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Guerra Fria - evolução - Do Plano Marshall ao início da Coexistência Pacífica

Gilberto Salomão

(Atualizado em 04/02/2015, às 10h56)

Depois da Segunda Guerra Mundial, um dos primeiros componentes da nova atitude dos EUA em relação à União Soviética foi, em 1947, a aprovação do Plano Marshall.

Em tese, o plano consistia na ajuda econômica dos EUA aos países europeus em crise após a guerra. Mas havia alguns objetivos por trás desse plano. Um deles era o de impedir o colapso das economias dos países europeus, de modo a impedir também uma crise geral do capitalismo, afastando a lembrança da crise de 1929, quando o declínio do mercado europeu foi decisivo para o cataclismo que se abateu sobre a economia dos EUA.

Outra razão é que, ao conceder empréstimos e investimentos a esses países, os EUA tornavam seus governos dependentes das suas próprias orientações políticas, ampliando sua influência na região.

Mas há ainda outro objetivo: o de impedir que a crise econômica inevitável no pós-guerra ampliasse a força dos movimentos sociais, o que criaria maiores condições para o avanço das ideias socialistas na Europa Ocidental.

As respostas da URSS

Essa investida da diplomacia norte-americana sobre a Europa motivou a reação soviética, com a criação do Comecon, um plano de ajuda econômica soviética aos países socialistas, e do Kuominform, uma forma de união dos partidos comunistas europeus sob a égide do governo da URSS.

Também nesse momento delimitou-se a situação da Alemanha, particularmente delicada por ter sido esse o país causador da Segunda Guerra Mundial. Apesar de derrotada, a Alemanha sempre ocupara um papel preponderante no cenário europeu. Ao final da guerra, a Alemanha ficara dividida entre as 4 potências vencedoras: os EUA, a França, a Inglaterra e a URSS. Quase imediatamente, França, Inglaterra e EUA decidiram-se por uma administração unificada em seus domínios.

Esse fato, aliado ao crescimento da parte ocidental - em função dos dólares do Plano Marshall -, motivou uma reação da URSS: a determinação do bloqueio de Berlim, um enclave ocidental dentro da área sob domínio soviético. A esse fato, o ocidente reagiu com o abastecimento de Berlim por via aérea, desafiando o bloqueio soviético e ampliando a tensão na região.

Outra reação foi a institucionalização da unidade administrativa da Alemanha sob intervenção dos países capitalistas, gerando o surgimento da República Federal Alemã (Alemanha Ocidental), o que cristalizou a divisão da Alemanha, com a parte oriental dando origem à República Democrática Alemã, sob influência direta da URSS.

Entretanto, grande parte de Berlim, situada na Alemanha Oriental, estava sob controle dos países capitalistas, ou seja, fazia parte da Alemanha Ocidental. Dessa forma, em 1961 foi construído o Muro de Berlim, separando os dois lados da cidade. Criou-se assim aquele que foi o grande símbolo da Guerra Fria. Sua construção atestou de modo concreto a separação entre os dois mundos. Não por acaso, sua derrubada, em 1989, foi festejada como o início de uma nova era.

A OTAN e o Pacto de Varsóvia

A polarização entre os EUA e a URSS encontrou sua primeira manifestação militar em 1949, com a criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar e política dos países capitalistas, composta por EUA, Canadá, Reino Unido, Bélgica, Holanda, França, Portugal, Itália, Finlândia, Dinamarca, Noruega e Luxemburgo, incorporando mais tarde Grécia, Turquia e Alemanha Ocidental.

Contra essa aproximação entre os países capitalistas, foi criado, em 1955, o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar entre URSS, Albânia, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e Bulgária.

O macarthismo

Nos EUA, ao lado do crescimento econômico e do sensível aumento de sua influência internacional, o antagonismo com a URSS gerou um dos momentos de maior negação aos princípios de liberdade tão caros ao ideário iluminista que pautara a criação do país.

À frente de um comitê do Senado para investigar as supostas atividades antiamericanas, o senador Joseph MacCarthy foi o responsável maior por um clima de "caça às bruxas" nos EUA, gerando perseguições e delações por quaisquer motivos, incluindo a mera simpatia pelo comunismo. Os acusados eram vistos como conspiradores contra os EUA e a liberdade.

O macarthismo é o símbolo mais claro da histeria gerada pela Guerra Fria nos EUA. Artistas, jornalistas, políticos, cientistas, todos os setores foram atingidos pelas ações do senador MacCarthy, que tinha em Richard Nixon o seu principal aliado.

O stalinismo

Do lado soviético, a vitória e o fortalecimento do governo de Stalin geraram um gigantesco crescimento econômico, canalizado em grande parte para o crescimento da indústria bélica. Tal avanço teve como grande símbolo a produção pelos soviéticos da bomba atômica, fazendo desse país um rival efetivo dos EUA naquilo que sintetizava o horror do pós-guerra: a ameaça nuclear.

A essa ameaça somava-se o caráter brutalmente repressivo do governo de Stalin, no qual o "culto à personalidade" do ditador, visto como o grande líder, o condutor do processo de mobilização nacional, apenas sintetizava uma política interna de esmagamento de toda forma de oposição política, por meio da repressão, das prisões e de expurgos dentro do partido governante.

Essa atitude irradiou-se para os partidos comunistas de outros países da forma da expulsão de todos aqueles que ousassem contrariar o dogma imposto pelo Partido Comunista da URSS. Com isso, reforçava-se a pregação de que o avanço soviético era a destruição da liberdade - que tinha nos EUA seu grande e único guardião.

A Revolução Chinesa

O final da década de 1940 trouxe um componente fundamental para esse clima de tensão. Em 1949, a vitória dos revolucionários liderados por Mao Tsé-Tung na Revolução Chinesa significou a vitória de um movimento socialista no país com a maior população do mundo, ocupando uma região estrategicamente fundamental. A ameaça era ainda maior se lembrarmos que, ao longo de todo o século 19, a China havia sido uma área sob a total influência das potências capitalistas.

Leve distensão

Por outro lado, após um momento de grave tensão, nos primeiros anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra, o quadro de enfrentamento tendeu a refluir, ao menos temporariamente. É uma característica desse período a oscilação entre momentos de tensão e de distensão, nos quais a sensação de iminência de uma guerra de grandes proporções era seguida por um processo de entendimentos e de tentativa de refrear a corrida armamentista.

Alguns elementos contribuíram para essa ligeira distensão a partir de 1953. Em primeiro lugar, a atitude de países europeus que se posicionavam contra sua condição de meros satélites da política externa dos EUA reduziu a influência norte-americana na região. A ruptura entre os governos da URSS e da China comunista, a partir de 1959, neutralizou o monolitismo do socialismo em todo o mundo, criando uma nova referência poderosa, que fugia à polarização entre EUA e URSS.

Também contribui para isso a morte de Stalin e o quadro político que se abriu na URSS. Após um período de disputa pelo poder entre Laurenti Béria, Georgu Malenkov e Nikita Kruschev , esse último, consolidando-se no poder a partir de 1955, iniciou um processo conhecido como desestalinização. Essa postura, alardeada no 20º Congresso do Partido Comunista da URSS, em 1956, criticava o culto à personalidade de Stalin, denunciava seus crimes de perseguição política, prisões e execuções em massa e apontava na direção da descentralização política e da melhoria das condições de vida da população soviética.

Nos EUA, o fim do governo Truman e a eleição de Dwight D. Eisenhower para a presidência contribuíram para o refluxo do macarthismo e uma redução do clima de histeria anticomunista.

Esses elementos tornaram possível uma redução do clima de tensão internacional, abrindo espaço para a fase da chamada Coexistência Pacífica, caracterizada por uma série de reuniões de cúpula entre dirigentes das duas superpotências, resultando nos primeiros entendimentos para a limitação de armamentos.

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