Bálcãs - conflitos étnicos - As guerras da Bósnia e de Kosovo
Érica Turci
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No início de 1991, a Iugoslávia tinha como presidente um sérvio e, segundo o que estabelecia a forma colegiada de governo, que obedecia à sucessão rotativa da presidência, um representante da Croácia deveria substituí-lo. O presidente sérvio, contudo, não aceitou o político croata escolhido, e se manteve na presidência.
A Eslovênia, então - manifestando-se contra a Sérvia na questão da sucessão presidencial e a favor da independência de Kosovo (submetida, a partir daquele mesmo ano, novamente à Sérvia), se declarou independente da Iugoslávia, no que foi seguida pela Croácia e pela Macedônia. Como reação, tropas do Exército Federal, composto por soldados da Sérvia e de Montenegro, invadiram as repúblicas da Eslovênia e da Croácia, onde se encontram minorias de origem sérvia.
Na Eslovênia, a guerra durou pouco tempo (ficou conhecida como Guerra dos Dez Dias), mas na Croácia a situação foi bem mais complicada, pois a população sérvia da Croácia não aceitou a independência da região e passou a ser armada pelas tropas federais. Ao mesmo tempo, croatas que habitavam a Bósnia-Herzegovina se lançaram na guerra do lado da Croácia.
Guerra da Bósnia
Em março de 1992 foi a vez da Bósnia-Herzegovina também se declarar independente. Slobodan Milosevic, que culpava Josip Broz Tito (um croata) pela situação de crise que a Sérvia vivia, investiu com todas as suas forças contra croatas e bósnios.
Sarajevo, capital da Bósnia, foi cercada - e por vários meses os moradores da cidade passaram por situações críticas: o fornecimento de água, eletricidade e aquecimento foi cortado e a ajuda humanitária que chegava até eles não bastava para suprir as carências de toda a população. As tropas federais (melhor seria dizer, da Sérvia) chegaram a ocupar 70% do território bósnio.
Nesse conflito, conhecido como Guerra da Bósnia, a limpeza étnica foi um dos principais objetivos. E aqui não existem "mocinhos e bandidos": dos dois lados as atrocidades praticadas foram enormes. Mas como as tropas sérvias eram muito melhor armadas, bósnios e croatas foram os que mais sofreram.
Parecia que o mundo assistia impassível ao conflito que dilacerava os Bálcãs. No clima de final de Guerra Fria, a Rússia passava por uma enorme crise, enquanto os EUA, que estavam saindo da Guerra do Golfo (1990-1991), relutavam em participar de mais um conflito. A Europa, acostumada, por anos, à submissão às ordens da OTAN ou do Pacto de Varsóvia, somente impôs um bloqueio econômico à Sérvia.
Diante dessa conjuntura, o presidente dos EUA, Bill Clinton, mesmo violando acordos internacionais, começou a armar tropas da Croácia, que acabaram vencendo os sérvios em Krajina.
Tal vitória forçou os líderes da Sérvia, da Croácia e da Bósnia a buscarem uma negociação de paz, selada em novembro de 1995: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia seriam países independentes, enquanto a Iugoslávia seria formada por Sérvia (incluindo Kosovo e Voivodina) e Montenegro (que em 1996 se tornou independente).
Guerra de Kosovo
Contudo, mesmo assim, depois de os Bálcãs estarem supostamente em paz, um problema ainda não havia sido resolvido: a questão de Kosovo.
Em 1996, os albaneses de Kosovo formaram o Exército de Libertação de Kosovo e passaram a lutar por sua independência. A Sérvia reagiu violentamente a tal manifestação e, em 1996, estourou mais um sério conflito separatista e étnico na região: a Guerra de Kosovo.
Mais uma vez as tropas internacionais tardaram a chegar: depois de muita negociação e bloqueios econômicos, somente em 1999 a OTAN interferiu no conflito - e por 78 dias bombardeou impiedosamente a região. Em média, os países da OTAN gastaram US$ 64 milhões por dia de conflito, o que permite perceber o enorme e moderno aparato bélico usado. Milosevic foi obrigado a se render. Um ano depois, o líder sérvio foi preso e entregue ao Tribunal de Haia, para ser julgado por crimes de guerra e contra a Humanidade.
Desde então, Kosovo passou a ser uma região protegida pelas Nações Unidas e pela OTAN (cerca de 28 mil soldados foram deslocados para a província). Até que, em fevereiro de 2008, o governo de Kosovo declarou sua independência, sem que tal atitude tenha sido aceita pela Sérvia.
Tal episódio dividiu o mundo. Os EUA e parte da Comunidade Europeia apoiam Kosovo, mas a Rússia e a Espanha apoiam a Sérvia, pois temem que o exemplo separatista kosovar estimule grupos separatistas em seus próprios territórios.
As peças do xadrez da política internacional estão se movimentando... e a questão ainda não está resolvida.