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Práticas de linguagem - Uso da língua em situações de interação social

Celina Bruniera, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Uma vez, uma aluna perguntou o que havia de errado em "do you want that I go?" Do ponto de vista sintático, não há erros na construção. No entanto, quando se quer dizer em inglês "você quer que eu vá?", dizemos "do you want me to go?".

Observe que a forma a que a aluna se referia é uma construção típica da língua portuguesa. Como a aluna tem algum domínio do inglês, ela foi capaz de usar palavras e expressões para compor um enunciado correto, mas que não é comum entre os falantes da língua inglesa.

Isso quer dizer que conhecer palavras e expressões em inglês (ou em qualquer outra língua) não significa se aproximar do uso efetivo dessa língua, sobretudo do uso feito pelos povos que a têm como língua materna.

Uso social
Ao lermos ou produzirmos um texto (seja em língua materna ou em língua estrangeira) é importante considerar que o texto lido, escrito ou elaborado oralmente está ancorado em práticas de linguagem historicamente construídas. Ou seja, em situações de interação social em que as pessoas fazem um determinado uso da língua.

Ao longo de nossas vidas, presenciamos interações sociais ou interagimos em diversas situações em que a linguagem se caracteriza como elemento mediador. Aprendemos que em cada situação particular devemos buscar uma adequação do discurso e que, portanto, o uso que fazemos da linguagem é mediado pelas relações sociais.

O caráter social das práticas de linguagem revela que estas estão em constante reelaboração, na medida em que os homens reatribuem sentido a práticas de linguagem aprendidas ao longo de sua história e na medida em que o modo como os homens produzem suas próprias vidas também se modifica no decorrer do tempo, aportando novos veículos de comunicação, novos gêneros textuais ou novas modalidades de textos de gêneros já conhecidos.

A língua de hoje
É por isso que não falamos mais o português falado no início do século passado. É por isso que uma pessoa que fizesse uso da língua portuguesa hoje como esta era usada por volta de 1930, teria alguma dificuldade para estabelecer a interlocução. Seria, mais ou menos, como se ela estivesse se comunicando por meio de uma língua estrangeira.

Veja que a adequação linguística depende não apenas do uso gramaticalmente correto da língua, mas de como as pessoas fazem uso dessa língua nas diversas situações de produção discursiva. A reflexão a respeito desse uso é fundamental quando aprendemos inglês. Por isso, a necessidade de entrarmos em contato com textos originais, sejam eles orais ou escritos. Através deles nos aproximamos do uso que as pessoas fazem dessa língua.

Gêneros textuais
Nas situações de produção discursiva, os gêneros textuais se constituem em um elemento significativo, já que as práticas de linguagem se materializam num gênero determinado. A partir de um gênero e de suas características, podemos nos aproximar dos conteúdos veiculados por ele, conhecer a estrutura comunicativa do texto em questão, buscar regularidades em relação a outros textos de um mesmo gênero e reconhecer traços da posição enunciativa do seu autor.

Em síntese, não é possível falar em práticas de linguagem sem uma análise sistemática e aprofundada dos gêneros textuais. E é por esse motivo que ler e produzir textos (orais e escritos) se constituem em atividades riquíssimas para a ampliação do conhecimento de uma língua, sobretudo de uma língua estrangeira. Isso porque os textos não revelam apenas a língua que se fala ou que se escreve, mas o contexto histórico, social e cultural em que determinadas práticas de linguagem têm origem ou se dão. Pense nisso quando estiver estudando inglês.