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Fósseis - Camadas de sedimentos guardam história

Ronaldo Decicino

Fósseis são restos ou vestígios de animais, plantas ou outros seres vivos, preservados em rochas, sedimentos, gelo ou âmbar. Preservam-se como moldes do corpo ou de partes dele, além de rastros e pegadas. Os fósseis e sua presença em formações rochosas e camadas sedimentares são conhecidas como registro fóssil.

O grau de deterioração ou decomposição do organismo determina detalhes importantes dos fósseis. Alguns consistem apenas em restos esqueléticos ou dentes; outros contêm restos de pele, penas ou tecidos moles. O fóssil é recoberto por camadas de sedimentos, que compactam-se lentamente até se transformarem, após séculos ou milênios, em rochas.

Mesmo um pequeno trilobita (antigo artrópode marinho) tem muito a informar. Certas criaturas fossilizam-se melhor que outras - no caso dos trilobitas, sua carapaça dura facilitou a fossilização. Eram parentes remotos dos caranguejos e lagostas, e por possuírem partes duras, como as de um molusco, demoravam bastante para se dissolver. Por isso não é difícil encontrar trilobitas nas rochas, pois além de possuírem carapaças duras.

A existência dos trilobitas começou há 540 milhões de anos - início do período Cambriano (fim da era geológica paleozóica). No mar, nada de peixes, que só surgiram 130 milhões de anos depois. Era um mundo de algas, águas-vivas, larvas e esponjas.

Os trilobitas arrastavam-se no leito e escondiam-se na areia de um mar raso e arenoso. Quando um trilobita morria, geralmente tinha seu corpo coberto e enterrado pela areia. Se não fosse movido por algum tempo e ficasse a uma boa profundidade, os sedimentos iriam comprimi-lo, transformando-o em rocha e, depois, em fóssil.

Como ocorre a fossilização

Criaturas de consistência mole têm menos chances de se transformar em fósseis, pois se decompõem ou são esmagadas em sedimentos sem deixar vestígios. Existe uma pequena chance de sua impressão ser preservada. Se um fóssil durar tempo suficiente, os minerais dissolvidos, que ajudam a cimentar os sedimentos e transformá-los em rocha, podem substituí-lo por uma perfeita cópia mineral. Dessa forma muitas criaturas deixaram evidências através de imensos períodos de tempo.

O tempo e a atividade terrestre destroem fósseis o tempo todo. Assim, fósseis recentes são mais comuns do que antigos. Fósseis de organismos que vivem na água são mais comumente encontrados do que os de criaturas que vivem na terra.

A água oferece melhores condições para fossilização porque carrega sedimentos e minerais dissolvidos. São os ingredientes das rochas sedimentares, que podem ser construídas na terra, a partir das areias das dunas, por exemplo. Mas as mais comuns são formadas sob o mar, ou em lagos e rios. Não surpreende, portanto, que a maioria dos fósseis seja formada no fundo do mar. Para se encontrar fósseis marinhos em terra seca, algo deve ter acontecido para que ocorresse a elevação das rochas, a baixa das marés ou ambas.

Reconstruindo mundos perdidos

Mesmo quando os fósseis são abundantes, formar uma imagem do seu mundo não é fácil. Por exemplo, pode-se imaginar que os trilobitas eram os únicos animais no mar Cambriano. Mas não eram. Os próprios trilobitas mostram que, como carniceiros de animais menores, eles cresciam moldando sua concha. Alguns tinham olhos compostos altamente desenvolvidos na parte superior da cabeça - sabe-se, por insetos que possuem olhos semelhantes, que esta é uma característica comum de animais que precisam ser sensíveis a movimentos.

Além disso, encontraram-se trilobitas enrolados como bolas, com espinhos para fora, em posição de defesa. Ou seja, eles precisavam ver a presa e ao mesmo tempo defender-se dos predadores. Deve ter havido algum tipo de predador que os devorava. Os olhos também sugerem que eles viviam em águas rasas e bem iluminadas. Então, mesmo sem outros fósseis cambrianos, é possível reconstruir o mundo do trilobita.

Em bem poucos lugares do mundo, organismos cambrianos de corpo mole foram fossilizados junto com os trilobitas. A partir de descobertas desses fósseis de corpo mole, pôde-se ter a idéia de outras criaturas que viviam no que claramente era um oceano rico em vida, variando desde as primeiras versões de esponjas até criaturas nadadoras providas de mandíbulas poderosas.

Tempo em camadas

O tempo revela imagens surpreendentes, como as de estratos elevados, onde é possível verificar seqüências de fósseis. O tempo necessário para se construir tudo isso são milhões de anos e as rochas mais antigas estão embaixo. Freqüentemente os fósseis da parte de baixo são mais antigos do que os fósseis mais acima. Por exemplo, se os trilobitas são encontrados nas rochas mais baixas, fósseis de dinossauros só são achados nas rochas mais novas e mais altas. Os estratos revelam mudanças e evoluções na história da vida.

Combinando-se seqüências é possível montar a ordem dos fósseis. Com a expansão desse processo durante muitos anos, os arqueólogos chegaram à linha do tempo geológico. Por exemplo, à pergunta "Algum humano viu um dinossauro vivo?" a resposta é certamente não. Isso porque os fósseis humanos são encontrados em rochas no mínimo 65 milhões de anos mais novas do que os fósseis dos dinossauros.

Os cientistas tentam entender os fósseis em três níveis: recriando a criatura em si, tentando compreender seu mundo e finalmente tentando localizá-lo em termos de tempo e evolução. Os humanos também fazem parte desse quadro. Mas o que restará de nós daqui a 1 milhão de anos? Que fósseis deixaremos para trás?


 

 

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