado em 02/01/2014, às 18h27)
População
O continente africano possui quase 900 milhões de habitantes, cerca de 14% da população mundial - a maior taxa de crescimento demográfico: 2,3% ao ano, no período entre 2005 e 2010, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (FNUAP) e registra taxas anuais de natalidade de 4,0% e de mortalidade em 2,0%.
A distribuição da população pelo espaço do continente é muito irregular. O vale do Nilo, por exemplo, possui densidade demográfica de 500 habitantes por quilômetro quadrado, enquanto os desertos e as florestas são praticamente despovoados. Outros pontos de alta densidade são o Golfo da Guiné, as áreas férteis em torno do Lago Vitória e alguns trechos nos extremos norte e sul do continente. As regiões das savanas, de maneira geral, são áreas de densidades demográficas médias. Os países mais populosos são: Nigéria, Egito, Etiópia, República do Congo, África do Sul, Tanzânia e Sudão.
Vale lembrar que muitos dados relativos à população africana são estimados, pois os obstáculos apresentados pelo meio natural e o subdesenvolvimento que caracteriza o continente tornam quase impossível recensear todos os habitantes do território africano, muitos dos quais vivem em tribos inteiramente isoladas do mundo moderno.
Poucos países africanos apresentam população urbana numericamente superior à rural; entre os que se enquadram nesse caso estão Argélia, Líbia e Tunísia. A quase totalidade dos países africanos exibe características típicas do subdesenvolvimento: elevadas taxas de natalidade e de mortalidade, com expectativa de vida muito baixa.
Na maior parte do continente, mais da metade dos trabalhadores está na zona rural. Esse elevado número de trabalhadores no campo indica a importância da economia rural para a população do continente e comprova que as formas de produção são simples e quase sem o uso de mecanização e tecnologia.
Organização social
Grande parte da população africana é estruturada em clãs (primeira forma de organização social) e tribos (forma de organização social posterior aos clãs). O isolamento em que vivem explica a conservação de suas particularidades culturais. Verifica-se o predomínio das religiões nativas nos países ao sul do Saara e do islamismo nas nações do norte. Há ainda importantes centros cristãos, como a Etiópia (uma das nações cristãs mais antigas do mundo) e outros decorrentes da colonização europeia.
Maior parte da população africana é constituída por diferentes povos negros, mas há expressiva quantidade de brancos, que vivem principalmente na porção setentrional do continente, ao norte do deserto do Saara - por isso mesmo denominada África Branca. São principalmente árabes, egípcios e bérberes, entre os quais se incluem os etíopes e os tuaregues; aparecem ainda, embora em menor quantidade, judeus e descendentes de europeus. Estes últimos estão presentes também, na África do Sul e são em sua maioria originários das Ilhas Britânicas e dos Países Baixos.
Ao sul do Saara temos a chamada África Negra, povoada por grande variedade de grupos negróides que se diferenciam entre si principalmente pelo aspecto físico, mas também por diferenças culturais, como as religiões que professam e a grande diversidade de línguas que falam. Os grupos mais importantes são: sudaneses, bantos, nilóticos, pigmeus, bosquímanos e hotentotes.
A diversidade linguística é muito grande, as línguas e os dialetos locais convivem com os idiomas introduzidos pelos colonizadores europeus, em especial o inglês, o francês e o africâner. As condições de vida a que a maior parte da população está submetida são as piores. A África subsaariana é a região mais pobre do planeta, com os piores indicadores socioeconômicos conhecidos. Poucos países africanos se enquadram no grupo médio de desenvolvimento humano, como é o caso da Líbia. Quase todos os países do continente estão no grupo de baixo desenvolvimento humano.
Os problemas sociais do continente têm se agravado nos últimos anos com a ocorrência de conflitos e guerras, que causam a morte de milhões de pessoas e desorganizam ainda mais a economia. Além disso, é crescente a epidemia de Aids, que já infectou milhões de pessoas. No ranking do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pela Organização das Nações Unidas, todos os países da África Subsaariana possuem IDH considerado baixo.
Economia
O continente africano é o menos desenvolvido economicamente. Os poucos polos de crescimento se devem à exploração mineral (África do Sul, Líbia, Nigéria e Argélia) e, em menor escala, à industrialização, como o caso da África do Sul, uma das poucas nações que alcançaram relativa estabilidade política e que sozinha detém um quinto do PIB de toda a África.
O continente africano é essencialmente agrícola. As monoculturas de exportação (café, cacau, algodão, amendoim, etc.) alternam-se com lavouras de subsistência - rudimentar, itinerante e extensiva - planta-se em grandes extensões de terra, que são cultivadas anos seguidos, até ocorrer o esgotamento do solo. Em seguida, busca-se outra área, em que se repete o mesmo processo. Produz-se: milhete, sorgo, mandioca, banana, feijão, pimenta, inhame e batata.
Pode-se dizer que existem três grandes formas de produção na zona rural africana: a comercial, voltada para atender o mercado formado pela população urbana; a de subsistência, mais antiquada e voltada para a sobrevivência das populações rurais; e a de plantations, originada com a colonização europeia e ligada ao mercado de exportação. Muitas vezes as propriedades encontram-se sob o comando de grandes empresas agroindustriais, que encaminham os artigos agrícolas para o processamento industrial.
A pecuária na África raramente tem função comercial. Devido às condições naturais pouco propícias à criação de gado bovino, a África tem na pecuária uma atividade econômica de limitado alcance, em geral praticada de forma nômade ou extensiva. O maior destaque é para a criação de carneiros na África do Sul e na Etiópia, além de pequenos rebanhos conduzidos por nômades nas regiões de estepes. Nos países situados ao norte do Saara, criam-se camelos e dromedários, animais de grande porte utilizados como meio de transporte. Nessa região, os rebanhos caprino e ovino também são significativos.
A caça, a pesca e a coleta de produtos naturais ainda constituem importantes fontes de renda para a grande parcela da população africana. No extrativismo animal, figura em primeiro plano o comércio de couro e de peles. O extrativismo vegetal fornece como principais produtos: madeiras, resinas e especiarias, nos países cobertos parcialmente pela floresta equatorial; óleo de palmeira, e tâmara, nos países desérticos.
As criações de aves e os suínos são bem reduzidas. Uma forma de comprovar esse baixo desenvolvimento pecuarista é observar a pequena participação do continente no efetivo de animais nos rebanhos mundiais. Além disso, nota-se que a baixa qualidade dos rebanhos e seu pequeno número são fatores que contribuem para a má alimentação no continente africano.
O extrativismo é a principal fonte de renda da África. Sua exploração foi intensificada no final do século XIX, como consequência do desenvolvimento da Revolução Industrial, e sempre esteve associada aos interesses internacionais, uma vez que a indústria é inexistente no continente. É o setor econômico mais desenvolvido e organizado e que usa as melhores tecnologias.
Apesar da diversidade de minerais encontrada em seu subsolo, a África revela-se um continente pobre, o que é explicado pelo fato de a exploração das riquezas minerais ficar a cargo de companhias europeias ou norte-americanas. Estas, ao se instalarem, implantam na região uma infraestrutura - equipamentos, técnicas e meios de transporte - visando exclusivamente à extração e exportação das riquezas em estado bruto para os países industrializados, de modo que a maior parte dos lucros provenientes desse setor acaba se encaminhando para fora do continente.
A África possui um dos mais ricos subsolos do mundo, com 30% das reservas mundiais de recursos minerais. Entre os minerais, destacam-se: ouro (África do Sul, Zimbábue e Gana); diamante (República Democrática do Congo, Botsuana e África do Sul); cobre (Zâmbia e República Democrática do Congo); manganês (Gabão e África do Sul); urânio (produz 35% do total mundial); platina (90% das reservas mundiais estão na África); titânio (75% das reservas mundiais); petróleo (Líbia, Argélia, Nigéria, Angola e Gabão), gás natural (Nigéria, Gabão, Líbia, Argélia e Egito), antimônio (África do Sul), fosfato (Marrocos) e carvão (África do Sul).
Indústria e transportes
Todos os países do continente, exceto a África do Sul, fazem parte do Terceiro Mundo, exibem os mesmos problemas que caracterizam os integrantes desse bloco, agravados ainda pelo fato de que em boa parte da África a descolonização ocorreu recentemente.
A indústria africana é uma das mais pobres do mundo; sua participação na economia do continente se limita a cerca de 26% do PIB. O setor que mais se destaca é o ligado à mineração. Mesmo a grande variedade de matérias-primas, sobretudo minerais, que poderia ser utilizada para promover a indústria africana, é destinada basicamente ao mercado externo.
Atuando nesse panorama, as modestas indústrias africanas dedicam-se, em geral, ao beneficiamento de matérias-primas, como madeiras, óleos comestíveis, açúcar e algodão, ou ao beneficiamento de minérios para exportação. As poucas cidades que apresentam algumas indústrias estão quase sempre no litoral.
As indústrias têxteis e alimentícias, voltadas para o mercado interno, encontram-se em todos os países do continente, enquanto na África do Sul, no Egito e na República Democrática do Congo estão instaladas as principais indústrias de base (siderúrgicas, metalúrgicas, usinas hidrelétricas etc.). Essa circunstância justifica o fato de a África do Sul e o Egito serem os países mais industrializados do continente.
O sistema de transportes, bastante precário, constitui um entrave ao desenvolvimento industrial. A África ainda não possui uma rede rodoviária e ferroviária que interligue eficazmente suas regiões.
A União Africana pretende impulsionar a economia por meio do programa Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (Nepad). O objetivo é atrair investimentos estrangeiros que tragam o crescimento em troca da adoção de políticas fiscais rigorosas pelos países. A iniciativa tem o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Nos últimos anos têm aumentado os investimentos do governo chinês no continente. O governo financia projetos de infraestrutura, como estradas de ferro e oleodutos. Entre os produtos pelos quais tem interesse estão o petróleo da Angola e a platina do Zimbábue.