Topo

Fascismo italiano - contexto histórico - A crise italiana e o Fascio de Combate

Érica Turci

O fascismo é um movimento político - e também um regime ou sistema político (como o estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922) - que defende a prevalência, isto é, a superioridade dos conceitos de nação, Estado e raça sobre os valores individuais. Como dizia o próprio Mussolini: "Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato", ou seja, "Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado". Um regime político fascista é representado por um governo autocrático, centralizado na figura de um ditador.

Contexto histórico

No início do século 20, a Itália vivia uma profunda crise. A unificação de seu território foi tardia, as guerras tinham durado entre 1859 e 1870, mas os problemas políticos e sociais ainda não tinham terminado: o papado romano não aceitava se submeter ao rei da Itália; as várias regiões, historicamente diferentes, se recusavam a falar o italiano, preferindo os dialetos locais.

Além disso, os problemas econômicos eram sérios: a industrialização e a modernização da economia aconteciam de forma lenta; as diferenças entre o Sul do país, agrícola e muito pobre, e o Norte modernizado eram gritantes, dificultando a integração econômica. Levas de migrantes buscavam trabalho nas indústrias, esvaziando o campo, causando períodos de carestia. Ao mesmo tempo, o desemprego aumentava nas cidades industriais.

Os partidos de esquerda, comunistas e socialistas, bem como os anarquistas, ganhavam cada vez mais adeptos entre os italianos, o que preocupava a elite capitalista.

O Estado monárquico, herdado do período da unificação (dinastia de Savoia), marcado por um profundo conservadorismo e com o apoio das elites industriais, pouco fazia para resolver os problemas sociais.

Em nome do crescimento no cenário internacional (reconhecimento de sua soberania política e busca de territórios para expandir sua economia), a Itália se declarou inimiga da Alemanha e entrou na Primeira Guerra Mundial em 1915.

Por estar ao lado dos países vitoriosos no conflito, a Itália pretendia receber alguns territórios, mas teve suas ambições frustradas, o que causou um grande mal-estar na população, que se sentia traída pela Inglaterra e pela França. Para completar o quadro negativo, a crise socioeconômica se aprofundou no pós-guerra. É nesse contexto que surge o movimento fascista.

Fascio de Combate

Em clima de total insatisfação, vários movimentos políticos se organizaram na Itália, dentre eles o Fascio de Combate, que teve como um de seus fundadores Benito Mussolini, conhecido jornalista e agitador político.

A palavra "fascio" significa feixe. O fascismo se apropriou do símbolo de poder dos magistrados da Roma Antiga, o feixe de varas, que representava a união do povo em torno da justiça do Estado. O objetivo era evidente: retomar a história do povo italiano, sugerindo que a Itália poderia voltar a ser o Império Romano da Antiguidade.

Esse movimento, fundado em Milão, em março de 1919, não tinha ainda o perfil político-ideológico que iria assumir anos depois. Nas palavras do próprio Mussolini: "Não temos uma doutrina pronta; nossa doutrina é a ação!".

Em junho de 1919 foi publicado o programa oficial do movimento, e algumas de suas reivindicações eram: jornada de trabalho de 8 horas; sufrágio universal extensivo às mulheres; representação proporcional no Parlamento; abolição do Senado do Reino; formação de uma milícia que atuasse paralelamente ao Estado; e maior atuação da Itália no cenário internacional.

Desse programa inicial, somente as duas últimas propostas seriam levadas a cabo durante o período em que os fascistas controlaram a Itália, pois o Fascio de Combate era, na realidade, um grupo de pessoas que tinham formações políticas e opiniões diferentes sobre o futuro da Itália, mas que se uniram no calor da hora, em função da grande crise do pós-guerra. Ali se misturavam socialistas, sindicalistas, intelectuais futuristas, militares e nacionalistas, entre outros.