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Ferdinando Marcos (2) - Ditador das Filipinas tinha apoio dos EUA

Túlio Vilela

Após ser absolvido da acusação de assassinato e com o fim da Segunda Guerra Mundial, Ferdinando Marcos declarou que participou ativamente na guerrilha contra a ocupação japonesa, informação que é contestada por alguns. Segundo os que questionam a "heroica participação" de Marcos na luta contra os japoneses, ele não passou de um mero contrabandista durante a ocupação. Seja como for, essa declaração contribuiu para o seu sucesso político.

Em 1946, Marcos se tornou assessor de Manuel Roxas, o primeiro presidente da então recém-independente República das Filipinas. Marcos foi deputado durante dez anos, depois foi eleito senador, chegando a ocupar a presidência do senado filipino.

Em 1964, tentou se lançar candidato à presidência da República pelo Partido Liberal, ao qual era filiado desde 1947. No entanto, a maioria de seus colegas de partido o rejeitou devido aos negócios desonestos que o teriam tornado milionário. Por causa disso, Marcos trocou de partido, juntando-se ao Partido Nacionalista, pelo qual, no ano seguinte, foi eleito presidente das Filipinas.

Discurso paternalista de Ferdinando Marcos

Apesar de milionário, Ferdinando Marcos se apresentava como o "defensor dos pobres", que os protegeria da ganância dos grandes proprietários de terras. Tal discurso paternalista, que lembra a Getúlio Vargas, tinha muita força nas Filipinas, onde uma minoria privilegiada era proprietária de mais de 60% das terras cultiváveis.

As Filipinas eram um país parecido com o Brasil da República Velha: era uma oligarquia, isto é, o governo trabalhava para atender aos interesses de uma elite, no caso, os latifundiários, e tinha uma economia voltada especialmente para a exportação de produtos agrícolas.

Uma das promessas de campanha de Marcos foi a realização de uma reforma agrária. A redistribuição de terras realizada pelo presidente filipino em seu primeiro mandato não alcançou grandes resultados. Apesar disso, ele conseguiu melhorar as condições de vida dos mais pobres, gerando empregos ao investir maciçamente na construção de várias obras públicas, como pontes e estradas.

Além disso, ele também conseguiu realizar algumas melhoras nos setores da indústria, comércio e educação. Essas conquistas teriam contribuído para a reeleição de Ferdinando Marcos, em 1969. Para seus opositores, no entanto, Marcos conseguiu reeleger-se presidente por meio de fraudes e de uma ostensiva compra de votos.

Apoio dos EUA e reeleição

Seja como for, um dos fatores que mais contribuíram para o sucesso de Ferdinando Marcos e sua permanência no poder foi o apoio político e financeiro dos Estados Unidos. Anticomunista convicto, Marcos chegou a enviar tropas para apoiar o Vietnã do Sul na guerra contra os comunistas do Vietnã do Norte. Como era época da Guerra Fria, esse anticomunismo declarado garantiu o apoio e a simpatia dos Estados Unidos, que temiam a expansão do comunismo na Ásia.

Durante seu primeiro mandato, Ferdinando Marcos governou democraticamente, obedecendo a constituição de seu país. Em seu segundo mandato, porém, suas tendências autoritárias vieram à tona. A miséria e a criminalidade no país também aumentaram.

Entre os opositores de Ferdinando Marcos estavam intelectuais e estudantes universitários, que começaram a organizar manifestações de protesto na capital filipina, Manila. Essas manifestações costumavam vir acompanhadas de bombas caseiras. Fora de Manila, cresciam os movimentos de guerrilha.

Novo Exército Popular e o Partido Comunista

O Novo Exército Popular, braço armado do Partido Comunista, se expandia por diferentes pontos do país. Nas Filipinas, o Partido Comunista era de tendência maoísta, isto é, se inspirava nas ideias de Mao Tsé-tung, líder da Revolução Chinesa e primeiro ditador da República Popular da China. Outro movimento de guerrilha era a Frente Muçulmana de Libertação Nacional, sediada na ilha de Mindanao, onde vive uma significativa minoria muçulmana.

Estado de sítio e o terceiro mandato

Em 1972, a pretexto de combater as guerrilhas, Marcos decretou estado de sítio, suspendendo a constituição, que o impedia de exercer um terceiro mandato. Não passava de uma manobra política para o presidente filipino perpetuar-se no poder.

No ano seguinte, Ferdinando Marcos conseguiu, por meio de fraude, a aprovação em referendo de uma nova constituição, o que permitiu que ele desse início a um terceiro mandato. A repressão aos opositores de seu governo aumentou. Milhares de cidadãos filipinos foram presos, torturados e até assassinados pela repressão.

Entre as vítimas da ditadura de Ferdinando Marcos estavam estudantes universitários, sindicalistas, jornalistas e qualquer um que fizesse parte da oposição. Greves e manifestações públicas passaram a ser consideradas ilegais.