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Incêndio na USP de Ribeirão destrói parte do único banco genético de árvores nativas do país

José Bonato<br>Especial para o UOL Educação

Em Ribeirão Preto

17/08/2011 12h54

Pelo menos 30 dos 40 hectares do único banco genético de árvores nativas do Brasil foram destruídos na tarde desta terça-feira (16) num incêndio que atingiu o campus da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo). A reserva florestal queimada tem 45 espécies de árvores da mata Atlântica no interior de São Paulo -entre elas, ipês, jequitibás, angicos e jatobás, entre outras.

As causas do incêndio ainda são desconhecidas. O uso de fogo é comum no interior de São Paulo e se intensifica neste período do ano. “Nunca vi a prefeitura fazer uma campanha contra incêndios urbanos”, diz Elenice Mouro Varanda, professora e pesquisadora do Centro de Estudos e Extensão Florestal da USP. A assessoria de imprensa da prefeitura não respondeu à crítica.

Para apagar o fogo na mata da USP, foram necessárias cinco horas de trabalho do Corpo de Bombeiros e funcionários do campus. Usinas de cana-de-açúcar e a prefeitura também cederam caminhões para debelar o fogo. Mas o vento fez as chamas se propagarem rapidamente.

A reserva queimada fica próxima a outra floresta de 30 hectares, recomposta em 1998 e que tem cerca de 80 espécies de árvores. Ela, porém, não foi atingida.

Banco genético

As mudas formadas a partir de sementes do banco genético seriam utilizadas na recomposição de matas nativas nos municípios da região de Ribeirão Preto, devastadas pelo plantio da cana-de-açúcar. Além das árvores que foram atingidas pelo fogo, muitos animais também morreram queimados.

“Vamos esperar a chuva para ter uma dimensão exata do prejuízo. Mas é muito provável que a maioria das árvores não rebrote”, afirma Elenice.

As árvores na mata atingida pelo incêndio foram plantadas a partir de sementes coletadas de fragmentos de florestas ainda existentes nas bacias dos rios Pardo e Mogi, segundo Elenice. A intenção, diz, foi formar um banco com a maior variedade genética de espécies possível, para evitar a predominância, na formação de novas matas, de plantas de uma única matriz.

A pesquisadora afirma que, devido ao fogo, será feita uma nova coleta de sementes nos mesmos fragmentos florestais, com o objetivo de reparar os estragos. “Vamos fazer isso imediatamente”, disse. Na região de Ribeirão Preto, existem apenas 11% de matas nativas, muito abaixo do mínimo de 20% considerado ideal por pesquisadores. No município de Ribeirão Preto, a situação é ainda pior. As matas nativas representam somente 5% do bioma existente.