Breve história da Ética - Do século 19 às questões contemporâneas
Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Já Kierkegaard, um severo crítico da cultura europeia, achava que a filosofia de então havia tirado do indivíduo a responsabilidade pela sua própria vida. O fundamental, para ele, é a existência de cada um. As verdades são pessoais e cada um precisa descobrir a sua verdade. Além disso, o homem não experimenta verdadeiramente sua existência atrás de uma escrivaninha, lendo e refletindo.
Somente quando age e faz uma escolha, ele se relaciona com sua própria existência. A existência humana, de acordo com Kierkegaard, passa pelas etapas estética (a espontaneidade e a libertinagem), ética (a boa consciência) e religiosa ("a resignação infinita").
Ao contrário da filosofia kirkegaardiana, que é centrada no indivíduo, Karl Marx centrou sua filosofia na coletividade. Entretanto, seu pensamento tem caráter mais político do que ético, ou melhor, para o marxismo, a ética decorre da política. Marx acreditava que a história é um produto da luta entre classes sociais com interesses divergentes e que uma dessas classes - o operariado - deveria tomar o poder pela força, para acabar com as injustiças sociais. Nesse sentido, a ação ética seria aquela que fosse compatível com a revolução do proletariado e a transformação da sociedade.
Ética hoje
Se colocarmos a questão moral em termos contemporâneos, muitos são os problemas a serem discutidos. Nossa época é marcada pelo relativismo moral, por um individualismo exagerado, um narcisismo hedonista, uma recusa simultânea da religião e da razão. A questão que se coloca hoje é a da superação dos empecilhos que dificultam a existência de uma vida moral autêntica.
O esforço de recuperação da ética passa também pela necessidade de não se esquecer a dimensão planetária da sociedade contemporânea, quando todos os pontos da Terra, essa "aldeia global", se acham ligados pelos meios de comunicação de massa e pelos mais velozes transportes.
Isso nos faz considerar a moral além dos limites restritos dos pequenos grupos, como a família, o bairro, a cidade, a pátria. A generosidade da moral planetária pressupõe a garantia da pluralidade dos estilos de vida, a aceitação das diferenças, sem que se sucumba à tentação de dominar o outro por considerar a diferença um sinal de inferioridade.
Uma proposta da ONU
Nesse sentido e visando também pôr um fim à violência que ainda impregna nossa civilização, tem se falado na necessidade de promover uma "cultura de paz" no planeta. A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou a presente década (2001-2010) como "Década Internacional da Cultura de Paz e Não-Violência" e um manifesto foi esboçado por um grupo de laureados com o prêmio Nobel da Paz, propondo uma ética para o mundo de hoje.
O chamado Manifesto 2000 se compõe de seis pontos:
1) Respeitar a vida,
2) Rejeitar a violência,
3) Ser generoso,
4) Ouvir para compreender,
5) Preservar o planeta,
6) Redescobrir a solidariedade.