Professores viajam até 5.000 km, vão a aeroporto de óvnis e ensinam à luz de velas em cursos de EAD
“Viajei de São Paulo até Belém de avião comercial. De lá, peguei um avião pequeno, daqueles de hélice, até Oriximiná (PA) [a 818 km da capital do Pará]. Foram mais duas horas de voo”. O relato é do professor Julio de Carvalho, 47, que encarou 3.600 km para ministrar a aula de abertura do curso de MBA a distância organizado especialmente para executivos de uma mineradora brasileira, em outubro de 2011.
MAIS SOBRE ORIXIMINÁ
- Oriximiná vive da mineração e abriga uma das maiores reservas de bauxita, minério do qual se extrai o alumínio. Grande parte da produção tem como destino a exportação. Hoje o Brasil é o sexto maior produtor mundial de alumínio primário, precedido pela China, Rússia, Canadá, Estados Unidos e Austrália.
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Carvalho conta que o avião pequeno pousou e decolou três vezes. “Era como um ônibus. Parava toda hora. Tinha umas 40 pessoas e não podia levar bagagem grande.” Aventuras como essa são vividas por professores das escolas de negócios que oferecem cursos de MBA a distância para grupos fechados de empresas que querem formar seus funcionários e colaboradores – os chamados cursos “in company”. Normalmente, mesmo em cursos a distância, as escolas promovem algumas aulas presenciais para aproximação de docentes e alunos.
Foi o caso também da professora Jane Bernardo, 53, que viajou do Rio de Janeiro até Barra do Garças (MT), cidade de 56 mil habitantes, a 500 km da capital, Cuiabá. Sua missão era dar aulas de jogos de negócios em um curso de MBA contratado por um banco. “O perfil dos estudantes era de economistas, engenheiros, administradores, todos bancários. Tratava-se de um curso para formar futuros líderes”.
Jane pegou o avião do Rio para São Paulo e, então, para Cuiabá. “Disseram que a capital era a última oportunidade para comer alguma coisa antes de chegar ao nosso destino”. De lá, a professora viajou por mais seis horas de carro.
Barra do Garças é conhecida por ter um espaço reservado para um discoporto – isso mesmo, um aeroporto de disco voador –, em uma reserva de cinco hectares na serra Azul, demarcada por lei municipal de 1995. “O local era um hotel à beira do rio Araguaia, aonde as pessoas iam se banhar à noite. É como se fosse a praia.”
Jane conta ainda que, após o término da aula, os estudantes aproveitaram o tempo para apresentar a cidade à visitante. “Tive a oportunidade de conhecer um povo novo, uma cultura nova. Levaram-me também a um parque temático de águas quentes”, lembra.
Confira as rotas dos professores nos cursos de EAD
Matemática à meia luz
À luz de velas. Assim foi a primeira aula presencial de economia matemática 1, ministrada pelo professor Jaylson Silveira, 40, para uma turma da graduação de ciências econômicas, em Tio Hugo (RS). O município tem um dos polos do curso a distância oferecido pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), na Universidade Aberta do Brasil (UAB). No curso há um mínimo de quatro horas presenciais por disciplina.
Havia cerca de 20 estudantes assistindo à aula quando faltou energia elétrica. “Foi uma breve falta de luz na cidade, coisa de 30 minutos. Os alunos ficaram meio nervosos com a situação, mas o tutor trouxe umas velas, e a aula seguiu mesmo sem luz”. O tutor, Renato Teichmann, confirma: “Sabes que um bom gaúcho nunca deixa mal a sua visita! A única coisa que não fizemos para não parar a aula foi um fogo de chão”, brinca.
Para chegar a Tio Hugo, o docente percorreu 548 km em seis horas de viagem de carro – um décimo do trajeto para lecionar para os alunos de sua turma de Boa Vista, capital de Roraima, a 5.108 km de Florianópolis. “Os estudantes dos cursos de EAD nos dão muito mais atenção. A relação dos alunos do curso presencial, que é semanal, é menos intensa e mais fria. Além disso, o contato virtual fica melhor depois do contato pessoal”, diz Silveira. “É curioso que eles olham como se me conhecessem de longa data, como se não fosse a primeira vez que estavam me vendo.”
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