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Velho Oeste - Jesse James, Billy the Kid e a novela Bang Bang

Túlio Vilela

A telenovela "Bang Bang" exibida pela Rede Globo entre 2005 e 2006 pode ser uma divertida paródia aos filmes de faroeste. Entretanto, ela tem muito pouco em comum com a realidade da época e da região em que a história se passa.

Muitas das piadas que aparecem na novela são inspiradas na realidade brasileira atual e não no passado norte-americano.

Exemplo disso é o fato de o xerife Gogol baixar medidas provisórias a todo instante e de montar uma verdadeira indústria das multas para arrancar dinheiro dos cidadãos. Qualquer semelhança com políticos brasileiros não é mera coincidência...

  • Fernanda Lima vive o papel de Diana Bullock

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Além disso, vários dos nomes usados na novela fazem referência a personalidades sem relação com o oeste norte-americano. Entre os exemplos estão o próprio Gogol, uma homenagem ao escritor russo Nicolau Gogol (1809-1852), e as várias referências aos Beatles, o famoso conjunto de rock inglês que agitou o mundo na década de 1960.

O nome da mocinha Penny Lane, foi inspirado no título de uma canção dos Beatles, que por sua vez, também é o nome de uma rua de Liverpool, a cidade dos Beatles; a diligência com o nome de Yellow Submarine (Submarino amarelo), título de outra canção dos Beatles; e Yoko, uma óbvia alusão à Yoko Ono, a viúva do ex-beatle John Lennon, assassinado em 1980.

Com certeza, a fidelidade histórica não foi uma preocupação dos autores da novela. Veja só alguns dos absurdos históricos exibidos na obra:

Jesse James e Billy the Kid

Os verdadeiros Jesse James e Billy the Kid eram criminosos perigosos, que em nada lembravam os bandidos trapalhões interpretados por Kadu Moliterno e Evandro Mesquita.

O verdadeiro Jesse James nasceu em 1847, lutou no Exército Confederado durante a Guerra Civil Norte-Americana (1861- 1865), que dividiu os Estados Unidos, colocando o Norte, que era abolicionista, contra os confederados do Sul, que era escravista.

Após a derrota do Sul, ele e o irmão Frank iniciaram uma longa carreira como assaltantes de bancos, diligências e trens. O pai deles era um fazendeiro proprietário de escravos e pastor numa igreja batista, fato que ajuda a explicar porque os dois bandidos tiveram instrução acima da média: exemplo disso era o fato de o irmão de Jesse ser conhecido por citar trechos da Bíblia e das peças de Shakespeare.

Robin Hood do Oeste

Curiosamente, criou-se em torno da figura de Jesse James o mito de que ele era uma espécie de "Robin Hood do Oeste", que supostamente roubava dos ricos para doar aos pobres. Esse mito foi difundido na época por jornais sensacionalistas, canções populares e um certo tipo de literatura muito popular nos Estados Unidos daquela época: livros baratos que contavam histórias sobre os feitos espetaculares dos fora-da-lei.

Esses livros eram parecidos com os nossos folhetos de cordel do Nordeste. Neles e nas canções, Jesse James era mostrado como um herói que roubava dos poderosos e doava o dinheiro para uma jovem viúva com filhos pequenos, que teve a casa hipotecada pelo banqueiro da cidade (cujo banco era assaltado pelo próprio Jesse).

Na verdade, Jesse James era um homem frio e perigoso, capaz de matar por dinheiro. No entanto, sua vida foi marcada por momentos trágicos. Um deles foi quando, durante a sua ausência, sua casa foi bombardeada por homens que trabalhavam para a agência de detetives dos irmãos Pinkerton: a explosão feriu gravemente a mãe de Jesse e matou um de seus irmãos, que era adotivo.

O outro foi o próprio assassinato de Jesse James em 1882: num dos raros momentos em que estava desarmado, Jesse recebeu um tiro nas costas enquanto arrumava um quadro que estava pendurado na parede. O assassino era um dos membros da quadrilha que o traiu em troca do dinheiro da recompensa oferecida pelas autoridades para quem entregasse Jesse James vivo ou morto.

Uma morte por ano

Quanto a Billy the Kid, seu verdadeiro nome era Henry McCarty, embora também seja conhecido pelo nome William Bonney, que usava para ocultar sua verdadeira identidade. O apelido Billy the Kid ("Billy, o garoto") era uma referência ao fato de o criminoso ter iniciado sua carreira antes mesmo de completar dezoito anos de idade.

Em sua curta mas intensa carreira, Billy the Kid ganhou a fama de ter matado um homem para cada ano de vida seu, ou seja, vinte e um. Estima-se que ele tenha matado menos. O mais provável é que tenha sido responsável por nove assassinatos, um número ainda impressionante: quatro teriam sido cometidos sozinho e cinco teriam sido cometidos com a ajuda de terceiros.

  • Billy, the Kid

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acredita-se que ele tenha entrado no mundo do crime por causa do assassinato de seu bem-feitor, John Tunstall,um imigrante inglês proprietário de um rancho. Tunstall foi morto por causa de uma disputa de terras. O fato teria provocado um forte sentimento de vingança no jovem Billy que acabou se envolvendo em roubo de gado, assassinato e numa fuga de prisão, na qual ele teria matado dois delegados.

Em 1881, o xerife Pat Garett matou Billy the Kid com dois tiros disparado no escuro, quando o jovem criminoso estava escondido na casa de um amigo. Alguns historiadores contestam essa versão, afirmando que Billy teria conseguido fugir e assumido uma nova identidade.

Belas prostitutas

Na vida real, a maioria das prostitutas que trabalhavam nos saloons estava longe de ter o padrão de beleza das atrizes globais. Na verdade, eram mulheres que viviam em condições miseráveis. Costumavam ser alcoólatras, pois procuravam refúgio na bebida da mesma forma como hoje muitas prostitutas tornam-se viciadas em drogas. Além disso, enfrentavam problemas como clientes violentos, péssimas condições de higiene e doenças sexualmente transmissíveis, especialmente a sífilis, que era uma epidemia na época.

Racismo para valer

Na novela, as poucas personagens negras convivem sem problemas com a maioria dos brancos: frequentam as mesmas festas e lugares e num dos capítulos, uma cena de baile mostrou um negro e uma branca dançando juntos.

Naquela época, o racismo contra as pessoas negras nos Estados Unidos era ainda mais acirrado do que é hoje. Se um negro fosse visto dançando com uma branca, ele seria provavelmente linchado e a mulher receberia o desprezo da comunidade.

A Guerra Civil Norte-Americana trouxe um fim para a escravidão, mas não conseguiu acabar com o racismo. Pelo contrário, o ódio e o ressentimento em relação aos negros aumentaram. De um lado, os brancos do Sul descontaram as frustrações da derrota nos negros, que muitas vezes eram vítimas de linchamentos. Foi nesse período que surgiu no Sul a organização racista conhecida como Ku Klux Klan. Do outro lado, alguns brancos do Norte, que era abolicionista e saiu vitorioso da guerra, também guardavam ressentimento em relação aos negros: na visão deles, os negros eram uns "ingratos", por cuja liberdade eles lutaram numa guerra que colocou "irmãos contra irmãos", isto é, brancos contra brancos.

O que essa visão distorcida ignorava era o fato de que soldados negros também sacrificaram suas vidas na guerra.

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