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Cruzadas - Guerras religiosas estimularam o capitalismo

Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

A produção para o mercado, as trocas monetárias e o espírito de lucro ressurgiram na Baixa Idade Média (séculos 12 a 15). Isso não chega a marcar o nascimento do capitalismo, pois não havia o trabalho assalariado. Pode-se, porém, falar no advento de um pré-capitalismo.

A situação é uma decorrência da crise do feudalismo, com o aumento da população europeia e a consequente ampliação do consumo de roupas e alimentos, além das necessidades de moradia. Desse modo, um significativo contingente populacional iria mergulhar na marginalização ou, como se diz hoje em dia, na exclusão social.

Violência e banditismo

Servos eram expulsos dos feudos onde sempre viveram, vilões se viam forçados a deixar as vilas que habitavam. Resultado: mendicância e banditismo. Este último era reforçado até por gente da nobreza, pois os filhos mais novos dos senhores feudais, que não desfrutavam de uma herança substanciosa, podiam aproveitar suas atividades bélicas para atividades criminosas, como o saque e o sequestro.

O aumento da violência, portanto, era também uma realidade, da qual as justas e os torneios entre cavaleiros são um inegável reflexo. Esses combates "esportivos" transformavam-se muitas vezes em verdadeiras batalhas campais.

Desse modo, a Igreja se viu forçada a intervir para solucionar o problema. Por um lado, proclamou a "Trégua de Deus", que limitava o número de combates a 90 por ano. Simultaneamente, resolveu canalizar essa energia bélica para um fim religioso: a conquista dos locais sagrados do cristianismo no Oriente.

Servos de Deus

Estava-se numa época em que o poder papal se encontrava fortalecido, e é importante lembrar que, em termos de mentalidade, o homem da Idade Média é profundamente religioso, é um servo de Deus. Portanto, combater os muçulmanos, ainda que lhe rendesse as riquezas do Oriente, era também uma garantia da salvação de sua alma.

Ao longo de mais de 200 anos, entre os séculos 11 e 13, foram realizadas oito Cruzadas. A mais longa durou seis anos e a mais curta, apenas um, acompanhe no quadro abaixo:

Primeira Cruzada (1095-1099)
O papa convocou os fiéis para a guerra santa contra o Islão no Concílio de Clermont. Partindo em 1096, os cavaleiros sitiaram Niceia, tomaram Dorileia, Antioquia e Jerusalém. O Oriente Médio passou a abrigar Estados cristãos, organizados à maneira feudal, como o Principado de Antioquia, o condado de Edessa e o reino de Jerusalém.
Segunda Cruzada (1147-1149)
Com a reconquista de Edessa pelos árabes, essa Cruzada foi pregada pelo próprio São Bernardo. No entanto, fracassou por desavença entre seus chefes: Conrado 3º da Alemanha e Luís 7º da França.
Terceira Cruzada ou Cruzada dos Reis (1189-1192)
Foi organizada após a retomada de Jerusalém pelo sultão Saladino, sob a liderança de Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, Frederico Barba-Ruiva, do Sacro Império, e Filipe Augusto, da França. Após diversos combates, Ricardo assinou um tratado de paz com Saladino, que autorizou os cristãos a peregrinar a Jerusalém.
Quarta Cruzada (1202-1204)
Cruzada marítima contra o Egito, organizada por Henrique 6º da Alemanha, foi financiada pelos venezianos com interesses comerciais. Foi uma cruzada sangrenta, a ponto de os venezianos serem excomungados pelo papa Inocêncio 3º. Mesmo assim, eles saquearam Constantinopla e voltaram à Itália satisfeitos.
Quinta Cruzada (1217-1221)
Formada após a Cruzada das Crianças, que terminou com seus integrantes vendidos como escravos em Alexandria, a quinta Cruzada fez várias ofensivas contra o Egito e retornou a Europa sem sucesso.
Sexta Cruzada (1228-1229)
Frederico 2º, do Sacro Império Romano-Germânico, aproveitou-se das desavenças entre os sultões do Egito e Damasco, para conseguir que os turcos lhe entregassem Jerusalém, Belém e Nazaré.
Sétima Cruzada (1248-1250)
Sob o comando de Luís 9º da França (São Luís), esta cruzada foi um grande fracasso: isolada pelas enchentes do Nilo, teve seus homens dizimados pelo tifo. Luís foi preso e resgatado mediante um valor altíssimo.
Oitava Cruzada (1270)
O Oriente Médio vivia uma época de anarquia entre as ordens religiosas que deveriam defendê-lo, bem como entre comerciantes genoveses e venezianos. Os cristãos foram expulsos de suas posições e Luís 9º organizou uma nova Cruzada. Morreu, porém, ao desembarcar em Túnis e a cruzada foi suspensa.

As Cruzadas tiveram consequências de grande importância para a história mundial. Reabriram a navegação do Mediterrâneo aos europeus e dinamizaram as relações comerciais entre o Ocidente e o Oriente. As cidades da Itália passaram a distribuir mercadorias orientais para a Europa: açúcar, arroz, algodão, café, marfim, frutas cítricas e especiarias. Propiciaram a economia baseada na moeda e no mercado e favoreceram o crescimento das cidades.