Quincas Borba - Romance ironiza a luta pela sobrevivência na sociedade
Em "Quincas Borba", Machado de Assis deixa de lado a liberdade formal que havia empregado em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", seu romance anterior e marco do início do Realismo no Brasil. Desta vez, ele optou por narrar os fatos em terceira pessoa, isto é o narrador não participa daquilo que narra. Ao contrário, mantém-se distante, apenas observando o que acontece. É como o diretor de um filme de cinema, que não mostra ao longo das cenas.
De qualquer modo, há uma pequena relação entre "Quincas Borba" e o romance que o precedeu: o humanitismo, filosofia com a qual Quincas Borba, personagens das "memórias Póstumas", tenta incutir, antes de morrer, em seu enfermeiro Rubião, na cidade de Barbacena (MG), para onde se mudou. Professor primário provinciano e enfermeiro do rico filósofo, Rubião torna-se seu herdeiro e parte para a Corte, no Rio de Janeiro para usufruir da vida.
Ironia das relações humanas
No entanto, sendo o humanitismo "uma ironia das relações humanas", como ensina o crítico literário Ivan Teixeira, "ele acompanha o ingênuo profesor de Barbacena por toda a sua aventura na corte, sem que este perceba que está ilustrando, como vítima, o pressuposto básico daquela teoria". Mas vamos ao enredo propriamente dito.
Pedro Rubião de Alvarenga tornou-se, em Barbacena, enfermeiro e discípulo do filósofo Quincas Borba, que vem a falecer no Rio, na casa de Brás Cubas. Rubião é feito herdeiro universal do filósofo, com a condição de cuidar de seu cachorro, que também se chama Quincas Borba.
Cristiano, Sofia e outros oportunistas
Na viagem para o Rio de Janeiro, Rubião conhece o capitalista Cristiano de Almeida Palha com a sua esposa Sofia. Sendo um homem extremamente ingênuo, Rubião vai deixar-se guiar pelo casal na Corte. Instala-se num palacete e passa a frequentar a casa de Cristiano. Logo, apaixona-se por Sofia que lhe dirigia olhares e delicadezas insinuantes.
Após prestar muitos favores (inclusive financeiros) ao casal, Rubião declara seu amor por Sofia, que, apesar de tê-lo implicitamente seduzido, o recusa e se queixa ao marido. Mas Cristiano não rompe com Rubião, pois pretende lhe tomar o resto da fortuna. Sofia, que até então era usada pelo marido como isca, passa daí por diante a exercer conscientemente esse papel.
Ao mesmo tempo, outros oportunistas, como o advogado e falso jornalista Camacho contribuem para o empobrecimento absoluto de Rubião, enquanto o amor por Sofia o leva, gradualmente, à loucura. Abandonado por todos que dele se aproveitaram, o herederio retorna para Barbacena com o cão Quincas Borba, tudo que lhe restara da aventura no Rio.
A sobrevivência do mais forte
Depois de passar fome e frio, morre em casa da comadre Angélica, coroando-se Napoleão 3º e pronunciando a máxima do filósofo Quicas Borba, que só agora consegue entender: "ao vencedor, as batatas". A máxima traduz a ideia da sobrevivência do mais forte, que Rubião só consegue compreender ao chegar ao limite da fraqueza.
Com ela, Machado de Assis aplica a lei da seleção natural - na época recém formulada por Darwin - às relações sociais. Na sociedade, assim como na natureza, a luta pela sobrevivência é voraz. Note-se que o narrador de Machado, porém, é solidário à vítima do processo, que procura denunciar.
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