Guerra Fria - crises - Da corrida espacial à posse de Brejnev
O clima de Coexistência Pacífica perdurou até o início da década de 1960, mesmo que acompanhado por claras manifestações de que a rivalidade entre os EUA e a URSS, longe de superada, estava apenas num momento menos agudo.
Prova disso é a disputa tecnológica entre as duas superpotências, que teve na corrida espacial sua grande vitrine. Nesse setor, a primeira grande vitória foi da URSS, que conseguiu colocar em órbita, em 1957, o primeiro satélite espacial, o Sputinik, além de realizar, em 1961, o primeiro vôo espacial tripulado, com Yuri Gagarin.
Entretanto, os soviéticos viam-se às voltas com contestações ao seu poderio dentro de seu próprio bloco. Um exemplo foi a Iugoslávia, sob o governo de Joseph Broz Tito, um país que, embora comunista, recusara-se a aderir ao Pacto de Varsóvia e a aceitar a tutela soviética.
Na Hungria, em 1956, assumiu o poder Imre Nagy. Questionando a submissão do país à URSS, Nagy defendia a retirada da Hungria do Pacto de Varsóvia e a adoção de uma política econômica mais aberta, que resultasse numa maior produção de bens de consumo e de melhoria das condições materiais de vida da população. Em novembro de 1956, tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a Hungria, promovendo um massacre que resultou na morte de centenas de húngaros. Imre Nagy foi derrubado, tendo sido colocado no poder Janos Kadar, reconduzindo-se assim a Hungria à órbita soviética.
A crise dos mísseis
Ainda no início da década de 1960, outro fenômeno acirrou sobremaneira os ânimos entre as superpotências. A recém-ocorrida Revolução Cubana demonstrava um fôlego inesperado para os EUA. O movimento, originalmente nacionalista e antiimperialista, ante o embargo econômico norte-americano caminhou em direção a uma aproximação com a URSS.
Dentro do contexto da Guerra Fria, essa aproximação gerou uma reação mais intensa por parte dos EUA. Eram os piores temores da histeria anticomunista que pareciam se confirmar, ainda mais se levando em consideração a proximidade geográfica de Cuba com os EUA e o fato de que, até então, a ilha nada mais fora do que um quintal do imperialismo norte-americano.
Em 1961, após romper relações com o governo cubano, o presidente John Kennedy autorizou a invasão de Cuba por um grupo de exilados cubanos com o apoio da Agência de Inteligência dos EUA (CIA). Essa tentativa foi facilmente rechaçada pelo governo cubano na Baía dos Porcos, mas selou de modo definitivo a ruptura entre os dois regimes. Não por acaso, em dezembro do mesmo ano, Fidel declarou sua adesão ao comunismo, consumando sua aproximação com a URSS.
Em reação a isso, o governo dos EUA pressionou seus aliados no continente a aprovarem a expulsão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos), ao mesmo tempo em que decretava um total bloqueio ao comércio com a ilha. Por outro lado, ao aderir ao bloco socialista, Cuba tornava-se um aliado estratégico fundamental para a URSS, que procurou ampliar sua presença militar na região.
Em 1962, os soviéticos instalaram mísseis nucleares em Cuba, sob a alegação de que eles teriam meramente a função de defender a ilha de um eventual ataque norte-americano. Tratava-se de uma evidente mentira, uma vez que a natureza ofensiva dos mísseis era clara. Contra isso, o governo dos EUA reagiu, exigindo a imediata retirada dos mísseis de Cuba, sob pena de um ataque sobre a ilha. Poucas vezes, durante todo o período da Guerra Fria, a perspectiva de um enfrentamento direto entre as duas superpotências pareceu tão próxima.
Kruschev foi obrigado a recuar, retirando os mísseis, mas o episódio deixou marcas que acentuaram as investidas de ambos os lados. Os EUA, temendo a disseminação do "perigo vermelho" no continente, lançaram a Aliança para o Progresso, um programa de ajuda econômica aos países da América Latina, objetivando ampliar a dependência destes em relação a Washington. Mais do que isso, os EUA passaram a apoiar golpes militares e a instalação de regimes ditatoriais, vistos como únicas armas eficazes na contenção da ameaça comunista.
Cuba, por sua vez, adotou uma política de "exportar" a revolução para outros países, por meio do apoio a movimentos guerrilheiros ou mesmo da criação de focos de combate em algumas regiões. Fez parte dessa política a criação, em 1967, da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), voltada a estimular a formação de focos guerrilheiros em algumas regiões. Essa política teve na figura de Ernesto "Che" Guevara seu maior ícone, morto na Bolívia, em 1967.
Em 1963, John Kennedy foi assassinado em Dallas, num episódio até hoje mal explicado. No ano seguinte, em função dos revezes de sua política externa, principalmente pela humilhação na questão dos mísseis cubanos, Kruschev foi derrubado do poder na URSS. Dessa forma, dois novos líderes assumiam o poder nas duas superpotências: Lyndon Johnson, que assumira após a morte de Kennedy, e Leonid Brejnev, o novo chefe de Estado da URSS.
Conjuntura norte-americana
Johnson completou o mandato de Kennedy até 1964 e foi eleito para o mandato de 1964 até 1968. Ele ampliou de forma intensa a intervenção armada dos EUA no Vietnã, além de procurar conter de modo mais efetivo o que era visto como a ameaça comunista, chegando a intervir militarmente na República de Santo Domingo, buscando deter o movimento de esquerda que ameaçava tomar o poder no país.
Ao mesmo tempo, internamente, teve que lidar com o crescente movimento de repulsa à participação na Guerra do Vietnã e com o crescimento do movimento negro, liderado pelo pastor Martin Luther King.
O agravamento das tensões internas, num momento particularmente rico em contestações que vinham de todos os lados, provocou o surgimento de grupos radicais como os Panteras Negras, negros muçulmanos que se opunham à política de Luther King, que, inspirado em Gandhi, defendia a não violência como forma de conquistar direitos sociais. Crescia também o movimento hippie, com tudo o que ele significou em termos de contestação aos valores da sociedade americana e ao engajamento dos EUA na guerra.
Esse mesmo radicalismo provocou ainda dois eventos traumáticos, os assassinatos de Robert Kennedy, irmão de John e candidato do Partido Democrata nas eleições presidenciais de 1968, e do próprio Martin Luther King, por um extremista branco.
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