Confira a relação entre - "Capitães da Areia" e "Vidas Secas"
Nelson Dutra, professor de literatura do curso e colégio Objetivo
Jorge Amado e Graciliano Ramos enquadram-se na Segunda Geração Modernista (1930-1945), na prosa neorrealista regional. Em ambos os romances, criticam-se as sub condições de vida.
“Capitães da Areia” (1937), de Jorge Amado, denuncia a marginalização do menor, vítima da sociedade capitalista, que causa a desestruturação familiar.
Em “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, denuncia-se a ampla e infinita miséria de uma família de sertanejos. Embora a temática social esteja presente em ambos os livros, há grande diferença no encaminhamento do tema.
Em “Vidas Secas” a agonia das personagens é cíclica, não há redenção. A fuga da seca e a da extrema miséria ocorre tanto no primeiro capítulo, Mudança, como no último, Fuga. Isso indica que a vida de Fabiano e a da família obedecem a um eterno ciclo de nomadismo, com breves interrupções, sem romper as duras condições da marginalidade socioeconômica e cultural.
Em “Capitães da Areia”, a maioria do grupo de menores marginalizados ganha, na última parte da narrativa, a consciência política. Essa nova visão da realidade decorre principalmente do discurso e da intervenção de João de Adão, trabalhador do porto e ativista político. A partir dessa conscientização, a atitude dos Capitães passa a ser revolucionária. A ação do grupo tem como objetivo a transformação da estrutura social. Evoluiu da alienação, dos pequenos crimes para a luta política. É uma brigada do Partido Comunista.
Jorge Amado é francamente doutrinário e engajado, propõe como solução para os problemas sociais, a implantação de um socialismo nos moldes daquele dos anos 30.
Não esqueça que esse romance foi publicado dois anos após a Intentona Comunista (1935) e que foi apreendido e queimado logo após a implantação do Estado Novo getulista (1937-1945).
Essa solução redentora não aparece em Vidas Secas. Não há no desfecho narrativo solução para o grave problema da exclusão socioeconômica e cultural. Os retirantes continuam a viver sob as mais ásperas condições, nutrem uma frágil esperança que, na opinião do narrador, não se concretizará.