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Sentimento do mundo - Poeta canta o desespero de um mundo em guerra, certo de que o homem pode mudar

Oscar d'Ambrosio* , Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Poeta, contista e cronista, Carlos Drummond de Andrade (Itabira, MG, 1902 - Rio de Janeiro, 1987) é um dos mais importantes escritores brasileiros. Publicado em 1940, Sentimento do mundo é um dos marcos em sua carreira pelo número de poemas de qualidade que reúne e por ser, em diversos aspectos, o retrato de uma época.

O livro, terceiro do poeta, traz 28 poemas produzidos entre 1935 e 1940. Os principais elementos em comum são o olhar crítico sobre a realidade circundante e um tom marcadamente político. O livro precisa ser contextualizado num período entre a 1a. (1914-18) e a 2a. Guerra Mundial (1939-1945), dominado pelo pessimismo.

O grande tema é uma experiência coletiva trágica da humanidade. Há uma necessidade de solidariedade social num momento em que predomina a capacidade da arte, por exemplo, de contribuir para uma sociedade mais justa e equilibrada em todos os seus traços.

O sentimento do poeta é de que a liberdade é essencial para a convivência harmoniosa entre as pessoas, terminando com qualquer tipo de preconceitos. O egoísmo, que teria sido fundamental na escolha dos caminhos dos combates armados, precisaria ceder espaço a novos valores.

A arte passa a ser vista como uma atividade conectada com o mundo e não como uma ação sem interação social. No lugar de uma espécie de válvula de escape de uma sociedade que lhe é adversa, os versos passariam a ter um papel determinante na comunicação entre as pessoas para defender ideias.

Existe a convicção de que os indivíduos podem mudar o mundo, mas não se pode confundir isso com excesso de otimismo. A revolução, a utopia, o amor e a comunhão entre todos encontram resistência no pessimismo de muitos e em valores arraigados baseados no egocentrismo.

Sofrimento e dor pela busca de um mundo ideal que não existe, aliados à esperança de que isso aconteça, dão o tom ao conjunto de textos. Nesse sentido, o futuro é apontado como uma possibilidade constante de redenção para um presente ainda conturbado.

Solidão e fragilidade são assuntos muito presentes nas páginas do livro. Há então críticas à burguesia e a um raciocínio regido por valores monetários. Nesse aspecto crítico, Drummond aproxima-se de Oswald de Andrade não tanto na forma, mas na maneira de conceber a sociedade capitalista como algo vazio de conteúdo.

Certos poemas merecem leitura atenta. “Menino chorando na noite” adota a criança como símbolo da vida; “Morro da Babilônia” apresenta o espaço da favela como uma mistura de horror e ternura; e “Congresso internacional do medo” coloca esse sentimento como dominador (“Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo que esteriliza os abraços...”).

“Brinde no juízo final”, que homenageia os poetas populares contra os acadêmicos e defende que a poesia é feita tanto de assuntos e vocábulos nobres, como de palavras e fatos e reflexões cotidianos; e “Privilégio do mar”, ao alertar que aqueles, como ele mesmo, que, não atingidos pela miséria social, não se mobilizam e permanecem privilegiados e encastelados em suas moradias burguesas, são outros poemas importantes de um livro paradigmático na literatura brasileira do século XX.

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