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Coluna Prestes - trajetória de Prestes, da coluna à intentona comunista

Jackson Farias

Do Colégio Stockler

Em 5 de julho de 1922, um grupo de militares amotinados no Forte de Copacabana iniciou uma luta que marcou a história brasileira. Liderados inicialmente pelo coronel Euclides Hermes, filho do ex-presidente Marechal Hermes da Fonseca, tinham por propósito impedir a posse do presidente recém-eleito Artur Bernardes. Mas, com o decorrer da década de 20, o "Movimento Tenentista" - como ficou conhecido pela maciça participação de oficiais de baixa patente - ganhou objetivos mais amplos e um líder que figura hoje entre as principais biografias do século 20.

Luís Carlos Prestes, militar que fez carreira no Rio Grande do Sul, não participou da "Revolta dos 18 do Forte", pois, acamado estava impossibilitado de lutar contra mais um dos representantes das oligarquias que, com um modelo político baseado no poder local dos coroneis e nas fraudes eleitorais, dominavam o país.

Dois anos depois desse primeiro levante, os tenentes novamente se sublevaram em São Paulo, impondo a fuga de Carlos de Campos, Presidente do Estado (assim eram chamados os governadores durante a República Velha), para o Rio de Janeiro e assumindo o controle da cidade durante alguns dias.

Apesar do sucesso inicial dos tenentes, a Revolta Paulista de 1924 também entrou para a história por explicitar a fragilidade ideológica dos revoltos. Ainda que tivessem tomado a cidade, encontraram muitas dificuldades no relacionamento com os civis e, principalmente, na violenta repressão por parte do governo federal que, indiscriminadamente, atacou instalações militares e muitas áreas habitadas somente por civis.

As dificuldades em manter o governo da cidade e de resistir aos ataques das tropas federais resultaram na retirada dos tenentes de São Paulo que, em busca de um local que possibilitasse a reorganização do movimento, rumaram para a cidade de Foz do Iguaçu.

Foi por essa época que o então capitão Luís Carlos Prestes levantou suas tropas em Santo Ângelo no Rio Grande do Sul e se encaminhou para Foz do Iguaçu. Em 1925, com a fusão da Coluna Paulista (uma guerra de movimento que, segundo alguns historiadores, pode ser considerada uma guerra de guerrilha) e da Coluna Riograndense originou-se a Coluna Miguel Costa - Luís Carlos Prestes.

Durante três anos, os tenentes percorreram a pé e a cavalo cerca de 25.000 km. O número de integrantes da coluna variou em função das regiões por onde passou, da adesão da população oprimida pelas oligarquias e da repressão contra eles empreendida pelo governo e pelos coroneis.

Apesar de todas as dificuldades que impossibilitaram que Prestes e seus comandados atingissem seu objetivo -destituir o presidente Artur Bernardes-, a Coluna Prestes marcou época pelo seu aguerrido combate em busca de reformas políticas e sociais e, principalmente, por nunca ter sido derrotada.

Em 1927, a invencível Coluna dissolveu-se na Bolívia. Incapazes de assumir o governo, os homens de Prestes receberam do comandante, eternizado pelo apelido de Cavaleiro da Esperança, a autorização para tomarem seu próprio destino. Alguns ficaram na Bolívia, outros clandestinamente no Brasil onde foram presas fáceis da repressão governamental, mas alguns dos que voltaram se engajaram anos depois na Revolução de 1930.

Ideais comunistas

Já Luís Carlos Prestes mudou-se anos depois para a Argentina onde recebeu a visita de Agildo Barata, presidente do Partido Comunista Brasileiro.

Adepto dos ideais do Partido, Luís Carlos Prestes negou apoio à Aliança Liberal mas manifestou-se a respeito do movimento contestatório à República Oligárquica: "Mais uma vez os verdadeiros interesses populares foram sacrificados e vilmente mistificado todo um povo por uma campanha aparentemente democrática, mas que no fundo não era mais que uma luta entre os interesses contrários de duas correntes oligárquicas".

Prestes não só se recusou a participar do movimento que acabou por levar Getúlio Vargas ao poder como, anos depois, liderou um movimento que tinha por objetivo destituí-lo e implantar no país um regime nos moldes da URSS, país em que chegou em 1931. Nessa época, o cenário internacional convergia para a bipolarização ideológica.

A crise de 1929, que enfraqueceu o liberalismo e a democracia, a ascensão nazi-fascista e a consolidação soviética indicavam, como modelos a serem seguidos, a extrema direita de um lado e, do outro, o modelo soviético.

Essa radicalização ideológica atingiu em cheio o Brasil. Envolta no debate sobre a participação popular e a democratização, a sociedade brasileira cindiu-se em torno de duas propostas antagônicas.

A Ação Integralista Brasileira (AIB) professava os ideais defendidos pelo fascismo europeu, defendendo um Estado forte e intervencionista, caracterizado por um exacerbado nacionalismo.

Em contraposição à AIB foi criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL) defensora da participação popular, do pluripartidarismo e próxima dos ideais defendidos pelo PCB. Nas palavras de Prestes, "a Aliança Nacional Libertadora é uma vasta e ampla organização de frente única nacional. O perigo que nos ameaça, o perigo que aumenta dia a dia, nos obriga a colocar em primeiro plano nos dias de hoje a criação do bloco, o mais amplo de todas as classes oprimidas pelo imperialismo, pelo feudalismo, e, portanto, pela ameaça fascista."

Com o crescimento e a popularização da ANL, Prestes, membros do PCB e líderes da URSS vislumbraram a possibilidade de um golpe no Brasil que substituiria o Estado varguista por um governo socialista. Com esse objetivo, foram enviados por Moscou homens de diversas partes do mundo para o Brasil. Especialistas em bombas, rádio-comunicação, revolucionários experimentados que iniciariam a revolução.

Para lidera-la, o próprio Prestes voltou ao país acompanhado por sua segurança, a agente comunista e alemã Olga Benário. Para "disfarçar", vieram para o Brasil como se fossem um casal o que, numa longa viagem, com paradas em vários países, acabou se tornando realidade, em alguns meses. Esse trecho da história é mostrado pelo filme Olga, de Jayme Monjardim.

Aos olhos dos líderes da Intentona Comunista (como acabou ficando conhecido o levante comunista em 1935) - tanto aos que aqui estavam quanto os que de Moscou arquitetavam o movimento -, o crescimento da ANL seria a porta de entrada dos ideais comunistas no Brasil. Por isso, em novembro de 1935, os comunistas iniciaram em Natal, Recife e Rio de Janeiro sua tentativa de chegar ao poder.

A rápida ação da repressão e a falta do tão esperado apoio popular contribuíram para o fracasso do levante que também se deveu, em parte, à falta de organização por parte dos líderes, à eficiência dos agentes do serviço secreto, à supervalorização que os comunistas deram à ANL e, segundo alguns autores, à infiltração e traição de alguns dos envolvidos.

Com o malogro do levante, Prestes foi preso em 1936 e ficou na cadeia até 1945. Já sua companheira, Olga, judia, alemã, comunista e grávida, foi enviada para a Alemanha nazista onde morreu em 1942.

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