Mim e eu - Veja as diferenças de uso
Jorge Viana de Moraes, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Atualizado em 16/07/2013, às 13h17
As gramáticas da língua portuguesa sempre recomendam que as formas oblíquas tônicas dos pronomes pessoais sejam regidas de preposição. Esses pronomes são: mim, ti, ele, ela, si, você, nós, vós, eles, elas, si, vocês. Assim:
Diferentes posições de um mesmo gramático
Até aqui parece não haver problemas. Todavia, existe verdadeira confusão em relação ao uso correto (padrão) do pronome pessoal do caso oblíquo tônico "mim" e o pronome pessoal do caso reto "eu". A dificuldade aparece em frases como esta:
a) "No jantar, Lili ficou entre mim e ele, o padrinho, e, coisa incrível, deu-me mais atenção que a ele." ( apud Celso Cunha, 1975, p. 298).
As gramáticas condenariam, por exemplo, o uso de "Lili ficou entre eu e ele...", porque "entre" é uma preposição e exige, como já ressaltado, o pronome na forma oblíqua tônica "mim", e não a forma pessoal do caso reto "eu".
Existe outra confusão, quando há casos como os seguintes:
b) João fez de tudo para eu falar.
c) Não façam nada sem eu saber.
Nesses casos, temos a forma reta depois de uma preposição. Não parece estranha? Parece que os exemplos "b" e "c" contradizem o exemplo "a". Na verdade, não existe contradição, porque as gramáticas dizem que se usam as formas retas, mesmo depois de uma preposição, quando o pronome for sujeito de um verbo infinitivo que vier a seguir. Para ter certeza, façamos o teste. É como se disséssemos:
b.1) João fez de tudo para que eu falasse.
c.1) Não façam nada sem que eu saiba.
A Gramática da Língua Portuguesa, de Celso Cunha (1972, p. 296), condenava o uso de "mim" como forma oblíqua ao sujeito do verbo infinitivo. Assim prescrevia o gramático:
"Cumpre evitar-se uma incorreção muito generalizada, que consiste em dar forma oblíqua ao sujeito do verbo infinitivo. Diga-se:
- Venham a mim.
- Venham a nós.
- Minha filha precisa de mim.
- Ela só pensa em si (mesma).
- Tudo já foi dito a vocês.
- O meu ódio a ela crescia dia a dia.
- Aquela não é tarefa para eu realizar.
e não:
- Aquela não é tarefa para mim realizar."
Nesta ocasião, Celso Cunha condenava de viciosa tal construção, e dizia que não devíamos confundi-la com outra, segundo ele, "em tudo legítima":
- Aquela não é tarefa para mim.
Já, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, de 1985, escrita em parceria com o filólogo e linguista português Lindley Cintra, Celso Cunha (que também era filólogo e linguista), ao tratar do mesmo assunto, o faz com uma verdadeira mudança de postura. Diríamos mais inovadora (embora Celso Cunha ainda reconheça que seja uma forma condenada por gramáticos e professores). Vejamos seu comentário a respeito do mesmo uso, outrora enfaticamente condenado:
"Do cruzamento das duas construções perfeitamente corretas:
- Isto não é trabalho para eu fazer
e
- Isto não é trabalho para mim,
surgiu uma terceira:
- Isto não é trabalho para mim fazer,
em que o sujeito do verbo no infinitivo assume a forma oblíqua.
A construção parece ser desconhecida em Portugal, mas no Brasil ela está muito generalizada na língua familiar, apesar do sistemático combate que lhe movem os gramáticos e professores do idioma". (p. 290)
Como se vê, o gramático ressalta que esta última forma está generalizada na língua familiar, isto é, aquela mais solta, descomprometida, usada normalmente em situações coloquiais.
Diante disso, fiquemos mais atentos quanto ao uso formal, culto e, sobretudo, na modalidade escrita, lugares e situações em que nos é cobrado tal conhecimento.